— Você está me assustando. — eu disse. Demorei um pouco antes de finalmente tomar coragem e nesses longos e prováveis quinze minutos, ele não pronunciou ou demonstrou nada que me ajudasse a entender o que estava acontecendo. Quer dizer, eu estava com medo e cansada, sentada em um banquinho desconfortável e cheia de pressão por cada levantar de caneca que ele fazia questão de realizar em câmera lenta.
Tomei mais um gole de café e tentei mais uma vez tossir.
Nada.
— Eu posso ir embora?
— Não.
A resposta veio rápida, bem mais rápida do que eu podia raciocinar. Precisei de mais uns segundos sorvendo respiração antes de me constranger ainda mais.
— Como?
— Não. — ele voltou a repetir como se fosse óbvio. E talvez realmente fosse. Não para mim, no entanto.
— Eu não estou entendendo.
— Sim, eu imaginei que você não entenderia.
Espera. Isso foi um insulto?
— Ei.
— Nas duas vezes que encontrei com você, eu quase morri. E eu não consegui perceber um sinal de arrependimento no seu rosto e já estamos aqui fazem 23 minutos.
Espera. Espera. Espera. Morrer. Duas vezes. 23 minutos. Arrependimento.
— Você estava esperando um pedido de desculpas?
— Sim. — seu tom era calmo, mas algo me cutucava, — provavelmente um sentido além dos comuns — ele não estava feliz o suficiente para permanecer tão impassível desse jeito. Escondia algo. Quer dizer, seus braços rígidos e olhar duro praticamente perfuravam toda e qualquer espécie de defesa que eu pudesse ter ou criar naquele momento. São características e sentimentos opostos.
Eu devo ter ficado um tempo abrindo e fechando a boca, procurando uma resposta. Tentando entender o que aconteceu, desde o começo, para que tudo isso acontecesse do jeito que aconteceu. Estávamos em uma tendinha de bebidas, na rua, de noite, com pessoas de todos os tipos ao redor e tendo uma conversa esquisita ao extremo. Quem era ele? Como eu, uma pessoa comum, teria o feito morrer quase duas vezes? Não faz o menor sentido. Muitas coisas não fazem sentido desde que eu escolhi morar na Coréia, mas isso, isso definitivamente é a coisa mais sem sentido de todos os tempos.
— Desculpa.
Sim. Eu pedi desculpas. Eu não tinha ideia do porque estar pedindo desculpas, mas de qualquer forma, eu pedi. Não iria entender se ele tentasse explicar e com certeza ele não iria nem tentar começar. Ele levantou da cadeira. Deixou o dinheiro em cima do balcão e ajeitou aquela jaqueta de couro preta. O maldito parecia um verdadeiro badboy de filme americano, só que um pouco mais esquisito que o normal.
— Eu não pretendo te deixar em casa, então se seu objetivo é pegar um ônibus, sugiro que comece a correr. — ele arqueou uma das sobrancelhas escuras e deixou com que eu misericordiosamente conferisse seu relógio.
— Droga.
Droga. Grande droga. Eu não sabia para que lado ir. Não sabia o porquê de o ter acompanhado até aqui e de ter aceitado conversar com uma criatura pretensiosa e tão prepotente. Ele poderia pelo menos me dizer qual a direção do ponto de ônibus mais próximo. Mas não, antes que eu pudesse começar a reclamar, ele sorriu e, — Boa sorte.
[...]
O ônibus parou na frente do meu prédio bem tarde da noite, tarde o bastante para que eu começasse a querer chorar de raiva e desespero. Poucas horas de sono para um longo dia de trabalho. As iguanas não tiveram pena de mim, nem um pouco, fizeram uma bagunça enorme, mas eu não me importei de deixar para mais tarde.
O abafado do chuveiro depois de um banho bem tomado fez com que pelo menos 10% da minha raiva passasse. Acabei enchendo uma tigela com cereal colorido. Tempo e disposição para fazer um jantar decente não existiam.
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Lámen Festival
FanfictionLaura não tem grandes sonhos e menos ainda esperanças de realizar grandiosidades, mas sua vida vira de ponta cabeça ao conhecer duas personalidades extravagantes e ao mesmo tempo tão diferentes. Kai e Chanyeol mudariam tudo o que ela conhecia.