Era uma manhã gelada de novembro no País das Tulipas e a estação de trem estava mais cheia que o costume, talvez por ser quase época de festas todos decidiram que talvez seria melhor viajar antes que os preços subissem e com certeza era a melhor forma de pensar já que era mesmo isso que acontecia. Como sempre estava perdida em meus pensamentos, por isso quase não ouvi que o trem rumo a Ametown e arredores incluindo meu destino estava prestes a sair, subitamente levantei, peguei minhas coisas e corri, quase deixando cair tudo que carregava, mas consegui chegar ao trem. Quando entrei vi que todas as pessoas estavam encarando, tive um mini surto, infelizmente para mim e para diversão de outros esqueci como se andava, tive que soltar minhas coisas para conseguir segurar em um assento, mas todos com certeza viram o quase-tombo que dei fazendo com que o assistente da locomotiva se aproximasse com um olhar não tão agradável e me dizer que eu tinha de me apressar, pois o trem estava prestes a partir, sorri e peguei minha mala que caiu e fui rápido ao meu lugar sentando ao lado de uma senhora simpática que se apresentou como Marien De Groot seus olhos azuis enormes e curiosos me encaravam enquanto eu arrumava as minhas coisas e me sentava.
— Sou Adelheid mas pode me chamar de Heidi, na verdade, eu prefiro que me chamem assim — eu sorri para ela e ela sorriu de volta e quando eu vi ela já estava me contando o motivo de ir a uma cidade chamada Georgetown, onde seu filho mora para visitar seus netos e passar o mês de dezembro com eles, ela me mostrava fotos de cada um deles, dizendo seus nomes — Raf era o mais velho e trabalhava no hospital da cidade, Anouk estava terminando o Ensino Médio e Gillis era o mais novo que de acordo com ela sonhava em ser astronauta — Ela era uma senhora tão simpática que sem perceber eu já estava contando sobre minha cidade natal que coincidentemente eram 3h de carro de distância da de seu filho, sobre meu trabalho com aviação e meu diploma em marketing, para minha surpresa esboçou um sorriso que me fez perceber que ela sorri muito.
— Para uma jovem de 25 anos você já fez muitas coisas — mas eu não sentia como se tivesse feito muitas coisas, para mim nem cheguei na metade das coisas que quero fazer e acho que ela conseguiu ler meus pensamentos naquele — Olha querida Heidi, fazer muitas coisas não significam que sua vida acabou, mas que já conquistou muito e ainda tem muito para conquistar, pois tem pessoas que podem ter vivido anos e sonhado com tantas coisas, mas não ter feito nada disso e eu sei disso por experiência própria — com essa frase no ar ela decidiu dormir.
Voltar para minha cidade natal era algo que eu nunca pensei fazer depois que meu pai morreu mesmo sendo uma cidade muito boa, todas as recordações que deixei lá eram como um fardo para mim — estava prestes a terminar o Ensino Médio quando o meu pai adoeceu com câncer de pulmão e teve que ficar hospitalizado, pois descobriram o tumor tarde demais, era só eu, ele e minha tia Mia, nunca conheci minha mãe, então minha tia sempre foi uma figura materna para mim. Os meses que lhe restaram de vida foram uma mistura de dor e amor, pois mesmo não aceitando a sua morte eu sempre tentava mostrar que ia ficar bem e que agora ele podia descansar, mas eu só o entendi o motivo de ele se segurar tanto no dia da minha formatura, ele esteve lá e nós divertimos tanto, parece que ele guardou todas as suas forças para aquele dia.
Em seguida fomos jantar em nossa lanchonete favorita, Nikolai's, e ele me mostrou todas as coisas que o fazem se sentir feliz desenhando com seus dedos pela janela.
— Casa, friet met, música, o Sol, ruas iluminadas — e ele desenhou duas bonecas que com certeza representavam a mim e tia Mia — Heidi, seja grata pela beleza que o mundo tem a lhe oferecer, conseguir ver coisas que normalmente não são vistas é algo que nossa família sabe bem, você vem de sonhadores, são nos sonhos que encontramos o que realmente procuramos.
Nessa noite perdi meu pai da forma mais inesperada possível — 2 homens tentaram assaltar a lanchonete e quando meu pai interveio foi atingido sem poder se defender, os homens saíram pelas traseiras e eu corri até meu pai que tentava falar alguma coisa, colocando a mão em meus olhos como se quisesse que eu os fechasse e foi isso que fiz, sentindo sua mão até o momento que ela caiu de meu rosto, ele se foi. Passados alguns meses desde o acontecido pedi para minha tia para morar na capital, Amsterdão e ela logo concordou, mas que não iria, pois não iria conseguir se ver sem morar na cidade.
Quando eu cheguei em Amsterdão a primeira coisa que fiz ditou os 7 anos que vieram e como Marien disse, em comparação com outras pessoas eu já fiz muito nessa vida, mesmo que eu não sinta isso é a verdade, acho que o que importa agora é continuar seguindo as coisas que quero fazer e talvez essa visita para minha antiga cidade, me ilumine sobre isso.
— Olha Heidi, fica com meu número e venha me visitar aqui — disse Marien enquanto arrumava suas coisas, tínhamos chegado em Gergetown e infelizmente minha companheira no trem, Marien ia embora me deixando seguir a viagem de 45 minutos sozinha. O tempo passou tão rápido que nem vi quando chegamos, eu estava tão distraída que fui a última a sair do trem.
Vostown é uma cidade com grandes prédios, casas antigas e praças floridas que exaltam a beleza da cidade principal fundada por Klaus Vos líder dos fundadores dos 5 reinos que foram repartidos entre os principais líderes do país independente dentro da Holanda pós guerra que depois de um acordo de paz se dividiu entre as 5 cidades: Ametown, Gergetown, Cametown, Kaloatown e minha nem tão querida cidade de Vostown.
Entre os vários carros que saíam da estação de trem, estava procurando um táxi que estivesse disponível, quando finalmente achei um, vi que alguém buzinava incessantemente e virei atrás para ver o motivo de tanto barulho, sei que estava em um lugar movimentado, mas sinceramente, aquele barulho me chamou a atenção, vi uma mini van com uma mulher com uma boina tapando seus cabelos pretos e quando ela viu que a notei, saiu do carro, tirou seus óculos escuros e deu um aceno que sempre achei descolado, comecei a rir e meu coração ficou acelerado, pedi enquanto tirava as minhas coisas do táxi, pedi desculpas ao taxista e fui em direção a mulher que mais parecia uma jovem rebelde que canta em uma banda de rock brega, nós sorrindo uma para a outra.
— Heidi, seu esquilo de jardim
— Eu disse que ia pegar um táxi para casa, Tia Heleen — chego dando um abraço a ela
— Mas eu sou tua tia, não me segurei e tive que vir até aqui te buscar, entra no carro esquilo — ela disse essa última parte rindo, peguei minhas coisas e entrei no banco da frente do carro
— Esquilo não tia, já tenho 25 anos, porque continua me chamando assim?
— Não importa se daqui a 25 anos você terá 50, você vai ser meu esquilo para sempre — estávamos num trânsito horrível então seria um belo tempo até chegarmos em casa
— Por que você não veio de avião Heidi? É bem mais prático
— Mas não dá para ver a vista de cada cidade, além disso, conheci uma pessoa bem legal no trem
— Um cara?
— Não, uma idosa
— Pelo amor Heidi, os seus relacionamentos, sua vida sempre se resumem a isso, simpatizar com pessoas velhas
Ela tinha razão, era mais fácil eu ter uma boa conversa com um idoso do que com pessoas da minha idade, por isso que não me prendia a ninguém em relação à amizades ou namoro, para mim sempre foram coisas passageiras, então com o tempo passaram a ser coisas que eu não procurava mais. Para não concordar com ela, apenas dei de ombros. Ao ver que ela já não dizia mais nada, comecei a olhar a vista pela janela, um cenário que não vinha a minha cabeça há muito tempo, não digo que tudo estava mudado, mas que estava estranhamente da mesma forma, os mesmos parques, mesmos postes, mesmas escolas, mesmas pessoas, era como se eu já tivesse visto tudo isso antes. O trânsito tinha melhorado então já estávamos dirigindo livremente, minha tia colocou uma das suas músicas que tinha um trecho que sempre ficava na minha cabeça — Tudo o que você mais queria era me ver sangrar por você, está aqui meu amor, estou morrendo por você, é suficiente? — Me lembra o dia em que ela quase se matou por um namorado, enfim muitas pessoas têm o conceito errado de amar alguém, mas eu sei que no dia que eu amar realmente alguém a calamidade entrará na minha vida.
Estávamos na rua de casa e ver cada detalhe daquele lugar me trazia uma lembrança, cada uma delas com meu pai, senti meu peito apertado e só quando vi a entrada de casa percebi que estava realmente em Vostown, ao sair do carro pude sentir o vento batendo no meu cabelo e Heleen já estava pegando algumas coisas e colocando dentro de casa.
— O bom filho a casa torna, não é Foxtrain?
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A beleza de Foxtown
Misterio / SuspensoDepois de tantos pedidos de sua tia, Adelheid Foxrain decidi voltar para sua cidade natal, Vostown, para uma breve visita e depois de 8 anos coisas que antes não eram vistas por ela e segredos sobre sua família começam a ser revelados de maneiras q...