Capítulo 08 - Entre Dúvidas e Possibilidades

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No decorrer do dia, minha rotina no trabalho transcorreu sem muitos acontecimentos. Enquanto meus afazeres preenchiam as horas, eu aproveitava para enviar currículos a editoras, buscando uma oportunidade que me proporcionasse um cargo mais satisfatório e um salário condizente. Minha esperança se renovou quando recebi um convite para uma entrevista na quinta-feira. A notícia me deixou empolgada e respondi prontamente, aceitando o convite para uma conversa pessoalmente no local. O restante do dia transcorreu com animação, ansiosa pela oportunidade que se apresentava.

Ao fim do dia, após as aulas na faculdade, retornei para a república, buscando um momento de descanso e recuperação. Ao chegar, me deparei com Carol na cozinha, imersa em seus estudos. Ela me viu e, embora estivesse ocupada, pediu de forma desajeitada:

- Oi, Estela. Você tem um cigarro? Poderíamos fumar juntas na varanda do seu quarto? Não quero ir lá fora, porque a Rebecca implicaria com a questão da saúde. E estou muito estressada.

Sorri compreensivamente e concordei:

- Oi para você também Carol. Vou pegar uma água e nos encontramos na varanda do meu quarto.

Percebendo sua frustração, a acompanhei e subimos juntas. A atmosfera foi se tornando mais leve, e eu segurei sua mão, notando um impulso para oferecer conforto. Chegamos à varanda do quarto, onde Carol desabafou:

- Desculpe, Estela. Tive um dia terrível. Estava esperando por você e acabei sendo indelicada.

Segurei sua mão com mais firmeza e a tranquilizei:

- Não precisa se desculpar. Estou aqui para te ouvir.

Fizemos uma pausa para fumar, enquanto trocávamos palavras que ajudavam a diminuir a tensão. Carol estava curiosa sobre meu final de semana, enquanto eu também queria saber sobre o dela. Conversamos sobre nossos momentos, sobre a praia e sobre a estreia da peça de teatro na qual ela estava atuando.

- Fico feliz que tenha se divertido no final de semana. O meu também foi bom, tivemos a estreia de uma peça no teatro Frei Caneca. Não lotou, mas tivemos um público bacana. - Compartilhou Carol.

Eu me mostrei interessada:

- Poxa, que legal. Gostaria de ter ido para te prestigiar.

Carol sugeriu:

- Sem problemas, teremos mais apresentações. Na sexta e no sábado estaremos em cartaz. Que tal ir no sábado?

Refleti um momento:

- Claro, eu vou adorar. Vou chamar as meninas, mesmo que já tenham ido na estreia.

Carol explicou:

- Isso é ótimo, algumas das meninas já foram na estreia mesmo. Vou te mandar um ingresso pelo aplicativo, então. Será um prazer te ver lá. E obrigada pelo cigarro e pela companhia agradável.

Ao terminar de falar, ela tocou de leve uma mecha de cabelo que caía sobre o meu rosto e a afastou, quase tocando meus lábios. Fiquei arrepiada com o toque e senti uma tensão no ar, como se um beijo estivesse prestes a acontecer. No entanto, ela recuou, dizendo:

- Boa noite, Estela. Não posso ficar muito próxima de você.

Sorri, respondendo:

- Boa noite, Carol. Até amanhã.

Depois desse breve encontro, fui tomar um banho, tentando clarear os pensamentos.

Após um banho relaxante, eu me recolhi, buscando um momento de introspecção. Enquanto a água caía sobre meu corpo, deixei que os pensamentos fluíssem, focando na confusão que se instalara em minha mente. Lígia e Carol ocupavam meus pensamentos de maneira intensa. Ponderava sobre os rumos possíveis desse imbróglio, questionando até que ponto eu correspondia ao interesse de Carol e como isso se encaixava na relação que estava cultivando com Lígia.

Com a mente mais clara e o corpo renovado, retornei ao quarto. Sentada na cama, decidi ligar para Lígia, uma voz interna insistia que eu precisava resolver as dúvidas que me assombravam. Ela atendeu, mas sua voz estava diferente, quase sussurrando, o que me fez desconfiar que talvez estivesse perto de alguém.

- Oi, Estela. Tudo bem? - ela falou com uma voz baixa.

- Tudo bem, Lígia. Desculpe se te acordei.

Ela hesitou um pouco:

- Não, não acordou. Estou resolvendo um assunto com a Raquel.

A menção do nome de sua ex trouxe um turbilhão de sentimentos. Minhas suspeitas ganharam força, alimentadas pela voz baixa e pela explicação que parecia um tanto evasiva. Minhas palavras carregaram certo peso:

- Entendo. Se estiver ocupada, podemos falar em outro momento.

Lígia respondeu de forma breve:

- Certo, beijos.

O telefonema se encerrou de maneira abrupta, deixando-me com um misto de sentimentos. Por que ela estaria resolvendo algo com a Raquel? Será que ainda havia algo entre elas? A frieza da conversa me deixou apreensiva, gerando dúvidas sobre o que estava acontecendo nos bastidores. E aquela sensação incômoda de ciúmes voltou a me atormentar. Por que eu estava sentindo ciúmes, mesmo que de uma situação que parecia não ter fundamento? Eu estava sendo irracional?

A mente continuou a girar em um ciclo de perguntas sem respostas claras. Minha inquietação persistia, se misturando aos pensamentos sobre Carol, sobre a proximidade que senti e como meu corpo reagiu ao seu toque quase beijando meus lábios. Por que eu senti aquelas reações? Será que estava de fato aberta a novas experiências?

Essas dúvidas continuaram a me perturbar enquanto eu me aconchegava na cama. O cansaço mental e emocional fez com que eu mergulhasse em um sono profundo, onde os pensamentos turbilhonantes foram substituídos por sonhos confusos, em que Lígia, Carol e minhas próprias incertezas se entrelaçavam em uma trama surreal. O amanhecer trouxe consigo uma sensação de confusão e um dia que prometia mais questionamentos e possibilidades.

Entre Passados e Futuros EntrelaçadosOnde histórias criam vida. Descubra agora