— É ali! — Zahid aponta.
Desço de Breu observando a ruína com uma fumaça subindo e alguns cavalos presos.
— Vamos nos separar. Zahid, direita. Steven, esquerda. Vou pelo meio tentar uma conversação. Me deem cobertura e prestem atenção ao meu assobio. Não morram! — digo sem pressa.
Os dois concordam e se separam.
Vou pela frente analisando o lugar. Olho o palanque e há quatro cavalos amarrados, ao lado uma carroça.
Que tipos de caçadores de recompensa usam carroças de madeira?
Suspiro pelo que me aguarda. Matheew me pagará.
Entro na ruína e vejo três tendas e uma fogueira com pessoas ao redor. No fundo vejo Matt amarrado em um tronco de árvore virado para o sol quente fritando sua pele. Reviro os olhos.
— Senhores... — falo chamando atenção de todos, que levantam imediatamente dos troncos ao redor da fogueira, com suas armas nas mãos apontadas para mim. Observo alguns saírem das barracas. São nove. — Sou Samira Anderson da Wolves Kings, já devem ter ouvido falar de mim. — digo abrindo os braços. — Meu chefe tá me perturbando para resgatar aquele idiota ali. Por mim, eu o deixaria com vocês mas eu gosto de agradar meu líder. Então, ao redor dessa ruína, tem dois dos melhores atiradores que conheço, prontos para estourarem os miolos de vocês. — alguns olham ao redor. — Para nos esquivarmos disso, me entreguem o garoto e evitaremos uma catástrofe. — termino colando as mãos em meu quadril.
— Como vamos saber se não está blefando? — um cara com o chapéu mais feio que já vi, diz.
— Testem. — dou de ombros.
— Ela tá mentindo. Atirem nela. — um outro cara do grupo, fala.
Assobio. Ouve se barulhos de tiros e dois homens do grupo adversário, caem mortos.
— Eu avisei. — levanto as sobrancelhas rapidamente. — Entreguem logo o garoto. Já estou ficando impaciente!
— Atirem! — outro diz.
Assobio e todos caem mortos menos o cara de chapéu feio, que havia se jogado no chão com medo.
— Então, filho... — me aproximo do homem. — O que vai ser?
— E... e... eu vou embora! — ele gagueja tentando se levantar, até que se ergue e sai cambaleando.
Quando ele está quase sumindo de minha vista, o chamo.
— Ei! — o moço me olha quase chorando. — Você não me viu aqui! Certo?!
— C... ce... certo, certo! Obrigada por... por me deixar ir. — diz.
Balanço a cabeça para os lados.
— Suma, antes que eu mude de ideia. —vejo-o arregalar os olhos, começando a se tremer novamente e correr o mais rápido que pode.
— Fizemos todo o trabalho, Samira. —ouço a voz rouca e decepcionada de Russel.
— Eu me expus ao perigo. Poderiam acertar uma bala na minha cabeça, mas me mantive firme.
— Ela está certa. Nós não corríamos muito perigo, Steven. – Zahid me apoia e Russel faz uma careta.
— Oi! Sem querer incomodar, meu cérebro está derretendo já... — Matthew chama nossa atenção para ele.
— Que cérebro? — Zahid zomba baixinho e tento esconder o riso.
— Deveria ficar aí mais tempo, refletindo o quão imbecil você é.
— Ah, Samira! Admita, você me ama! — Matt diz esperando que eu corte as cordas que o prendem.
— Se dependesse de mim, eles poderiam tê-lo levado! — corto-as e ele levanta rapidamente se espreguiçando.
— Já sinto o gosto do que é estar de volta.
Reviro os olhos.
— Mohammad, leve Matthew para escolher um cavalo no estábulo em Lobury. Passem despercebidos, não criem confusão por lá! – termino dando dinheiro a Zahid.
— Não disse que ela me ama? — Matt profere convencido, apoiando-se com um braço na parte de trás da égua de Zahid.
O animal estranha o toque e desengata um coice em Matthew. Zahid e Steven caem na gargalhada.
— Ela deve o amar tanto quanto eu. — digo subindo em Breu, deixando escapar o riso. — Ajudem ele. — tento me conter.
Matt geme quando é levantado por eles, que colocam-no na égua.
— Prontos? Vamos voltar, separados! Encontro-os no acampamento. Fiquem espertos, não sejam seguidos.
Zahid e Steven assentem. Russel sai pela esquerda e Mohammad pela direita.
Fico parada encima de Breu, esperando que ambos se afastem mais.
Quando estão fora do meu alcance, desço do cavalo e vou na direção em que o homem do chapéu feio foi.
Talvez ele tenha informações.
Corro mais para frente e paro em um campo aberto. Olho para chão e vejo pegadas indo ao centro do campo. Sigo-as.
Paro exatamente no meio do campo, dando me conta de uma movimentação na grama alta.
