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A minha vida deu uma volta desde que saí do orfanato que Mrs. Wood mandava. Nunca mais ouvi falar nela e também não é algo que me preocupe. Passaram-se anos desde que me mudei para este orfanato e tentei suicidar-me. Desde ai que conheci novas pessoas dos quais posso chamar de verdadeiros amigos, incluindo o Ashton. Nunca pensei que alguma vez fosse ter uma amizade tão duradoura e forte com uma das pessoas que mais admiro, ainda por cima, virtualmente. Nós nunca tivemos oportunidade de nos conhecer. Quando eles estiveram em Londres eu não consegui ir ao concerto.

"Já sabes se conseguiste alguma bolsa?" A Sophie pergunta-me esperançosa enquanto conduz o carro até ao orfanato.

"Sim, já sei." A minha voz saiu num sussurro triste.

Sinto o seu olhar em mim e depois solta um suspiro; ela percebeu que eu não tinha conseguido a bolsa.

"Sabes que eu não consigo manter-te no orfanato. Já tens 18 anos e acabaste o secundário. As coisas estão difíceis para manter-mos lá mais alguém."

"Eu sei. Por isso estive à procura de emprego e fui aceite numa loja de música aqui na cidade. E eu vou arranjar um pequeno apartamento para mim." Conto e dou um pequeno sorriso a Sophie, pois sei que ela está triste por não conseguir ajudar-me.

"Tenho muita pena que não possas estudar, Rose." Lamenta e estaciona o carro em frente ao orfanato.

"Está tudo bem, Sophie." Asseguro. "Eu vou juntar dinheiro para no ano que vem entrar na universidade e também posso trabalhar enquanto estudo, não é?"

"Sempre otimista, mesmo depois de tudo o que passaste!" Abraça-me e deixa um beijo na minha face.

Entramos no orfanato e eu vou para o meu dormitório passando por várias crianças. Sento-me na cama e abro o Twitter no meu telemóvel. Tenho uma notificação nas Mensagens Diretas e já posso adivinhar de quem seja.

Mensagens Diretas > com Ashton

Ashton5SOS: Rosie!

Rosexx: Sim, Ash?

Ashton5SOS: Achas que devia cortar o meu cabelo?

Rosexx: Definitivamente, não! Gosto de te ver com o cabelo assim :)

Ashton5SOS: Então não o corto por nada deste mundo!

Rosexx: Idiota hahaha

Ashton5SOS: E já sabes se vais conseguir a bolsa?

Rosexx: Não consegui :( Estive a pensar em arranjar um emprego e um apartamento e juntar dinheiro para o ano que vem. Já consegui emprego numa loja de música.

Ashton5SOS: Oh :( Não fiques triste, linda, tenho a certeza que vais conseguir para o ano.

Ashton5SOS: Quer dizer, já te tinha dito que te pagava os estudos, mas tu não queres...

Rosexx: Pois não, Ashton, não quero.

Acho querido ele querer pagar algo que eu sempre quis, mas não seria sensato da minha parte aceitar, ainda por cima eu sei que ele não iria levar isto como um empréstimo.

Agarro a mala viagem que está em cima do meu pequeno guarda-fato e coloco-a aberta na minha cama. Retiro todas as roupas que tenho dentro do guarda-fato e meto-a na mala dobrada. Não tenho muita roupa, mas é o suficiente. Coloco alguns livros que comprei e outros pertences também na mala preta. Eu quero ir embora o mais depressa possível daqui, não por não gostar de aqui estar, pois esta é a minha família, mas sim porque eu sei que o orfanato está em dificuldades e quantas menos pessoas melhor.

"Mrs. Brooke, sabe onde está o jornal de hoje?" Questiono assim que chego à cozinha.

Mrs. Brooke é uma mulher já com alguns cabelos brancos e é a cozinheira do orfanato. Todos gostam dela. Sophie é a diretora do orfanato. Ela tem 30 anos e, em tempos, foi uma das crianças que foi deixada à porta deste local. Ela é uma mulher muito atenciosa e sofreu muito. Eu admiro-a imenso e apesar dos 12 anos de diferença, eu vejo-a como uma irmã que nunca tive. E ela é uma das razões mais fortes pelo qual me custa deixar este lugar. Claro que também vou ter saudades de todas as crianças e de Mrs. Brooke.

"Está ali em cima, Rose." Aponta para o balcão.

Agarro no jornal e volto para o quarto. Procuro pela página onde estão os apartamentos e vejo se há algum mais barato. Há um que é perto daqui e da loja de música e não é muito caro. Marco o número no meu telemóvel e espero que alguém do outro lado atenda.

"Sim?" Uma voz masculina soa através do pequeno objeto encostado à minha orelha.

"Bom dia, eu chamo-me Rose e vi o seu anúncio no jornal." Falo um pouco tímida.

"Bom dia, Rose. Será que amanhã às 15 horas podes vir até ao apartamento?" Interroga.

"Ok, lá estarei." Declaro.

"Ok, então adeus." A sua voz é, de certa forma, simpática.

"Adeus." Despeço-me.

Estou pronta a desligar quando a sua voz fala de novo.

"Oh, já agora, sou o Jacob." Diz atrapalhado.

"Hmm, então até amanhã, Jacob." Desligo a chamada antes de ele responder.

Esta chamada foi estranha. Pelo menos ele parece simpático e não aparenta ser um daqueles velhos que fazem visitas guiadas constrangedoras pela casa.

A porta é aberta e a Sienna entra.

"Desculpa, não sabia que estavas aqui." A única rapariga do orfanato que é negra exclama e depois fica sem reação ao olhar para a mala onde estão as minhas coisas. "Vais te embora?"

"Sim, eu já tenho 18 e acabei o secundário. As coisas também não estão fáceis e não posso ser um fardo para a Sophie."

Uma lágrima escorre pela cara da rapariga e eu vou abraçá-la. Há um mês e meio que a Sienna cá está e ela não se adaptou logo de início. Ela tem 16 anos, a mesma idade que eu tinha quando os meus pais tiveram o acidente, e todas as crianças do orfanato não têm mais de 11 anos. Então eu tornei-me próxima dela neste pequeno período de tempo porque só eu a compreendo. É normal que assim ela esteja, ela vai sentir-se sozinha.

"Não chores, tenho a certeza que a Sophie vai deixar que passes algumas tardes e fins-de-semana comigo. E eu venho visitar-vos!" Tento acalmá-la.

Passado algum tempo ela afasta-se devagar e sorri-me.

"Vou sentir a tua falta." Suspira ainda com os olhos vermelhos.

"Eu também." Admito sorrindo de leve para animá-la.

Saímos as duas do dormitório e vamos até ao jardim que rodeia o orfanato.

"O Ashton já sabe?" Percebi que está a falar da minha saída do orfanato.

A Sienna e a Sophie são as únicas que sabem que eu falo com o Ashton. Não que não confie nos meus outros amigos, porém o Ashton é uma celebridade e não convém que isto se espalhe. Não seria bom para mim nem para ele.

"Já sabe." Digo simplesmente.

"Eu acho que vocês os dois ainda vão acabar juntos!" Exclama e eu solto uma gargalhada.

"Não acredites nisso, é impossível isso acontecer."