Quando eu era uma jovem pesquisadora, em início de carreira, aconteceu algo que mudou minha vida.
1 Eu era obcecada pela ideia de compreender como as pessoas lidam com fracassos, e resolvi estudar esse tema observando como os estudantes lidavam com problemas difíceis. Assim, levei várias crianças, uma de cada vez, a uma sala em sua escola, onde as deixei ficar à vontade com uma série de quebra-cabeças para resolver. Os primeiros eram bastante fáceis, mas os seguintes iam ficando mais difíceis. Enquanto as crianças resmungavam, suavam e se esforçavam, eu observava suas estratégias e investigava o que pensavam e sentiam. Esperava encontrar diferenças no modo como enfrentavam as dificuldades, mas percebi uma coisa que jamais havia imaginado.
Diante dos quebra-cabeças difíceis, um menino de dez anos puxou a cadeira para mais perto, esfregou as mãos, estalou os lábios e exclamou: "Adoro um desafio!". Outro, lutando com os quebra-cabeças, ergueu os olhos com uma expressão satisfeita e disse, com ar de autoridade: "Sabe, eu já esperava aprender alguma coisa com isso!".
O que há de errado com eles?, pensei. Sempre havia achado que uma pessoa ou sabia lidar com o fracasso ou não sabia. Nunca imaginara que alguém pudesse gostar do fracasso. Essas crianças seriam excepcionais ou teriam encontrado alguma coisa nova?
Todos temos um exemplo a seguir, alguém que nos indicou o caminho num momento crítico de nossas vidas. Aquelas crianças se tornaram meus modelos de comportamento. Evidentemente sabiam algo que eu desconhecia, e eu estava decidida a descobrir o que era — a entender o tipo de mindset capaz de transformar o fracasso em um dom.
Que sabiam elas? Sabiam que as qualidades humanas, tais como as habilidades intelectuais, podem ser cultivadas por meio do esforço. E era isso que estavam fazendo — tornando-se mais inteligentes. Não apenas o fracasso não as desestimulava, como nem sequer imaginavam que estivessem fracassando. Achavam que estavam aprendendo.
Eu, por outro lado, achava que as qualidades humanas eram esculpidas em pedra. Ou você era inteligente ou não era, e o fracasso significava que não era. Simples assim. Se conseguia planejar os êxitos e evitar os fracassos (a qualquer custo), poderia continuar sendo inteligente. Os esforços, os erros e a perseverança não faziam parte desse panorama.
A questão de saber se as qualidades humanas podem ser cultivadas ou se são imutáveis é antiga. A novidade é o que essas crenças significam para você: quais são as consequências de imaginar que nossa inteligência ou nossa personalidade são características que podemos desenvolver, em vez de constituírem algo fixo, um traço profundamente arraigado? Examinaremos inicialmente o antiquíssimo e feroz debate a respeito da natureza humana e em seguida voltaremos à questão de saber o que tais crenças significam para você.POR QUE AS PESSOAS SÃO DIFERENTES?
Desde o começo dos tempos, as pessoas pensaram, agiram e viveram de modo diverso umas das outras. Obviamente alguém iria querer saber por que as pessoas eram diferentes — por que algumas são mais inteligentes ou mais éticas — e se havia alguma coisa que as tornava permanentemente distintas. Essa questão foi vista de duas maneiras pelos estudiosos. Alguns afirmavam que havia forte base física para as diferenças, que as tornava inevitáveis e inalteráveis. Ao longo do tempo, a essas alegadas diferenças físicas foram acrescidos as protuberâncias cranianas (frenologia), o tamanho e a forma do crânio (craniologia) e, hoje em dia, os genes.
2 Outros apontaram para a grande diversidade de formação de cada pessoa, suas experiências, o treinamento ou formas de aprendizado. Talvez você se surpreenda ao saber que um dos grandes defensores dessa opinião foi Alfred Binet, inventor do teste de quociente de inteligência (QI).
3 Seria o objetivo desse teste resumir a inteligência imutável das crianças? Na verdade, não. Binet, francês que trabalhou em Paris no início do século XX, pretendia identificar as crianças que não estivessem obtendo êxito no aprendizado nas escolas públicas parisienses, a fim de possibilitar a criação de novos programas educativos que permitissem a sua recuperação. Sem negar as diferenças individuais nos intelectos infantis, Binet acreditava que a educação e a prática seriam capazes de produzir mudanças fundamentais na inteligência. Eis um trecho de uma de suas principais obras, Ideias modernas sobre as crianças, no qual ele resume o trabalho que realizou com centenas de crianças que tinham dificuldades de aprendizado:
Alguns filósofos modernos [...] afirmam que a inteligência de um indivíduo é uma quantidade fixa, uma quantidade que não pode ser aumentada. Devemos reagir e protestar contra esse pessimismo brutal. [...] Com a prática, o treinamento e, acima de tudo, o método, somos capazes de aperfeiçoar nossa atenção, nossa memória e nossa capacidade de julgamento, tornando-nos literalmente mais inteligentes do que éramos antes.
4 Quem terá razão? Hoje em dia, a maioria dos especialistas concorda que não há uma única resposta. Não se trata de natureza ou estímulo, genes ou meio ambiente. A partir da concepção, há um intercâmbio constante entre uma coisa e outra. Com efeito, como diz Gilbert Gottlieb, eminente neurocientista, não apenas os genes e o meio ambiente cooperam entre si à medida que nos desenvolvemos, como os genes necessitam da contribuição do meio ambiente, a fim de funcionar de maneira adequada.
5 Ao mesmo tempo, os cientistas estão percebendo que as pessoas têm maior capacidade do que se havia imaginado para aprender e desenvolver o cérebro durante toda a vida. É claro que cada um possui uma dotação genética específica. As pessoas podem ter diferentes temperamentos e aptidões no início de suas vidas, mas evidentemente a experiência, o treinamento e o esforço pessoal conduzem-nas no restante do percurso. Robert Sternberg, o guru da inteligência na atualidade, escreveu que o principal modo de aquisição de conhecimento especializado
"não é alguma capacidade prévia e fixa, e sim a dedicação com objetivo".
6 Ou, como reconheceu seu precursor Binet, nem sempre as pessoas que começam a vida como as mais inteligentes acabam sendo as mais inteligentes.
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Mindset - A Nova Psicologia do Sucesso
RandomO livro mindset a nova psicologia do sucesso é a contribuição de Dweck para compreendermos o poder de controlar nossa mente. Através de uma série de mecanismos que nos possibilitam criar uma mentalidade a nosso favor para enfrentarmos dificuldades...