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| Barão |

Encarei o cara na minha frente, parecia um franguinho assustado

- Eu juro Barão, eu não falei nada cara, eu juro...- ele choramingou me olhando

- Eu não acredito em você, porque homens como você, se é que eu posso te considerar um homem, fazem e falam tudo sob pressão - encarei ele me abaixando na direção da cadeira que ele estava sentado - Eu nem precisei de muito pra fazer você me dar pequenas informações, uma arma e uma cara um pouco mais séria e você já tá se borrando todo - debochei dando risada

- Por favor não me mata, eu tenho uma filha, uma bebezinha em casa...- ele choramingou derramando as lágrimas mais falsas que eu já vi na minha vida

- Você deveria ter vergonha - falei me levantando e atirando em sua cabeça, o sangue jorrou para os lados e eu me virei pra sair da sala, um dos caras que estavam lá me olhou assustado - Ele não tinha porra de filha nenhuma, tinha a ficha dele nas mãos desde que soube o que ele andava fazendo, joga pros cachorros - expliquei e mandei, o cara concordou e eu sai do forno

- Foi pro saco? - Dado perguntou

- E já foi tarde - respondi e ele concordou - Já organizou pro baile do fim de semana? - perguntei

- Claro pô, tudo comprado do bom e do melhor, tem carregamento chegando na estrada 4537 - ele falou o código

- Manda o Pierre e o Fael subir pra organizar isso direitinho, e é subir armado, da última vez tivemos problemas por lá e se eu perder outra remessa importante cabeças vão rolar por esse morro a baixo - avisei e ele concordou calado

- Sabe da Cacau? - ele perguntou

- No meu bolso que não tá - brinquei e ele fez careta

- Engraçadão em - ele franziu a testa

- A irmã é tua meu parceiro, sei dela não - avisei

- Ela tá te rodeando muito, por isso perguntei - olhei pra ele - Você sabe como ela é quando coloca alguma coisa na cabeça - continuou

- Sua irmã é um caso sério, mas te garanto, comigo ela não vai conseguir nada, você sabe como eu sou com relação a isso, um bom sexo sem compromisso é a minha praia, mas irmã de amigo meu, é homem barbado - respondi pra ele com sinceridade

Não tem nada que eu ache mais fudido que pegar a irmã dos parceiros, ainda bem que eu não tenho irmã, estraçalhava qualquer um que tentasse alguma coisa com ela

- Vou subir, se ver ela me dá um salve - concordei e ele vazou

Subi na moto e subi pra minha casa também, tava morto de fome, estômago quase no cérebro, falei com uns vapores na porta e entrei, guardei a chave da moto na mesa e caminhei pra cozida

- O almoço tá quase pronto - ouvi de Cida, a moça que limpava e fazia a comida na minha casa

Meu pai era chefe do morro antes de mim, morreu em um confronto e eu não sei e nem quero saber da minha mãe, ela fugiu com um cara do asfalto e me largou com o meu pai quando eu era muito novo, nem me lembro do rosto dela, graças a Deus também, meu pai podia ser o que fosse, mas ele nunca me abandonou, me defendeu até seus últimos dias, me treinou pra que eu ocupasse o seu lugar, e hoje eu faço o que posso para garantir que todos no morro vivam uma vida parcialmente boa.

Garantindo que a escola e a creche daqui não feche por falta de verba, que o postinho continue tendo os remédios que precisa pra se manter e cuidar de todos os doentes e feridos que chegam por lá, e que os bares e os restaurantes continuem recebendo os alimentos e bebidas, se mantendo do jeito que da.

Tomei um banho antes de descer pro almoço e me sentei ao lado de Cida pra almoçar, ela é uma boa mulher, não tem filhos mas me trata como se eu fosse um, gosto do jeito que ela cuida da minha casa e das minhas coisas, ela é a única que tem a liberdade de entrar e sair da minha casa quando quiser. Poucos entram aqui, com frequência somos apenas eu, ela e Dado, que é o cara mais firmeza que eu conheço.

- Tá bom pra caralho em - falei com Cida comendo mais um pouco de macarrão

- Eu sei, fui eu que fiz querido - ela sorriu, eu retribui o sorriso e continuei comendo.

Vida bandidaOnde histórias criam vida. Descubra agora