Novos pacientes chegaram ao hospital. Esses apresentavam os mesmos sintomas daqueles que estavam internados. Existia apenas uma diferença: os novos não haviam sido atingidos ou sequer estavam próximos à zona de impacto dos asteroides. Em questão de uma semana a contaminação havia alcançado 15% da população mundial, nos deixando com mais uma pergunta sem resposta: Como diabos iríamos evitar que as pessoas ficassem doentes?

Nesta manhã, o recém nomeado presidente do Brasil resolveu tomar uma decisão que muitos consideram como inaceitável. Em declaração o presidente disse:

"É de conhecimento de quase todos que recentemente tivemos diversos casos de pessoas vítimas de uma substância conhecida como Tujona. Temos comprovações de que isso está acontecendo por causa de uma contaminação na água de todo o planeta. Por isso, tomamos a decisão de trancar todo o fornecimento, potável ou sanitária, para qualquer residência ou estabelecimento. Também apelamos para que aqueles que morarem perto de regiões litorâneas ou que contenham qualquer quantidade de água permaneçam afastados da região. Informamos que não temos um prazo para que o problema seja solucionado, mas estamos trabalhando arduamente para que tudo volte ao normal em breve."

— Nesta tarde tivemos a primeira manifestação contra a escolha do presidente — prosseguiu a âncora. — Entre as diversas reclamações, podemos, principalmente, ver a insatisfação pela privação de um dos direitos constitucionais. Vejam algumas imagens:

— Esse povo tem problema? — comentei assim que engoli a janta.

— Provavelmente estão usando isso como oportunidade para apenas criticar a nova gerência — Lucas riu.

— Como iremos cuidar e manter a saúde dos pacientes sem poder utilizar água? — continuei.

— Eu acho que o problema vai muito além. Quanto tempo isso irá durar? As pessoas podem morrer de sede antes mesmo de o governo conseguir encontrar uma solução.

— Sim. Nós estamos tratando os sintomas há semanas e não conseguimos encontrar a cura para uma única pessoa que seja.

— Nós vamos morrer, mamãe? — Lara falou e eu me assustei com sua presença no canto da porta.

— Meu Deus, querida, o que está fazendo aqui?

— A vovó dormiu, mas eu estou com sede — Meu corpo congelou. Naquele instante eu percebi que seria obrigada a recusar um copo de água para minha filha.

Eu me levantei e comecei a revirar os armários.

— O que está procurando?

Puxei uma caixa de suco e procurei pela data de fabricação, me senti aliviada ao perceber que foi feito antes da queda dos asteroides. Coloquei em um copo e levei Lara para o quarto. Dei um beijo de boa noite em sua testa e prometi que tudo ficaria bem.

Aquilo era uma promessa para ela, mas uma mensagem de motivação para mim. Desde a morte de Arthur, isolei cada vez mais minha mente de qualquer pensamento envolvendo a saúde de minha filha. Claro que os sintomas não deixariam de aparecer só porque eu queria. Mas continuaria desejando.

— Lucas — comentei ao me sentar à mesa. — Precisamos passar no mercado, estocar tudo o que foi produzido antes do dia 31, e precisa ser hoje.

— Eu ia falar isso, e... — Ele segurou minha mão com força. — Acho que deveríamos ficar em casa.

— Como assim? — O observei, mas ele continuou em silêncio. — E nosso trabalho?

— Eu sei que você vai odiar, mas eu acho que está na hora de cuidarmos de nós dois e de nossa família. Se... — ele engoliu antes de falar. — Se for o fim do mundo mesmo, nada do que estivermos fazendo no hospital irá importar.

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⏰ Última atualização: Feb 24, 2022 ⏰

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