O almoço infernal

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— Escolho a terceira opção. — Meus gastos foram como minha convicção, extravagantes. Dei um súbito pulo da cadeira que estava sentado e virei-me para ir embora, quando senti um toque no meu ombro. Olhei para trás e Anne estava se aproximando, tentei escapar, mas ela me segurava pelo ombro. Anne se aproximava vagarosamente, quanto mais ela aproximava-se, maior era minha agonia. Olhei para o lado e todas as amigas dela me olhavam e tentavam disfarçar a risada. Anne encostou atrás de mim, aproximou sua boca da minha orelha e disse:

— Não tente fazer uma idiotice dessas. — Sua voz não apresentava nenhuma oscilação, sua calma me fez notar que não era um blefe. — O que houve? Cadê o garoto corajoso e precoce?

Cada palavra que ela proferia atingia um ponto diferente do meu orgulho, o qual eu já considerava irrisório, é incrível o tamanho do dano que tão poucas palavras podem fazer com uma pessoa. Os olhares incessantes sobre mim eram dolorosos, mas o mais difícil de aguentar era o de Anne sobre mim, ela sabia o que estava fazendo e como me tinha em sua mão, então não tive outra opção a não ser ir com ela.

– Voltou? Achei que estava bem convicto da sua "terceira opção" – Dizia uma das amigas de Anne enquanto todas riam praticamente em uníssono.

O mais incrível era que mesmo com tudo aquilo acontecendo, Aurora não mudava, estava completamente focada em seu lanche. Acho que eu me enganei sobre ela, realmente ela fazia parte daquele grupo, ela combinava com ele muito mais do que eu conseguia imaginar.

O horário do almoço comprovou que Einstein estava certo, o tempo realmente é relativo, eu podia jurar que vi o ponteiro do relógio girar em sentido anti-horário. As constantes zoações estavam cada vez mais ofensivas, e até o final, Aurora não desconcentrava de seu lanche, como um tigre sorrateiro esperando a sua hora de atacar, ela podia não me zoar na frente das outras, mas eu tenho certeza que na hora certa ela vai fazer um ataque tão ruim ou até pior.

Após aquela sessão de tortura, tivemos as aulas da tarde, facilmente posso dizer que foi uma das piores da minha vida, não só tive que ficar remoendo as ofensas que havia recebido, como tive que aturar Anne e suas amigas olhando discretamente pra mim e rindo no meio da aula. Mas mesmo após toda essa desgraça, um raio de felicidade brilhava na minha vida, era hora de ir pra casa, eu não precisava mais ter que aturar aquele inferno, podia finalmente relaxar.

– Tem um minuto? – Perguntava-me Aurora, com um leve sorriso envergonhado.

Eu tenho certeza que esse é o momento que ela acha ideal para o seu bote, já que a partir daqui eu terei que remoer tudo que ela me disser durante a noite toda, um ataque extremamente efetivo e bem pensado, então mais que imediatamente eu neguei, e parti para casa. Como dizem, a vida é feita de escolhas, e eu decidi não sofrer em casa, já que me roubaram as opções na escola.

No outro dia, Aurora me esperava na frente da escola, pronta para me atacar antes das aulas, tentei não manter contato visual para que ela não me visse, mas foi ineficaz.

– Bom dia, Jhonny, podemos conversar? – Perguntou ela novamente com o mesmo sorriso envergonhado.

– Desculpe, mas tenho compromissos antes da aula. – Respondi rapidamente.

– Pode ser durante o horário de almoço, ou no final da aula.

– Infelizmente, hoje não posso, vamos ter que deixar para outro dia. – Disse enquanto entrava na escola.

Aurora aceitou que eu não podia naquele dia, mas continuou insistindo nos próximos, por uma semana eu consegui desviar de todas as tentativas dela de conversar, até que na sexta-feira, quando eu estava pronto para ir para casa descansar daquele inferno, quando estou saindo da sala, ela me prensou na parede.

– Hoje você não vai fugir, temos assuntos a tratar. – A sala inteira ficou rindo de mim enquanto ela me arrastava pela camiseta para atras da escola. – O que houve? Por que você fica fugindo de mim?

– Por que eu não sou idiota, eu sei o que você pretende fazer, e não vou ficar parado esperando, eu vou reagir.

– Espera... Eu... Fazer o que?

– Entendi, vai se fazer de desentendida – Disse após um longo suspiro – Você acha que eu não vi o jeito que tu está amiga da Anne? Está esperando a hora mais propícia e vai fazer o mesmo que ela.

– Como descobriu? – Disse ela com um olhar confuso. – Quem te contou isso?

– Era óbvio para qualquer um que tentasse minimamente reparar, eu gostaria que a partir de agora você não falasse mais comigo, tudo que precisar, peça para a sua nova amiga, a Anne – Disse, convicto que finalmente havia conseguido enfrentar elas, enquanto me dirigia de volta para a sala. Aurora nem tentou me deter, ela sabia que seu plano havia sido frustrado, e eu nem me dei o trabalho de olhar pra trás pra ver a sua tristeza, eu sou vingativo, mas não sádico como Anne, eu só quero ver uma pessoa sofrer e se arrastar no chão, ninguém além dela.

Aurora resmungava algo enquanto Jhonny ia embora, mas ele estava imerso demais em seus pensamentos vingativos para ouvir o que ela estava falando.

Na próxima segunda, eu estava mais contente do que nunca, tive um final de semana perfeito, fiquei relembrando como frustrei os planos de mais uma pessoa má, sou quase um justiceiro. Quando virei a esquina da minha escola, vi uma cena que me trouxe calafrios, Aurora estava conversando com Anne enquanto ela de vez em quando olhava para os lados, como se estivesse procurando alguém. Tentei passar despercebido, mas novamente, fui reconhecido, quando olhei para o lado, Anne vinha em minha direção.

– Bom dia, vamos conversar? – Perguntou-me ela com aquele sorriso assustador.

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⏰ Última atualização: Feb 06, 2022 ⏰

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