Só tive tempo de me jogar no chão ao escutar o primeiro disparo de muitos.
Merda!
Talvez haviam outros deles por perto e o homem de chapéu feio deve ter aberto a maldita boca. Eu deveria imaginar.
Me deito com o peito para baixo. Tiro o meu chapéu sorrateiramente e destravo as duas pistolas.
As balas cessam e o um silêncio angustiante se instala. Tento manter minha respiração padronizada, mas ela insiste em ser rápida.
Ouço passos se aproximando e prendo a respiração, apertando sutilmente minhas pistolas.
— Acho que a pegamos. — homem um.
— Talvez ela ainda esteja acordada. — homem dois.
— Se estivesse, já terei nos matado. — homem três.
— Se aproximem devagar. – homem dois.
Três vozes diferentes, três homens. Pode ter mais.
Sinto uma mão tocando em meu ombro e me balançando.
— Acho que morreu. — homem três.
— Pegamos essa vadia dos infernos! — o homem dois ri.
Me viro e atiro nos dois homens mais próximos a mim que caem mortos. Entretanto, meu dedo não disparou o tiro que derrubou o terceiro homem.
Estico-me no chão novamente.
Caçador concorrente?
— Nem precisou assobiar. — ouço a voz de Russel e finalmente consigo respirar.
— Droga, Russel! Quase me matou do coração!
Steven revista o homens mortos sem se importar comigo.
Me levanto e pego em meu chapéu.
Russel balbucia alguma coisa atrás de mim mas eu não presto atenção.
Arregalo os olhos pelo que vejo. Um furo bem no centro de meu velho amigo. Atiraram em meu chapéu. Bem no meio.
Fecho o cenho e expremo as mandíbulas.
— Que houve? — ouço a voz de Steven vindo de trás de mim.
Coloco o chapéu e me viro para o mesmo.
— O que você acha?
Steven tenta disfarçar sua expressão de "quero me jogar no chão e rir até não poder mais.", mas é inútil.
Tenho vontade de enfeitar sua cabeça com uma bala.
— É só um chapéu, Samira. — o moreno tenta se conter.
— Vou conserta-ló! — viro-me indo na direção de meu cavalo.
— Onde? Lobury é uma cidade muito simples para isso! — ele tenta me desmotivar.
— Vou conserta-ló! — falo ainda andando.
— É muito caro consertar um chapéu desse estilo.
Continuo procurando Breu.
— Que merda, Russel! Vou conserta-ló! Onde está aquele maldito cavalo?!
— Samira... — olho para o cowboy furiosa. — Ele está do outro lado, de onde você veio.
Vejo Breu do outro lado do campo. Suspiro e vou em sua direção.
Paro e viro-me para Steven.
— E o que você está fazendo aqui? — falo colando as duas mãos em meu quadril.
— Acho que a pergunta é, o que você está fazendo aqui? Por que voltou? — Steven cruza os braços.
— Sr. Russel, não tente me enrolar. Eu fiz uma pergunta a você.
— E eu a respondo. Te segui. Vi que voltou e a segui. Agora, Samira... e você?
Levanto as sobrancelhas por sua coragem de me peitar.
— Não lhe devo satisfações. — volto-me novamente em direção a Breu.
— Estava procurando ele, não estava? — fecho meus olhos suplicando para que ele não comece a falar desse assunto. — Samira... — Steven anda rápido atrás de mim. — Já faz tanto tempo... e... acho que...
— Como disse, não lhe devo satisfações. — subo em Breu.
— Sam, todos sabem que você não gosta de falar sobre esse assunto mas eu lhe digo, o que aconteceu não foi culpa sua! Ben fez sua escolha. — Steven suspira. — Eu também estava procurando... — fito-o. — Conte comigo para ajuda...
— Cuida da sua vida, Russel. Eu não estou procurando ninguém.
Impulsiono o cavalo para que ele corra, me afastando de Steven.
Merda! Ben... Só de ouvir o nome dele meu coração se despedaçou novamente. Eu tento esquecer, tento ter uma boa noite de sono. Tento me convencer que realmente não foi culpa minha mas então, eu lembro do desastre que eu causei. Se não fosse por mim, Ben estaria conosco.
Cavalgo velozmente rumo ao acampamento. Não gostaria de voltar hoje. Quando eu chegar, Steven irá me interrogar e eu não tenho paciência para tanto.
Me afastar algumas horas do acampamento, fará bem. Esfriar a cabeça, pensar em possíveis perguntas de Russel e elaborar respostas convincentes. E para isso, preciso beber!
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Entre sangue e lealdade
Aventura"Até onde você é capaz de ir por lealdade, Samira?" Até onde você iria por alguém que o criou e o amou? Quem você mataria por fidelidade? O que você se tornaria por amor? Samira cresceu em meio a uma gangue de cowboys e se...