Capítulo único

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Os passos calmos ecoaram no corredor largo, uma breve caminhada silenciosa até o lado de fora, a luz do sol queimou a face quando deixou o local que parecia mal ventilado, o obrigando a respirar fundo na busca de ar limpo, devia ser pelo fato de que os olhos sempre tão atentos se mantinham fixos na trilha de gotículas de sangue no chão, isso o dava náuseas, apertava seu peito e roubava oxigênio. Sangue nunca foi bem-vindo, muito menos agora.

Parou no fim dos pontinhos vermelhos, a brisa da tarde balançou os fios brancos de cabelo, embora sujos de sangue e terra, mas seu estado era por total despercebido pelas poucas pessoas presentes na área externa, elas se preparavam para deixar o local, faziam os últimos afazeres dentro do templo sagrado, enquanto alguns iam, outros voltavam. E um pouquinho longe, sob uma frondosa árvore de flor de cerejeira, descansava dois montes cobertos por panos.

Sentiu uma péssima sensação subindo pela garganta, alfinetando as entranhas e se tornando incômodo demais. Shoko se encontrava perto, e Getou jazia ajoelhado ao lado de um dos montes cobertos, ele devia estar compartilhando de seu estado grandioso de frustração, e quase que podia ouvir a voz inconformada dele ecoando na cabeça.

[Nome] fazia parte do corpo estudantil Jujutsu, era apenas uma aluna primeiranista.

Mais cedo, nesse mesmo dia no qual deveriam entregar Amanai Riko para mestre Tengen, alguns reforços que foram solicitados para melhor segurança chegaram adiantados, Nanami e Haibara ficaram em cargo de proteger o aeroporto para que não ocorresse nada que prejudicasse a viagem, e [Nome] permaneceu de guarda na entrada da escola, tendo a missão de ajudar na escolta até o salão principal da Tumba das Estrelas, uma tarefa que foi reforçada por Getou com o argumento da exaustão nítida de Satoru.

" — Sim, Getou-senpai, farei de tudo para ser útil. — [Nome] bateu continência, parecendo um soldado muito fiel a seu superior, os olhinhos brilhavam por poder ajudar seus senpais que tanto admirava. Era uma oportunidade de mostrar sua força que Gojou sempre desdenhava em provocação, e não deixaria passar.

— Você não precisa fazer muito esforço. — Satoru não perdia uma única chance de perturbá-la, sorrindo por ter atingido o alvo.

— É claro que darei tudo de mim, uma missão é uma missão, mesmo que seja de escolta — disse ela e apontou para Amanai. — E não é uma escolta qualquer.

— Entendi, entendi, mas realmente não precisa, você pode voltar e terminar de pintar suas unhas.

[Nome] abriu a boca, escandalizada."

[Sobrenome] era uma criatura muito fácil de importunar, ainda mais portando uma personalidade tão sonhadora e elétrica, sempre fazendo de tudo para ser reconhecida por sua força amaldiçoada, mesmo que não tenha herdado técnicas muito bonitas de seu pequeno e não reconhecido clã de xamãs.

Ela tinha muitas coisas a se viver, muitas coisas a enfrentar.

Gojou sentiu as pernas protestarem ao agachar, ficando ombro a ombro com Suguru, o amigo tinha uma das mãos segurando o manto que cobria o corpo inerte até a clavícula, seus olhos escuros permaneceram secos, taciturnos ao se focar na face pálida da garota, nenhuma lágrima, apenas lamentações internas.

O rosto de [Nome] mantinha o eterno franzir leve das sobrancelhas, como se um sentimento hostil passasse por seu corpo em confirmação de algo. Um lado do rosto estava salpicado de sangue, uma mancha vermelha tomando conta do pescoço e da gola da camiseta branca que ela usava por baixo do uniforme escolar Jujutsu, o próprio pano que a cobria ganhou manchas grandes do líquido viscoso. Seja o que for que tenha acontecido, ela tinha sofrido danos demais.

[Nome] devia ter resistido até o fim, como a grande e corajosa xamã que sonhava ser.

Notou Haibara alguns passos à frente, os olhos perdidos em algum ponto entre a vegetação que circulava os templos, parecia um tronco oco, uma estátua em triste lamentação pela perda. Nanami não estava por perto.

— Eu não quero pensar que ela tenha tido uma morte agonizante. — A voz de Getou era baixa, quase um sussurro enquanto a mão dele percorria o rosto frio da jovem feiticeira, o polegar acariciando a bochecha sangrenta. — Essa baixa não devia ter acontecido.

Satoru ainda experimentava a alma anestesiada, uma leve fúria despontando nas íris azuis, o barulho das palmas dos membros da organização responsável pela morte de Amanai ecoavam nos ouvidos, sons irritantes que mais o levavam ao torpor do assassinato, do que mantinham seus pés firmes no chão. Teve vontade de reafirmar que assassinar os membros da organização não o faria sentir nada, mas Suguru sabia disso.

— Nanami não irá aparecer aqui. — Getou ergueu a cabeça, encarando Haibara que continuava preso no próprio luto. — Nanami e [Nome] eram namorados.

Deixou que um breve suspiro escapasse, a brisa trazendo algumas flores secas de cerejeira para perto do corpo de [Nome], e com uma delicadeza surreal, sutilmente pousou uma florzinha no emaranhado do cabelo dela.

As perdas ocorridas na missão de escolta de Amanai Riko não podiam ser estimadas, apenas sentidas. [Nome] possuía sonhos, objetivos, planos que a fazia seguir em frente, e infelizmente tudo isso foi destruído ao ela ter tido o azar de cruzar o caminho de Fushiguro Toji. Mesmo que Gojou tenha matado o responsável, nada no mundo faria [Nome] voltar.

Nanami perdeu a garota que amava, Haibara perdeu a companheira de equipe, e no fim, o relatório final da missão foi apenas mortes que poderiam ter sido evitadas.

Eu realmente sinto muito, [Nome].

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