Daddy Issues - The Neighbourhood

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“Me conte algo que vou esquecer

E talvez você tenha que me dizer outra vez

É uma loucura o que você faz por um amigo”

Era cerca de onze horas da noite quando Jimin ouviu seu celular vibrar na escrivaninha, pegou o aparelho e leu o nome da tela, “Goo”. Imediatamente tirou o cigarro da boca e atendeu a ligação.

— Jimin? Tá em casa? — Jeon se pronunciou de imediato, com o timbre choroso. Park respirou fundo, sabendo previamente que o rapaz havia discutido mais uma vez em casa. Não que fosse um fofoqueiro, mas as casas eram próximas e a familía Jeon era bem indiscreta quando brigavam, toda a vizinhança ficava sabendo sobre as tretas, era inevitável. 

— Você sabe que sim. Quer que eu coloque a escada pra você subir? — perguntou Jimin, segurando o celular contra a orelha com o ombro, Puxou de debaixo da cama uma escada articulável, Começou a montá-la e colocou-a para fora da janela, apoiando-a na parede, para Jungkook subir. 

A ligação finalizou, Jimin jogou o celular na cama e logo a figura de Jeon apareceu, pulando sua janela. Ele possuía olhos vermelhos, assim como seu nariz, seu rosto estava inchado e possuía um hematoma roxo em sua mandíbula. 

Park guardou a escada e ambos sentaram em baixo da janela. O quarto estava escuro, a pouca luminosidade que tinha era através dos postes de luz que invadiam pela janela e o gabinete do computador do garoto, que emitia uma luz RGB. 

— Quer falar sobre, sei lá? — Jimin puxou assunto, acendendo o cigarro e dando para Jeon, em seguida, acendendo o seu,  Jeon suspirou pesadamente, tragando brevemente a nicotina.

— Você ouviu? — perguntou, 

— Acho que toda a rua ouviu, vocês gritam demais — a resposta veio certeira e sem um pingo de gentileza, o que era comum vindo do ruivo. Jungkook, no entanto, sorriu. 

— Então acho que não há nada para contar, certo? 

— Um contexto seria bom. 

— Meus pais discutiram — Jungkook começou a contar, assoprando a fumaça tóxica contra a face de Park. — Meu pai… Foi embora de casa, mas deve voltar daqui alguns meses, talvez. Minha mãe reclamou dele ser ausente comigo e só me criticar por qualquer erro mínimo, por qualquer deslize que eu cometa. E, bem, ela não está errada, sabe? Ele teve uma reação agressiva e eu defendi minha mãe, acabei apanhando em seu lugar. 

Jimin escutava tudo com atenção, sem saber o que falar, ou o que fazer. Jeon queria um abraço? Ou ele iria se sentir mal e achar que Park estava com pena? Bem, não que fosse mentira. 

— Sabe — o moreno voltou a falar. — Não é como se a presença dele em casa fosse muito significante, mas eu sinto falta dele. Sempre senti — confessou com a voz falha e fanhosa, seus olhos agora brilhavam devido as lágrimas que começaram a nascer. — É engraçado como eu sinto falta de algo que eu nunca tive. — Sorriu triste, e Jimin não questionou-se mais, apenas deixou o cigarro no cinzeiro e abraçou o garoto com força, 

Uma maneira silenciosa de dizer “eu estou aqui para o que precisar”, Jeon estranhou a princípio, Jimin não era uma pessoa afetiva, tão pouco carinhosa (na verdade, era o contrário). Jeon, porém, não recusou, apenas aproveitou o abraço acolhedor e permitiu-se desabar no choro no ombro do ruivo.

Não poderia simplesmente ignorar o fato que estava se sentindo egoísta, sabia que Park tinha problemas, e mesmo assim, estava despejando os seus sobre as costas do garoto. Não achava aquilo certo, queria ajudar e dar apoio também, uma troca justa, no entanto, Jimin é tão teimoso, que prefere morrer, do que pedir ajuda ou falar sobre suas merdas.

O aroma da colônia juvenil misturado com a nicotina acalmou o moreno, embora a droga que estava ingerindo tivesse feito o maior trabalho. Jungkook se afastou, passando as mãos no rosto e sorriu para o ruivo, que encontrava-se tão desorientado e provavelmente questionando a si mesmo sobre sua atitude repentina.

— E você, como está? 

— Bem — respondeu curto e grosso, como sempre.

— Não sei se um garoto de quinze anos fumar sentado na janela é sinônimo de bem.

— Eu fumo porque, sei lá, acho legal, não para me afogar nos problemas — justificou, dando de ombros.

— Pode mentir para si mesmo, não para mim — Jungkook disse.

— Não estou mentindo — rebateu.

— Está.

— Não estou.

— Está.

— Não estou.

— Está sim! — insistiu.

— Já disse que não estou — Jimin aumentou o tom de voz.

— Jimin? Com quem está falando? — Era a mãe de Park, perguntando no lado de fora do quarto.

Os garotos entraram em pânico, apagaram o cigarro imediatamente e esconderam o cinzeiro dentro do guarda-roupa, Jeon rolou para debaixo da cama, Jimin ligou o ventilador no máximo e deitou na cama, se enrolando na coberta e fechando os olhos.

— Jimin? — chamou novamente.

Logo a porta do quarto foi aberta, os garotos ficaram paralisados, Park estava concentrado em fingir que estava dormindo. 

— Esse garoto vive esquecendo essa janela aberta — a mulher reclamou, logo indo até a janela e fechando-o. — Hm… Que cheiro estranho… 

Ouviu passos pelo quarto, porém logo a mulher foi embora. Esperaram mais alguns minutos e então, Jimin sentou-se no colchão e Jeon saiu de debaixo da cama, logo sentando-se ao lado do amigo.

— Tem certeza que não vai me falar nada? — perguntou em um sussurro e Jimin apenas fechou sua expressão, voltando a deitar na cama e virando de costas para o moreno.

Jeon riu baixo, negando com a cabeça e deitou-se ao lado do amigo, cobrindo-se em seguida.

— Um dia você vai explodir, Ji.

"Se você continuar sorrindo para mim e me tocando, eu com certeza vou" — pensou o ruivo, contendo o suspiro. Era um puta pervertido.

Seu coração estava acelerado e ele nem sabia o porquê, sua cabeça estava uma confusão, era a primeira vez que tinha abraçado Jeon e estava simplesmente viciado na textura macia de sua pele, no seu cheiro de colônia suave e na quentura de seu abraço.

Ser apaixonado pelo melhor amigo não é fácil, principalmente quando você não tem a facilidade de expor seus sentimentos de forma clara, tão pouco coragem para isso.

Porque no fim, era o que Jimin era; um covarde apaixonado.

Sua lógica era simples, precisava se afastar de Jungkook para conseguir superar seus sentimentos a seguir a vida. Mas, porra, o maldito era seu vizinho, além de ser olhinhos adoráveis e brilhantes e uma áurea leve e harmoniosa, que trás luz e alegria para o ambiente em sua volta.

Sabia que o rompimento de sua amizade iria machucar o moreno, e a última coisa que desejava era arranjar mais problemas para ele. No entanto, sejamos honestos, Jimin no fundo, não queria seguir a lógica. Talvez fosse um masoquista emocional, mas ele gostava de ser apaixonado, de sentir o amor por suas veias e acelerar seus batimentos cardíacos. 

Confuso e covarde, esse era Park Jimin, o melhor amigo de Jeon Jungkook.

Depois da Aula || jjk+pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora