Utopia

Por que eu continuo sorrindo?

Às vezes no silêncio do meu quarto, aconchegado na penumbra da luz da minha janela e dominado pelos meus pensamentos internos, eu me encontro pensando...

Quantos abraços são necessários para me manter aquecido? Quantas palavras são necessárias para me deixar feliz? Quantas pessoas passando na minha vida são necessárias ?

Eu não sei ainda. Eu realmente não sei. Acho que falta muito para que eu consiga compreender.

Desculpe a introdução solitária, eu me chamo Nicolas e estou entrando no ensino médio. Eu decidi enfrentar meus demônios internos e me desafiar dessa vez. Eu vou entrar na escola em que eu e minha irmã tanto queríamos.

É um colégio caro e não temos condições alguma para pagar a mensalidade. Nossa mãe recusa a possibilidade de nos fazer trabalho para isso. Segundo ela, primeiro vem nossa educação e ela cuidaria do resto. Então, estamos indo fazer uma prova para conseguirmos uma bolsa. Nós nos esforçamos e estudamos juntos durante um bom tempo. Mas eu não sei se me encontro confiante...

— Vai dar tudo certo, Nicolas. — Minha irmã, Antonella, um ano mais velha que eu, sorriu de orelha a orelha ao pronunciar essa frase. — Nós nos esforçamos e vamos conseguir as bolsas do jeito como sonhamos.

Eu respirei fundo e assenti. Ela sabia exatamente como me deixar melhor. Seu tom de voz era sempre suave e sereno, com ouvir gotas de chuva em uma noite de inverno.

— Tudo bem. Nós vamos conseguir.

Nós saímos de nosso pequeno lar e pegamos um Uber porque preferimos não arriscar em procurar pelo lugar exato do colégio. Aquele Uber era pequeno, mas agradável. O motorista era gentil e trocava palavras com minha irmã, que contava de forma animada sobre a prova que faríamos. Meus olhares sobrevoaram a paisagem que estava por trás do vidro, coberto por uma película um pouco escura. Tudo que via através do vidro era familiar, mas dessa vez... parecia ter algo diferente.

Talvez eu esteja ansioso outra vez.

Nos despedimos do Uber e olhamos para o quão grande era a vista do colégio do portão central. Era um colégio enorme, com pares com tons azuis e brancos mesclados, janelas de vidro, árvores e plantas agradáveis visualmente espalhadas pelo gramado, banners sobre o sistema de ensino e até mesmo um selo de Oxford Quality. É realmente outro mundo, eu poderia me perder no meio de tudo isso com imensa facilidade.

— Hey, Nicolas? — Antonella dirigiu seu olhar para mim. Eu me virei para ver seu rosto e lá estava sua expressão serena, com um sorriso brando no rosto. Foi o suficiente para sentir que eu tinha um objetivo em mente e não podia desistir.

Entramos no colégio e nos deparamos com o pátio principal. Olhei bem para o meu redor. Como imaginado, era tão incrível quanto o lado de fora. Banners por todos os lados, uma decoração digna de escola estrangeira, tudo extremamente limpo. Será que estou mesmo no Brasil?

Uma grande escadaria foi avistada no meio daquele enorme corredor. Havia várias pessoas por perto, todas conversando, algumas animadas e outras nervosas.

— Eu acho que eu gostei daqui!

— Eu também. — Antonella respondeu, dando alguns passos adiante. — Parece um lugar cheio de vida.

Ela deu meia volta e se virou para mim.

— Nicolas, não se sobrecarregue sobre sua nota. É nosso objetivo estudar aqui, mas não deixe que isso te deixe nervoso, okay? — Ela se aproximou, e colocou suas mãos em meus ombros de maneira calma, e em seguida abriu um sorriso harmonioso. — Só vamos entrar juntos, assim como prometemos!