Capitulo 04

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Passava das dez quando Shikamaru voltou para casa, com a mesma
expressão enigmática de sempre. Temari fez café e sanduíches, comeu
alguma coisa e pediu desculpas, pretextando um pouco de cansaço, a
fim de ir para o quarto. Supôs que os dois passariam pelo menos mais
uma meia hora conversando, e ficou surpresa ao ouvi-los subir a escada uns dez minutos mais tarde. Ouviu-se o murmúrio de vozes no patamar e o barulho de uma porta que se fechava. Seguiu-se uma pausa breve. Ouviu
então uma pancada em sua porta e a voz de Shikamaru, calma porém firme:

— Temari, quero falar com você.

Temari deparou com seus olhos no espelho, pousou a escova que estivera usando, levantou-se e foi abrir a porta. Shikamaru lá estava, com uma mão encostada na perna. Seu olhar percorreu o roupão azul, voltou a pousar sobre o rosto dela e nele permaneceu.

— Você vai me convidar para entrar ou prefere que conversemos lá embaixo?

Ela contemplou-o durante um bom momento antes de se mover.
Ele entrou rapidamente, fechou a porta e disse:

— Como é que você se sente com a presença de Ensui? Se prefere que ele não fique, diga. Ele pode ir para o apartamento.
— O apartamento? — perguntou ela, procurando ganhar tempo.
— Em cima do escritório. Eu mesmo o usava, quando vim para cá, depois foi alugado por um ano e pouco. No momento está vazio.
— Não o acha mais apropriado? — perguntou cautelosamente.
— Quer dizer, você, solteiro e vivendo tão perto do emprego. Este lugar parece tão afastado para um homem que mora sozinho.
— Meu plano era usar o apartamento durante a semana e vir para cá nos fins de semana, à procura da paz e do silêncio. Um cliente, ao saber que tinha de se mudar de volta para a cidade, perguntou se eu poderia encontrar um lugar onde abrigar Akamaru, e então eu tive de pensar duas vezes. Um apartamento pequeno e um cachorro alsaciano barulhento não combinam muito bem. Persuadi a Sra. Shizune a vir aqui cinco vezes por semana e vim morar aqui permanentemente — informou, com uma certa deliberação: — Voltando à pergunta original, e quanto a Ensui?

Tomari voltou para a penteadeira, pegou novamente na escova e
sopesou-a.

— Ele é seu irmão.
— Isso é um fato, não uma razão. — Ele a olhava através do espelho. — A única maneira que temos de resolver esta situação é sermos honestos um para com o outro.
— As pessoas alguma vez são completamente honestas umas com as outras? — ela murmurou, e a expressão dele modificou-se um tanto.
— Se não o são, algumas vezes isso ocorre por razões honestas. Pare de se mostrar indecisa, Temari. A decisão é sua.
— Você quer que ele fique?

Ele fez um gesto de impaciência.

— Quero qualquer coisa que nos ajude a voltar a ter uma vida normal. Você precisa se distrair de alguma maneira, e não é sozinha que você vai conseguir isso. Você faz muito mal em evitar a Sra.
Shizune.
— Pois ela devia se sentir aliviada.
— O que você quer dizer com isso?
— Que ela provavelmente pensa que meu lugar é em um sanatório psiquiátrico.
— Como?! — Sua voz tornou-se mais suave. — É a primeira vez
que eu vejo você ceder à auto piedade.

Já arrependida por ter feito aquela observação, esforçou-se por
amenizá-la.

— Acho que fui longe demais. Mas é que algumas vezes a surpreendo a me encarar, como se não soubesse o que vou fazer em seguida.
— Bem, se ela tivesse medo de você pediria a conta. Você provavelmente é um motivo de interesse muito grande na vida dela.
— Mas então até que vale a pena...
— Temari, pare com isso! — Com um gesto suave obrigou-a a encará-lo, segurando-a gentilmente pelos cotovelos. — Podemos
substituí-la por outra pessoa, se você preferir. Não sabia que você se
sentia assim em relação a ela.

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