Capítulo 4 - Donutookie, Frankenstein e Blueberry

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"Posso garantir que nos dias de hoje não adianta beleza,

comida, sexo ou sedução para conquistar o coração de um homem,

mas sim a capacidade de parecer pouco interessada nele"

(O Diário de Bridget Jones)


Passei a noite inteira apreensiva, não apenas pelo resultado da entrevista, mas também pelo rato que estava dentro do sofá da sala. Chamei o zelador diversas vezes pelo telefone, mas ele não me atendeu, o safado deveria estar dormindo, em vez de trabalhar. Resolvi trancar meu quarto, coloquei os fones de ouvido para não ouvir os ruídos e acabei caindo no sono.

Acordo hoje com a sensação de que há algo em minha cama e essa coisa move-se debaixo dos meus lençóis. Grito em uma altura que poderia acordar todo o prédio e pulo da cama enquanto chamo a Lucille que aparece ainda com as roupas de ontem à noite.

— Por que você tá gritando?! — o batom preto dela ainda está intacto.

Tem algo... tem algo...Ahh... Ahhh.! — a coisa mexe-se debaixo do meu cobertor e eu grito novamente. — É o rato! O rato!

Ela balança a cabeça e faz bico:

— Não é um rato — puxa o cobertor e uma bola de pelos surge. — Conheça o nosso novo exterminador de ratos, Frankenstein — o gato ronrona quando ela o pega no colo. Ele não é um filhote, mas sim um gato adulto. — Adotei ele em um abrigo.

— Você ficou louca? O nosso prédio não aceita animais.

— Ah é? Eles não aceitam? E o que é esse tanto de ratos que vive aparecendo? Eles não vão proibir o Frankenstein, eu vou garantir isso — ela dá o olhar maquiavélico de sempre e solta o gato que volta para minha cama. — Ele escolheu onde vai dormir, o Frankenstein vai ser seu novo melhor amigo — dito isso, ela deixa-me sozinha sem saber o que fazer com o gato.

Descubro rápido que quem teria que cuidar dele sou eu. Nós ficamos nos estranhando pela manhã, porque ele é bem autoritário, tanto quanto um certo chefinho. Também descubro, da pior maneira, que ele não gosta de carinhos, meu braço fica todo arranhado.

Passo 2 dias adaptando-me ao gato e ele a mim. A Drácula nunca para em casa e, quando fica, dorme. No terceiro dia, nós já estamos nos dando bem, o Frank, apelido que dei a ele, fica em um canto no sofá e eu no outro, acho que isso já é o começo de uma boa convivência.

Recebo uma ligação da Bonavich's Publishers à tarde e tremo-me toda ouvindo o veredito. Fico chorando o dia todo quando sou informada que eu não fui contratada. Eu não consigo acreditar que estive tão perto desse sonho de trabalhar em uma das maiores editoras do mundo e, ainda por cima, saber que ela fica apenas a 15 minutos de casa se eu fosse de metrô. O mundo é cruel demais.

Hoje, afundei no sofá e li Mulherzinhas que a Albinka me emprestou, é seu romance favorito. Li a frase "[...] nunca se canse de tentar, e nunca ache que é impossível vencer seu problema."

Uma lágrima escorre pelo meu rosto e eu tenho que tirar os óculos de leitura que estavam ficando embaçados. Tudo vai ficar bem, sei disso, mas, às vezes, eu permito-me limpar a maquiagem de autoconfiança que eu quero passar e ficar frustrada, revoltada e cansada.

Sorrio na próxima página, rindo de mim mesma por estar chateada por não conseguir trabalhar com Liam Bonavich. Talvez tenha sido uma coisa boa não ver aquela cara bonita e mal-humorada todos os dias. Duas coisas poderiam ter acontecido, ou eu seria despedida em poucos dias por brigar com ele, ou eu acabaria apaixonando-me. É como dizem, amor e ódio são faces diferentes da mesma moeda.

A Culpa é do meu ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora