1214 palavras.
SAMUEL ERA ALGUÉM que ia em muitas festas, por pura influência de Tristan e Clarissa. Não bebia muito, porque preferia o bom e velho café extra-forte. Isso não o impedia, é claro, de virar alguns copos ao lado dos amigos.
Mas mesmo indo em tantas festas e ter visto tantas pessoas, o carioca nunca tinha visto isso antes.
Kaiser, seu parceiro de equipe, o homem sério e desanimado que senta ao lado dele todo santo dia, que não diz mais que vinte palavras por dia, que dá nada mais que risinhos breves sempre que ouve uma piadinha do Norte, estava bêbado.
Mas bêbado mesmo. Estava dançando na pista, ao lado de Arthur e Erin. Como se não fosse o cara mais fechado que Samuel conhecia na Ordem — depois de, é claro, Aaron. Ele definitivamente não parecia o mesmo cara.
Estavam em um espaço reservado para os agentes da Ordo. Tristan decidiu alugar aquele lugar por uma noite, para comemorar o primeiro mês de namoro com Beatrice Portinari. Talvez tenha sido só uma desculpa para curtir com sua namorada e com seus amigos sem ter que lidar com estranhos, mas estava dando certo.
Até Letícia tinha comparecido, e agora dançava com Mia, em algum canto do lugar. Alguém controlava as luzes coloridas e as músicas, mas Samuel não fazia ideia de quem era. E nem pensava nisso, porque estava praticamente babando por Kaiser.
Algum funk tocava, e Kaiser, nossa, mexia o corpo muito bem. Com certeza o carioca não era o único que secava ele. Por isso, não podia de jeito nenhum perder tempo ali. Ele enche seu copo com alguma bebida aleatória da mesa de bebidas e começa a passar pelos agentes.
Viu até Veríssimo naquele meio, puxado por Antônio. Ver o chefe tendo que aguentar o amigo dançando e bebendo foi uma visão inesquecível! Mas ele se concentra e desvia o olhar, se aproximando do Cohen.
Este percebe Samuel bem rápido. Ele está sorrindo, com um copo vazio em mãos. Quando enxerga o carioca, sorri ainda mais e se aproxima dele.
— Fala aí, cabeludo! — o Norte diz alto, quase gritando, no ouvido alheio, e consegue sentir o hálito do outro. Puro whisky. Teria que escovar os dentes várias vezes para melhorar aquilo. — Tá soltinho, hein?
Kaiser ri pela fala e joga o copo longe, abraçando o pescoço do mais alto. Estava vermelho, mas Samuel não sabia se era a iluminação ou não. Bom, não importava, porque Kaiser e ele estavam muito próximos.
E Kaiser é ainda mais bonito de perto.
— Eu tava te procurando, Samuca. — o mais velho diz, sorridente, no ouvido alheio. Samuel termina seu copo de uma só vez, passando por cima do ombro de Kaiser, para então fazer o mesmo que ele e jogar o copo.
— Não pareceu que tava me procurando, não. Tava dançando tanto... — o carioca abraça a cintura dele, colando seus corpos. Kaiser ri soprado.
— Tava dançando pensando em você, porra. — responde e um novo funk começa. Cohen joga a cabeça pra trás, os afastando um pouco. — Brota na minha casa, eu vou te dar um chá bem dado...
Kaiser estava cantando uma música que não era indie! Samuel não sabia que precisava ver isso até ver.
— Você tava pensando mesmo em mim? — o carioca o puxa para perto novamente, dizendo em seu ouvido. Ele sente as mãos alheias em sua nuca e sente um arrepio na hora. — Podia ter me chamado pra dançar mais cedo...
— É que eu pensei que você estaria com a Clarissa. — Kaiser solta, e de repente parece mal humorado. Samuel estranha, afinal, por que estavam falando da loira do nada? — Aliás, onde ela tá?
— Eu não sei, maluco. Tô aqui com você, não é isso que importa? — ele tenta seguir como estavam, sem se importar com o questionamento do outro, e percebe que funciona.
