A quem interessar possa, faz um mês que vim para essa "realidade", como Ana e eu decidimos chamar.
A gente ainda não sabe o que aconteceu, mesmo com todas as memórias sobre a minha jornada, como eu vim parar aqui é um mistério pra mim.
Tive que dar um jeito, como sempre fiz, pra me virar por aqui. Tentar me situar. Não é muito diferente do meu mundo, tem celulares, música, delinquência.
Foi meio complicado criar uma história para explicar a minha aparição. Quem era eu?
Ana decidiu manter o mesmo nome, Ken e me fazer adotar o sobrenome dela, Ryuki, o que foi mais uma coincidência dentre tantas. Ryuguji. Ryuki. Às vezes fico pensando como o destino concebeu um absurdo desses.
Como eu não tinha documentação, Ana achou melhor que eu alegasse a perda dos meus documentos, para conseguir uma segunda via. Ela informou os nomes dos pais dela, falecidos, então em tese funcionou, não havia ninguém pra desmascarar o nosso arranjo.
Eu percebi que ela era muito sozinha, como se tivesse se isolado, trabalhava com questões patrimoniais do Japão, devido a sua profissão de historiadora e livros eram tudo pra ela, tinha uns colegas aqui ou ali, que ficaram surpresos com a menção a um "irmão", mas nada que causasse transtornos.
Para todos os efeitos, o "nosso pai" se relacionou com outra pessoa, antes de conhecer a mãe de Ana e aqui estou eu. A semelhança física ajudava um pouco, os cabelos eram loiros, os olhos dela cor de mel e os meus em castanho mais escuro, o rosto fino e marcado, o sorriso de covinhas. Enfim, todos compraram a história. De início estava preocupado, afinal minha "vida" estava em circulação por aí, mas Ana me garantiu que a "semelhança com o personagem" era facilmente justificável, porque neste mundo havia uma coisa chamada cosplay. Pelo que eu entendi, são pessoas que se fantasiam de personagens ficcionais, principalmente quando apresentam semelhanças físicas, ela me mostrou alguns exemplos.
Sobre esse mês, parece que aconteceram muitas coisas, é muita informação pra minha cabeça às vezes, mas estou me acostumando.
Descobri um aplicativo chamado Ifood. Tive que atualizar meus conhecimentos sobre o tempo atual, para justificar a minha idade e não estranharem a falta de afinidade sobre coisas de senso comum, nisso Ana me ajudou.
Uber. Ifood. Smartphones. Novos kanjis. Geopolítica.
Com o auxílio dela, não pareço tão deslocado e consigo realizar coisas cotidianas, que não apresentam diferenças de onde eu vim.
Sobre a nossa relação, ela tem uma personalidade muito forte e é temperamental, também esconde alguns segredos e dores, por ser uma pessoa reservada. Ela me lembra o Mikey. E não é só isso, tem algo nela que me inspira proteção, mesmo que eu seja mais novo, ou não. Estamos confusos sobre essa parte.
Na minha "história", nasci na década de 90, o que é verdade. Morri em 2008, com 17 anos.
Já é 2022, ou seja, 14 anos se passaram. Eu teria 31 anos. Ou 17 anos.
Como Ana tem 24, decidimos pôr 26 anos, pelo fato da minha aparência sustentar essa idade.
É perturbador, porque me sinto num limbo, 10 anos foram roubados de mim, 10 anos não vividos, ao mesmo tempo em que tenho uma chance real de viver a partir dos meus 17, o ano em que eu morri. É um recomeço.
O problema dele é que envolve uma vida sem as pessoas que eu mais amo, o que é difícil de lidar. Eu só tenho memórias deles.
Há um tempo atrás tomei coragem para ler toda a minha história, para saber como a vida terminou para eles. Foi aí que eu pensei em desistir, ao saber que Mitsuya também tinha falecido.
Shinichiro. Baji. Emma. Mitsuya. Eu preciso me manter forte por essa loucura que aconteceu, em nome deles, que estarão sempre comigo.- KEN-CHINNNNNN - ouvi a voz de Ana.
Massageei as têmporas.
- Não grita, pirralha, não sou surdo.
- Com um orelhão desse, duvidaria se fosse.
A olhei emburrado, enquanto ela se dobrava de rir.
- Foi mal, foi mal. Vou rir baixo, vai que você escuta. - riu mais.
- Pra uma tampinha você tá bem engraçadinha.
- O que disse? - ela parou de rir na hora.
- Isso aí que você ouviu, vai morder minha canela?Nisso que começamos a discutir, só vi quando estávamos nos batendo. O que era rotina.
- Ai chega, cansei de brincar de lutinha. - ela passou a mão na testa - Vamos até aquela loja de mecânica, perto daquele petshop que eu te falei. Tô sabendo que abriram vaga lá pra faz tudo, tá de boa pra você, né?
Quase deu pra sentir meus olhos brilhando.
- Óbvio, sinto tanta falta de consertar motos... E de pilotar a minha...
Ana pôs a mão nas minhas costas.
- Você vai conseguir, Ken, é questão de tempo. Vem, vou contigo até lá.Pegamos o metrô em direção a loja que Ana conhecia, o gerente fez umas perguntas sobre conhecimentos mecânicos e perguntou sobre minhas habilidades, no final, até que ele gostou de mim. Começo na próxima semana.
Ana começou a dar pulinhos empolgada, falando pra tomarmos um sorvete ao lado do petshop, como forma de comemoração. Apesar dela bancar, eu topei.
Estávamos nos dirigindo até a sorveteria, quando ouvimos o sino do petshop tocar, anunciando a saída de alguém. Qual a minha surpresa quando avisto uma cabeleira preta e uma jaqueta, uma visão extremamente familiar. Até que a pessoa que estava ajeitando a vitrine se vira na nossa direção.
Arregalei os olhos.
- BAJI?
- DRAKEN?
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What If - Ken Ryuguji
FanfictionE se Ken Ryuguji reencarnasse no mundo real? Tokyo Revengers x OC