Quero uma vida leve
Como os orientais
As rugas do tempo
Não de preocupação
Parei de ler jornais
Na TV ou internet
Me perco nos canais
Rede do ódio
Tem más noticias
São tristes demais
Quero o mundo justo
Ingênuo, como de criança
Continua na juventude
Mas some com a idade
Enganosa esperança
Quero ver realidade
Que não inspire a ficção
Baseada em fatos reais
Holocausto, Ruanda, Canudos
Outra vez, nunca mais
Quero ser como meus amigos
Status, carreira
Terno de linho, cabelo com gel
Um salario maior
Missa aos domingos
Meu lugar no Céu
Duas vezes por ano, poder viajar
Quando o tedio bater
Compro qualquer coisa
Ou ligo meu celular
Quero não me importar
Ver uma criança na rua
Um mendigo deitado
Fingir que não vejo e apenas desviar
Afinal, minha parte já fiz
Estudei, votei, paguei impostos
Não discrimino ninguém
Mereço ser feliz
Tem uma voz sussurrando
Sempre a me lembrar
Que o fracasso do meu povo
Também é meu
Não dá para dissociar
Quero ser mais alegre
Sorrir, fazer piada
Como meu povo
Fazer de nossas mazelas
Uma estória engraçada
É que o riso cura
Terapia
Riso é alienação
É a minha afasia
Quero gastar meu dinheiro
Comida, bebida, viagens
Quero mais experiências
Quero menos terapia
E as dores da idade
Quem cura é a ciência
Prefiro os que me odeiam
Aos que tem pena de mim
Não quero dó, nem caridade
Sou mesmo assim
Ou dever ser fase
É crise de meia idade
Não é depressão
É sei lá o quê, alguma coisa
É um grito preso
Autorreflexão
Quero ver meus filhos crescerem
Majestosos como a sequoia
Voando livres como águia
Voltando para casa
Como ave migratória
Não sei discutir com a boca
Apenas com as mãos
Fujo de brigas
Amo a todos
Como família
Como meus irmãos
Quero abraços longos
Amor tórrido
Tudo que é morno, é mórbido
Quero elogios, apreço
Quero nada menos
Do que acho que mereço