Capítulo Único

1.6K 176 65
                                    

Era um fim de tarde normal, poucas pessoas espalhadas pela comunal enquanto os marotos estavam reunidos consideravelmente perto da lareira depois de uma semana cansativa.

Remus escutava seus amigos conversarem e se pronunciava sobre o assunto algumas vezes, mantendo o rosto enfiado em um livro sobre a Bruxaria Antiga. James bradava repetidamente sobre o quão incrível foi o último jogo enquanto Peter o escutava atentamente e assentia, tomando coragem para falar apenas algumas vezes — mesmo James dando-o total liberdade para tal.

Uma cena comum do cotidiano, se for perguntar, a não ser por algo. Ou alguém, a ausência de alguém.

Depois de uma longa discussão mais cedo, os quatro aceitaram que não tinham os mesmos planos e cada qual seguiu seu rumo. James instalou o drama — algo que era do feitio de Sirius — e disse que aquilo era o destino dizendo que todos se separariam um dia e morreriam em situações trágicas por conta disso — Lupin achou graça, mas não contou a ninguém.

Peter foi se encontrar com alguma lufana e Sirius ficou no dormitório o dia inteiro, fazendo sabe-se lá o que. Remus ficou na sombra de uma árvore, tendo como planos ler pelo resto do dia.

Planos tais que não foram cumpridos, porque James odiava ficar sozinho e decidiu que seu alvo do dia seria o lupino. O dia dos dois resumiu-se basicamente em barras de chocolates derretidas, conversas desconexas e um James deitado no colo de Remus, que muitas das vezes estava perdido em pensamentos sobre um certo alguém de cabelos pretos.

De volta à quando estavam novamente na comunal — três deles, ao menos — jogavam cartas, além de falar superficialmente sobre quadribol.

Eventualmente James fez Remus largar o livro e se concentrar no jogo, pois estava focado em ganhar dessa vez. Lupin tinha um certo talento para jogos, mas naquele momento seus pensamentos estavam distantes demais para focar em qualquer coisa.

Sirius estava estranho, mas Remus parecia ser o único que havia notado. Estava distante, calado e consideravelmente calmo, mas os outros estavam muito despreocupados — ou talvez Remus estivesse interessado demais.

Não havia saído do dormitório por muito tempo, e quando Remus passou por lá depois de voltar, ouviu o barulho de chuveiro. Olhou a cama de Sirius, que parecia simetricamente arrumada. Ele não estava deitado, então? O que fez o dia inteiro?

Olhou sua cama e se surpreendeu quando viu que parecia que um furacão tinha passado por ali. Os cobertores espalhados não condiziam com a arrumação de Remus mais cedo. Era como se alguém houvesse deitado ali.

Estava disperso em seus pensamentos durante o jogo quando sentiu algo macio tocar suas costas. Sentiu seu corpo inteiro se arrepiar e não conseguiu evitar um soluço surpreso.

Soltou as cartas e viu uma figura negra tombar a cabeça para o lado.

Não podia acreditar que Sirius havia feito aquilo, naquela hora, naquele lugar. Varreu os olhos pelo espaço e concluiu que ninguém mais se encontrava ali, a não ser ele e seus amigos.

Remus quis socar o amigo, mas o jeito divertido em que o imenso cão o encarava o fez esquecer do que o havia deixado tão apreensivo.

— Pads? Ficou maluco? — James disse antes que o loiro acastanhado pudesse falar qualquer coisa e Peter reprimiu um gritinho.

Sirius, que agora se aproximava de Remus como uma cobra prestes a dar o bote, não estava dando importância a James que continuava dizendo que aquilo era perigoso. Não é como se Sirius nunca tivesse feito aquilo antes, mas continuava sendo arriscado.

O cão aproveitou que Lupin estava sentado sobre o tapete e pulou em cima do mesmo, o deixando deitado e lambendo seu rosto.

— Six! — Remus repreendeu — Sirius! Pare! — falava em meio a risadas, tentando inutilmente empurrá-lo dali.

