Capítulo Único

321 38 115
                                    


Sakusa confere o relógio.

Ele tem um horário marcado para os próximos dez minutos, mas a máquina de café ao lado dele é muito mais convidativa. É uma tentação do diabo, em plena quarta-feira, mas Kiyoomi não luta contra a vontade de pegar um expresso.

Oh, sim. Café é o melhor amigo do homem. O calor abraçou sua garganta e, pela primeira vez no dia, Sakusa sente os músculos com tensão acumulada de antigas jornadas de trabalho.

A máquina está passando mais um café, que não é para Sakusa, e sim para Ushijima.

Ele olha para Sakusa com uma atenção redobrada e amassa a ponta do nariz arrebitado ao dar o seu diagnóstico:

— Parabéns, você é o meu mais novo conceito de lastimável. Lamentoso, doloroso, miserável. Escolha o adjetivo que você mais gosta, para o meu TCC.

Sakusa fecha a cara na hora, totalmente silencioso.

Ushijima suspira.

— Sakusa, eu maquiei o que deveria ser a sua nona cliente de hoje, que por acaso é aquela atriz da Marvel, e são dez da manhã. Você não acha que está muito sobrecarregado, não?

Se Kiyoomi desmanchou um pouco a carranca pela preocupação palpável de Wakatoshi, ele ao menos tem a confirmação que foi por debaixo da máscara e ninguém viu.

— É lucro ou lucro, Ushi. O Met Gala não espera ninguém, nem esse salão.

Ushijima arqueou a sobrancelha feita — Sakusa sabe que ele usa botox — destacando o olhar delineado com rosa.

— Tá bom. Lucro ou saúde mental, entendi.

Sakusa não responde.

Wakatoshi coloca adoçante em seu café, sem se preocupar se expirou alto demais.

— Enfim, o cabelo da atriz da Marvel? Vanglorioso. Logo te mando as fotos da maquiagem dela. É o pacote completo de modernidade, acredite.

Sakusa cobre a boca com o copinho de café, e suas próximas palavras saem vagamente abafadas.

— A Kiyoko cuida muito bem do cabelo, é sempre limpinho, fios saudáveis, ela hidrata toda semana...

— Que lindo, você soa como um maníaco capilar.

— Vá à merda.

Ushijima ri e sai de mansinho enquanto organiza os pincéis sintéticos na cintura.

Em alguns minutos, Sakusa já havia jogado o copinho no lixo e descido as escadas do mezanino do salão com decoração retrô. O piso debaixo era uma orna de profissionais e clientes, onde a fala era vedada pelo barulho dos secadores.

Creme pra lá, escova pra cá, e aos olhos de Sakusa, lindo e caótico.

Enquanto esperava a chegada do próximo cliente, Sakusa não demora para lançar as fotos do seu último trabalho no Instagram, marcando o perfil de Ushijima. As curtidas chegam como um jato, mais comentários e celebridades endeusavam o inegável talento de Sakusa como cabeleireiro e o de Ushijima como maquiador.

Era de conhecimento global que Sakusa Kiyoomi era, sim, o cabeleireiro mais renomado do país, cujo o próprio salão somente atendia celebridades, e ele era tão reconhecido quanto elas.

Pois, muito bem, estava em uma carreira de sucesso, palestrando o seu próprio curso e dando entrevistas semanais a canais televisivos.

Os minutos passam e Kiyoomi acompanha o horário pelo celular. Ele envia uma assistente para acompanhar o cliente das dez e quinze enquanto arruma a sua estação de trabalho.

Para o Meu Arco-íris (SakuAtsu)Onde histórias criam vida. Descubra agora