Ambição

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*A chuva fina caía sobre os ombros do jovem, que se apressava a carregar a carroça de lenha na noite fria. Seus braços, já cansados de horas a fio golpeando troncos, afrouxavam com o peso, mas ele persistia, esforçando-se para levar o necessário até sua casa.*

*Observava os arredores com receio, temendo um ataque de algum animal selvagem ou algo pior. Apesar do trato do reino com os moradores da floresta, isso não o acalmava. "Tenho que me apressar para chegar a um posto da guarda," pensava, apertando o passo no chão lamacento. Os sons dos trovões, corujas, e ocasionais passos misteriosos ao redor penetravam em sua mente, deixando-o inquieto e com o coração acelerado.*

*Urich nunca fora dotado de grande inteligência. Sabia que, ao cair da noite, era estritamente proibido por decreto real estar na floresta de Solíris. Contudo, se perdera no tempo durante a coleta de lenha ao fim da tarde, e só se deu conta quando a chuva começou a cair.*

*O medo e a ansiedade só se acalmaram quando avistou, a alguns metros, uma das torres da guarda na entrada da floresta. Com esforço, correu desajeitadamente até a torre de madeira de cerca de quatro metros de altura que havia à sua frente.*

*"Você está fora de si, garoto?!" exclamou um dos guardas, descendo apressadamente pelas escadas da torre. "Se um desses malditos pontudos o pegasse no território deles, você já era!" Ele apontou um dedo gordo e sujo de restos de comida para Urich. "Cinco moedas de prata ou o levo preso pela violação do tratado de Solíris!"*

*Desesperado, Urich largou a carroça, derrubando algumas toras de lenha. "Sou muito pobre, milorde, não creio que conseguirei lhe pagar," disse, apalpando os bolsos com uma expressão de tristeza.*

*"Pois então o levarei à capital; você trabalhará para mim como pagamento ..." resmungou o guarda. Mas antes que pudesse terminar, uma mão tocou seu ombro por trás, e uma voz firme e grave interrompeu: "Vertus! Abusando de sua autoridade novamente? E com um pobre garoto ainda por cima."*

*Urich estremeceu, não de medo, mas de admiração. As luvas aveludadas vermelhas e a armadura que estalava ao bater das gotas de chuva pertenciam, sem dúvida, a um dos homens da guarda de elite do rei, os Mãos Vermelhas.*

*"Alastor?" balbuciou o guarda da torre, baixando os ombros. "O que os Mãos Vermelhas fazem tão longe da capital?" perguntou, amedrontado.*

*"Isso não lhe convém. Apareça pela manhã na guarnição para entregar sua espada," disse o Mão Vermelha, jogando cinco peças de prata no chão sujo e batido de lama.*

*O guarda, mudo, se abaixou para catar as moedas, enquanto Alastor se dirigia a Urich. "Venha comigo, meu jovem."*

*Urich, eufórico, mal sentia o cansaço ao carregar a carroça. Observava a capa vermelha adornada com a folha dourada da capital real, imaginando-se usando aquela armadura. Muitas perguntas vinham à sua mente, mas não tinha coragem de fazê-las.*

*Enquanto caminhavam, dois Mãos Vermelhas se movimentaram pelas árvores ao redor, respondendo a um sinal do guarda. "De onde você vem, meu rapaz?" perguntou Alastor, desacelerando o passo.*

*"Sou de Surin, milorde," respondeu Urich com voz rouca e tom respeitoso.*

*"Me chame de Alastor. Que coincidência, eu também nasci em Surin..." Alastor começou a contar sobre sua vida, alertando Urich sobre os perigos e a importância de se manter cuidadoso. Falou sobre a prova de Aros e a oportunidade de se tornar um Mão Vermelha, entregando-lhe um broche dourado em formato de folha.*

*"Nós sempre observamos possíveis candidatos a guarda real, nosso trabalho não é nada fácil porém é muito recompensador ser útil e salvar vidas."

*Urich guardou o broche no bolso, agradecido e admirado. Seu coração se enchia de orgulho ao imaginar-se como um cavaleiro honrado e justo.*

*Quando chegaram ao vilarejo de Surin, Alastor se despediu, partindo em direção à capital. "Me esqueci de perguntar seu nome," disse ele, virando-se de volta.*

*"Urich, milorde, quer dizer ... Alastor" respondeu o rapaz com um sorriso.*

*Enquanto Alastor se afastava, Urich ficou observando, cercado por aldeões que apontavam e cochichavam, cheio de esperança ele segurava o broche em seus bolsos.

AlberionOnde histórias criam vida. Descubra agora