UMA SEMANA DEPOIS
Me acordo essa manhã com o barulho desesperado do despertador no meu celular, toda manhã é a mesma coisa, mas eu ainda me assusto com o barulho que ele faz, tão irritante que até o ser humano mais preguiçoso levantaria da cama quente em uma manhã fria só para ter o gosto de desliga-lo. Sem demora eu estico meu braço para meu celular na mesinha do lado da cama e vou logo desligar o alarme. São 5:41 da manhã, tenho que me levantar para me arrumar para a escola. Demoro um pouco, ainda aproveitando os últimos momentos na minha cama aconchegante, sentindo o calor de baixo das cobertas, desejando passar o resto do dia ali em baixo, como um coelho em uma toca. Mas não me dou esse luxo.
Rapidamente afasto as cobertas de mim e me levanto da cama, pronto para ir até o cabide atrás da porta pegar minha toalha e ir em direção do banheiro, para tomar o primeiro banho do dia. Eu acordo antes da minha mãe então sempre sou o primeiro a usá-lo. Ao entrar no banheiro e fechar as portas, eu começo a me despir da única coisa que uso para dormir, um short bem leve que me ajuda a relaxar e então vou em direção do box. Ao ligar o chuveiro, me deparo com a água gelada da manhã que se arrasta até meus pés, de longe minha favorita, água gelada me ajuda a despertar e ter mais disposição, ao mesmo tempo que deixa meu corpo relaxado.
Demoro para entrar de baixo do chuveiro, primeiro tenho que acostumar meu corpo com o gelo antes de sofrer quando ele encosta na minha pele, não demora muito e já estou com o corpo inteiro de baixo do chuveiro, me molhando rapidamente e me ensaboando. Adoro água gelada, mas quando ela está sendo jogada sobre você, é meio impossível não se contorcer, principalmente de manhã.
Após sair do banho, agora mais disposto, vejo minha mãe atravessar a sala em direção da cozinha, com certeza foi fazer o café, toda manhã antes de se arrumar, ela prepara o café para mim e para ela, é quando já está tudo feito que ela vai tomar banho ou vestir seu uniforme. Olho para ela por um instante, enquanto a observo na cozinha, inconstante, mas logo entro no meu quarto e vou me arrumar para a escola.
Abro o guarda roupas e pego a camiseta da farda, a calça jeans, um moletom e um cordão de flecha que eu carregava comigo para todo canto. Visto toda a roupa rapidamente, calço meu all star converse preto que uso para todo lugar que eu vou, e então já estou pronto para sair e ir tomar café com minha mãe. Ao abrir a porta do quarto sinto de longe o cheirinho do café e de torrada, minha parte favorita do dia é esse sentimento de lar misturado com esses cheiros que me trazem tanto conforto.
Entro na cozinha e minha mãe está no pé do fogão fritando três ovos, dois para mim e um para ela, em cima da mesa descansa a garrafa do café, alguns pães, bolo que ela deve ter trazido depois do trabalho e duas xicaras para o café. Minha mãe não tinha percebido que eu estava entrando na cozinha até o momento que eu passo por ela e vou até a prateleira pegar um copo para beber água.
- Bom dia - falo enquanto me inclino sobre a bancada da pia e pego um copo no armário, já me direcionando até a geladeira.
- Bom dia, amor - minha mãe responde, enquanto pega a frigideira pelo cabo e leva até um prato vazio na mesa para despejar os ovos já fritos - dormiu bem? Parece que você teve um dia cansativo ontem, cheguei em casa e você já tinha ido dormir, decidi não te acordar - ela fala enquanto se senta na mesa e coloca café na própria xícara.
- Dormi sim - falo enquanto coloco o copo que eu tinha bebido água, na pia - e como todo dia eu acordei mais tarde, comi e voltei a dormir - concluo me sentando na mesa e me servindo de café e uma fatia de bolo.
- Você anda muito carregado André - minha mãe afirma à medida que coloca um pedaço de ovo no seu pão - tem certeza que escola de manhã e curso de Artes a tarde toda não é muito pesado para você?
- Tô de boa mãe - minto - consigo levar essa rotina de boa e não me faz mal - mais uma mentira, dessa vez das grandes - mas como foi no seu trabalho ontem?
Ela me observa por um tempo, de olhos meio duvidosos como se não acreditasse que eu estava de boa com toda aquela carga que EU MESMO escolhi... E quando termina de mastigar, ela fala.
- Foi como sempre agitado - ela começa - tivemos umas atividades extras ontem e muitos alunos não quiseram cooperar, só faltaram começar uma greve de fome. Mas com o incentivo certo - minha mãe pisca um olho com um jeito brincalhão que me faz esboçar um sorriso - eles obedeceram.
- Vou te denunciar pro conselho escolar - falo com um sorriso no rosto enquanto levo um pedaço do bolo até minha boca.
- Dedo duro morre cedo hein - minha mãe responde com um tom brincalhão de ameaça - fica esperto fella.
- O QUEEEE??? - exclamo e quase engasgo com o bolo - ONDE VOCÊ APRENDEU A FALAR ASSIM???? - continuo, bebendo um pouco do café, ainda perplexo.
- Ué, com um dos meus alunos, um moleque que não tem nem bigode ainda - ela retruca, terminando seu café - pensei que seria boa incrementar gírias no meu vocabulário.
- Errou feio - respondo ela, enquanto rio - foi assustador, não faz mais.
Minha mãe ri e se inclina para pegar tudo que tínhamos usado no café.
- me dá, deixa que eu lavo - ela fala empilhando alguns pratos e canecas, enquanto eu já estou me levantando e ajudando ela com os pratos.
- deixa comigo, eu tenho tempo... - ela fala cedo de mais, para o nosso susto, o relógio na parede indica que já é tarde de mais para ela fazer qualquer coisa que não seja correr pro trabalho
- eh, eu acho que não... - Ela fala enquanto joga as coisas na pia, com cuidado, e corre até a sala.
Eu estou na sala, já com a mochila nas costas, quando minha mãe sai da cozinha e nós saímos juntos de casa. Ela vem em minha direção e me abraça, se aproximando do meu rosto e dando um beijo na minha bochecha
- Tenha um ótimo dia - minha mãe fala ainda me abraçando, e então se afasta um pouco e segue para a direita, o trabalho dela é próximo então nunca se importou em ir a pé.
Eu dou de costas e sigo pela esquerda em direção do ponto de ônibus, no meio do caminho vou escutando ouvindo música com o fone de ouvido e não paro de ouvir mesmo sentado no banco da parada de ônibus. Não queria conversar com ninguém, a única pessoa que eu ia trocar algumas palavras seriam o motorista do ônibus e minha professora de história, a única que eu gostava, seria irônico dizer que odeio o meu professor de Artes o suficiente para desejar que ele falte no dia? De fato, ele é um saco, e a maioria dos alunos odeiam ele - o pior de todos - E hoje eu tenho aula com ele... Não é ótimo???
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A Arte do Amor a Primeira Vista
RomanceAndré é um garoto comum de 17 anos que cursa o ensino médio e é apaixonado por arte, algo que ele desenvolveu desde pequeno. Ele sempre viveu rodeado de amigos, uma vida equilibrada e estável, até a pandemia chegar e mudar tudo que ele sabia so...