Eu tinha estudado tanto para conseguir passar no vestibular que assinar o contrato de trancamento de matrícula doeu como o inferno.
Mas eu precisava fazer aquilo.
Não conseguia estudar, trabalhar e cuidar da minha mãe, então um sacrifício tinha que ser feito, essa era a consequência de ter um inútil como o meu pai que não servia nem pra lavar as próprias cuecas. Minha mãe sacrificou muito por mim, era a minha vez de retribuir.
Jongho era meu amigo há anos e sabia bem cada passo que eu dava. Esteve comigo em todas as noites, inclusive quando lhe liguei de madrugada contanto que podia ser bi. Sua alegria era nítida, mas a minha voz era chorosa.
Eu queria tanto, tanto poder viver 1% do que ele vive: sair em festas, ficar com quem quer e assumir namoro praticamente toda semana. O ruivo nunca tem um relacionamento que dure mais de um mês e quem sou para julgar! Queria ter essa liberdade.
Ah, liberdade. Algo que nunca soube o significado na pele e provavelmente, nunca saberia também.
— Consegui! — liguei eufórico para meu único e melhor amigo. — Consegui aquela vaga provisória. Não é lá aquelas coisas, mas seis meses são suficientes para conseguir me manter por enquanto.
— Seria um semestre inteiro...
— Ho, por favor, eu tô feliz, tá? Eu que tranquei e agora vou poder ter mais tempo para minha mãe.
— Eu sei, hyung, eu entendo. Só é uma pena. Poderíamos nos formar juntos.
— Vou ficar feliz sendo convidado de honra da sua formatura.Vinte e quatro anos, mais de dez empregos provisórios e uma moto parcelada até o fim da minha vida, esse era o resumo de quem eu era. Já tinha visto vários ex-colegas se formando e eu mal tinha acabado o segundo semestre quando desisti. Não iria mentir para mim mesmo, as chances de voltar a estudar eram quase nulas, principalmente com o grande apoio que recebi do meu pai, queimando meus livros no dia que consegui a vaga de emprego.
— Puta merda. — disse percebendo a fumaça logo que entrei. — Que porra você pensa que tá fazendo, seu desgraçado? — a imagem dos livros ardendo em chamas era tão dolorida. Tudo aquilo sendo jogado fora...
— Você me mandou limpar o quarto. — debochou.
— Velho inútil! Seu velho desgraçado! — o empurrei contra a parede, mas ele não parecia se abalar. Jogou a fumaça do cigarro na minha cara, me fazendo recuar.
— Você destruiu a minha vida. — foi a última coisa que consegui falar antes de desabar em choro.***
Um rapaz simpático me ajudou no meu primeiro dia. Minha única função ali era pegar os textos sublinhados e reescrevê-los. Simples e prático, felizmente consegui terminar o dia bem.
— Me desculpa, eu sou péssimo com nomes. Como é mesmo o seu?
— Park Seonghwa.
— Muito obrigado, Park Seonghwa. — agradeci organizando os papéis na pasta, pronto para ir embora.
— Você pode me passar seu número? A gente vai se falando por mensagem.Minha moto não era das melhores e não podia exigir nada daquela pobre coitada. A velocidade máxima que atingia ainda era mais lenta que um jabuti. Para chegar no horário, acordava uma hora antes, mas infelizmente não podia sair mais cedo apenas para fazer os caprichos daquele barrigudo maldito.
— Por que demorou tanto hoje?
— Esse é o meu horário de saída, se acostume.
— Eu tenho jogo esse horário, não posso deixar sua mãe sozinha.
— E quer que eu faça o quê, porra? Não posso... — senti o estalar de sua mão no meu rosto, impedindo que continuasse a frase.
— Dá um jeito, você sempre deu. Não vou furar a merda do jogo.Massageei as têmporas, assistindo o velho sair dali com a camisa mal abotoada. Minha mãe não fez a melhor escolha para homens e sentia pena dela em ter um filho como eu. Eu me martirizava sempre que pensasse na possibilidade dela saber.

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SEONGJOONG - Be Free
FanficDois jovens se conhecem no trabalho e acabam criando um relacionamento improvisado. Quando Seonghwa decide oficializar as coisas, Hongjoong se vê divido, pois ainda não se assumiu pra família - e nem pretende. - one shot / hongjoong pov / family is...