— Pode crer que sim.
Samuel estava pronto para flertar mais uma vez com o mais baixo, mas este segura sua nuca com firmeza, o puxando para mais perto. Quando percebe, seus lábios estão colados nos de Kaiser, que parece mais decidido do que nunca.
Seu hálito é ainda pior de mais perto, mas a boca dele é viciante. Fez Samuel se agarrar a ele e não querer mais soltar. Suas mãos subiram nos cabelos longos dele, puxando de leve, enquanto sentia suas línguas dançarem uma contra a outra. As mãos de Kaiser abraçaram o pescoço alheio mais uma vez, e agora eles estavam abraçados, com as bocas e línguas juntas.
O Norte estava no paraíso, beijando o hacker que tanto desejou por meses. Não se importou com os gritos de Tristan e Clarissa, claramente o provocando, nem com um flash de câmera. Estava totalmente focado em Kaiser, que também só prestava atenção nele.
Quando o ar faltou, segundos depois, o carioca se afasta, ofegante, sem querer largar o mais velho. Mas este se afasta bruscamente, com a mão tampando a boca. As consequências de ter bebido a noite toda estavam chegando, e Samuel agradeceu por terem parado com os beijos bem a tempo.
Quando Kaiser correu para o banheiro, Samuel não hesitou em ir atrás. Tinham se divertido, mas agora era hora de ajudá-lo — porque Arthur com certeza estava tão bêbado quanto ele, e Joui nem tinha vindo.
O carioca segurou seus cabelos quando ele se inclinou sobre o vaso, o dando todo apoio que precisava. Tudo bem que não podia fazer muita coisa, mas fez o possível. Ajudou ele a limpar seu rosto, e o abraçou quando ele começou a chorar, de repente. Estava lhe dando tapinhas quando o ouviu choramingar contra seu ombro.
— Por que você não tá com a Clarissa, seu idiota? — pergunta em meio ao choro, soluçando. Ainda parecia estar meio bêbado. — Vocês... vocês dois estão juntos, não tão, cacete?
Sem saber de onde diabos ele tinha tirado aquilo, Samuel suspira e o afasta, segurando seu rosto.
— Não, a gente não tá junto. Ela é lésbica, aliás. — o carioca esclarece, vendo o outro soluçar e encara-lo sem reação. — Vem, vou te levar pra tia Ivete.
Kaiser não discutiu e nem podia. Samuel o levou para fora do banheiro e passou pelos agentes agitados e bêbados, e por sorte ninguém falou com eles, o que os fez sairem mais rápido.
O lugar não era longe da base da Ordem, então Samuel não andou muito até chegar lá. Ivete estava atrás do balcão, limpando um copo distraidamente, conversando com Chizue. As idosas avistaram a dupla entrar assim que pisaram no lugar.
— Ei, tia... Ele bebeu pra cacete. — ele murmura, vendo a idosa passar por de trás do balcão e correr até eles.
— Puta, guri... — a Beicur suspira alto e segura Kaiser, que está mole e quase adormecendo. Ela o põe sentado em uma cadeira e se vira para Samuel. — Obrigado por ter cuidado dele, viu... Esse menino nunca bebe e quando bebe...
— Não foi nada, tia Ivete! Eu tava lá e não podia ignorar ele nesse estado, né. — Norte dá de ombros, sorrindo fraco. — Eu vou indo, até amanhã, Ivete.
— Até amanhã, guri.
Samuel não tinha mais nada para fazer na festa; tinha ido na esperança de bater um papo com Kaiser, e tinha conseguido isso e muito mais. Então ele caminha até seu apartamento em silêncio, com um sorrisinho bobo nos lábios.
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o que vários copos de whisky fazem. (sa.mu.ai.ser)
RomanceWhisky e muita música mudam uma pessoa, por mais introvertida que ela possa ser; e Samuel vê isto acontecer quando Kaiser bebe demais em uma comemoração, soltando-se mais do que o normal e fazendo coisas que, depois que o efeito do álcool passasse...