Sirius, como um bom cão obediente, ficou sentado sobre o peitoral de Remus com a língua para fora. Remus abriu os olhos grudentos por baba de cachorro e viu um olhar brilhante acinzentado o encarando.

— Onde estava? — o cachorro latiu e Remus tampou sua boca, sentindo seus dedos serem levemente mordidos como um brinquedo — Ai! — fingiu dor e Padfoot soltou seus dedos, choramingando e se aninhando ao peito do amigo.

— Caramba, Padfoot, chegou bem na hora do jogo! Saia de cima de Moony, tenho que ver a cara dele quando eu o derrotar — James disse vitorioso e a figura preta saiu de cima do lupino, aninhando-se agora ao seu lado.

James começou um assunto sobre jogos ilegais e Remus esforçou-se para se manter concentrado. Como podem imaginar, não deu muito certo. Remus podia sentir o cão esfregando a cabeça lentamente em sua coxa coberta pela calça do pijama como se estivesse pedindo interação.

Remus tentou ao máximo evitar direcionar o olhar a Sirius. Estava bravo e confuso com o amigo. Sumiu o dia inteiro e quando apareceu foi em sua forma animaga. Sem contar toda aquela saliva animal por seu rosto, isso sim o deixava bravo.

O cão deitou a cabeça peluda em sua perna e o mais alto não pode evitar passar a mão por ali. Sentiu os pelos macios roçarem por sua mão antes de afundar Sirius em um cafuné profundo.

Remus pôde jurar que ouviu um choramingo satisfeito, mas desviou-se desse pensamento ao ver o amigo alinhar-se mais ao mesmo, de jeito que teve que deixar as pernas encolhidas de lado para que pudesse acomodar a cabeça de Sirius em seu colo.

— Por que sumiu? — perguntou baixo o suficiente para que os outros dois não ouvissem, e teve o silêncio como resposta.

Achou estranho o fato de Sirius agir daquela maneira e não estar agitado como sempre era, principalmente em sua forma animaga.

— Remus! Remus, é a sua vez!

Remus estava perdido em cafunés e cheiros carinhosos no cão, tão perdido que não ouviu James gritar seu nome. Estava muito concentrado em como os olhos de Six se fechavam e como ficava cada vez mais em seu colo e quando finalmente saiu de seus desvaneios, virou o rosto para James.

— Hm? — indagou.

— "Hm?"

— O que havia dito?

— Por que não está prestando atenção?

— Estou prestando atenção.

— Não, não está. Está olhando para Six com cara de "Oh Sirius, você é muito fofo, eu o amo" — James fez uma careta e Remus corou, soltando uma risada logo em seguida — É por isso que ficou aluado o dia inteiro? Com saudade de Pads, hm? — e fez uma cara de eu-sei-tudo-sobre-você.

— Podemos voltar ao jogo? — Remus diz jogando suas cartas.

— O que?! Mas qu- Como? Você ficou brincando com Padfoot por minutos, como pôde ter ganhado?! Eu estava tão perto! Que tipo de feitiço você usa?

Aquela altura Remus não mais escutava as palavras de Prongs, porque estava, novamente, preso aos encantos do de olhos cinzas que agora o encarava. Moony beijou seu focinho e agradeceu mentalmente por Sirius aparentemente não estar interessado em voltar à sua forma humana naquele momento, aquilo seria embaraçoso.

Não ligava para livros, seus estudos, a implicação de James ou suas preocupações anteriores. Todo o seu ser destinava a atenção inteiramente para Sirius e somente para Sirius. Deixou-se dispersar por completo ao repousar sua cabeça em cima da cabeça de Six e fechou os olhos, somente para sentir Sirius.

Não ouviu quando James e Peter subiram para o dormitório. A última visão que teve naquele dia foi de deitar sobre o tapete da comunal e sentir uma figura negra e grande se alinhar sobre seu peito.

> 1244 palavras.
n/a: eu tô doida pra fazer um capítulo bônus dessa fic 😭

distração; wolfstar Onde histórias criam vida. Descubra agora