Chama Antiga | Lewis Hamilton

01

Dizem que você nunca conhece o amor de verdade até perdê-lo e, no seu caso, nada foi mais verdadeiro. No momento em que você não tem mais amor, você percebe o quanto ele tomou conta de toda a sua vida. O amor não vai embora, não desaparece, em vez disso, apodrece dentro de você, borbulhando sob a superfície e com o tempo você o sobrecarrega com mais normalidades do dia-a-dia da vida. Ainda está lá, apenas esperando o momento perfeito para ressurgir e foder completamente seu cérebro.

"Bom dia senhora." O mensageiro falou enquanto você descia para o saguão. Era seu último dia na conferência de trabalho e, se você fosse completamente honesta, mal podia esperar para chegar em casa, tinha sido um fim de semana muito longo de socialização que a tirou do melhor dos tempos.

Você ficou grata quando o elevador estava vazio, estava 15 andares abaixo e a última coisa que você precisava agora antes de tomar seu café da manhã era uma interação forçada desnecessária. Você percorreu três andares inteiros antes que o elevador parasse para pegar novos passageiros. As portas se abriram e você instintivamente manteve a cabeça baixa, para evitar contato visual com o estranho. Seu cérebro não conseguiu identificar qual era o cheiro familiar no início, mas no momento em que o fez, seu estômago caiu. Você olhou para cima e era ele. Ele estava olhando para você, igualmente consternado com o encontro casual.

"Oi." Ele murmurou.

Oh não, oh não não não. Você queria gritar, queria arrombar as portas e sair da tumba sufocante em que se encontrava, mas não havia escapatória. Você ficou preso aqui, com ele, por pelo menos mais 12 andares. Seu cérebro repetiu a linha de voz do seu personal trainer dizendo para você sempre subir as escadas como uma maneira rápida e fácil de fazer algum exercício, sabendo que neste momento também salvaria sua vida. Por que você não subiu as escadas?

"Oi." Você respondeu, sentindo-se grata por a palavra ter saído coerentemente porque seu cérebro não estava em nada além do modo de pânico.

"Você parece ótima." Ele sorriu para você, aquele sorriso tão familiar que agora fazia você querer arrancar seu coração e jogá-lo nele.

"Obrigada, você também." Isso não era uma mentira, ele fez. Ele parecia incrível, se você estivesse sendo perfeitamente honesta. Ele parecia estar envelhecendo como um bom vinho e você nunca se sentiu tão... velha.

A campainha do elevador tocou quando ele parou no térreo, você poderia finalmente escapar. Você passou por ele, suas pernas parecendo gelatina e sua visão turva de pânico, mas você conseguiu. Você tinha certeza de que teria passado direto por ele e saído pelas portas da frente do hotel se ele não tivesse chamado seu nome. Você nem precisava olhar para trás, poderia fingir que não o ouviu em meio à agitação do saguão, mas o fez, o instinto dentro de você significava que não podia não. Ele sempre teve esse efeito em você, você nunca poderia ignorá-lo.

"Onde você esta indo? Podemos ir tomar um café?" Ele estava a centímetros do seu rosto e você não queria nada além de beijá-lo, por que você queria beijá-lo? Ele é o inimigo, você o odeia.

"Não posso fazer, desculpa. Eu tenho que estar em uma conferência de trabalho. Foi bom ver você embora. Se cuida, Lewis."

Você o deixou parado no saguão, provavelmente tão chocado quanto você com sua nova confiança. No momento em que o ar fresco do ar livre a atingiu, você correu o mais rápido que pôde, parando apenas quando seu corpo não podia mais se mover fisicamente e então caiu contra uma parede, ofegante. Pela primeira vez em vinte minutos, parecia que você realmente podia respirar.

Desnecessário seria dizer que o seu dia foi um show de merda. Você tentou ao máximo se concentrar no que estava realmente sendo discutido na conferência, por mais chato que fosse, você precisava de algo para impedir sua mente de correr com um milhão de pensamentos dele. Não funcionou, porém, você não conseguia parar os pensamentos.