Capítulo 13

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HARRY POV'S

"Você é demais, te devo uma"

A mensagem do Sam na tela do meu celular não tornou meu dia melhor. Eu achei que aquilo tudo seria bem mais fácil, eu achei que seria apenas mais uma das minhas artimanhas, não passaria de mais uma, mas agora eu estava cogitando a ideia de ter me enganado e isso não era legal.

Eu ainda não sabia dizer o que ela tinha que todas as outras com quem já fiquei não tinham. Ela era linda, sim, não dava para negar, nem o cara mais idiota do mundo faria isso, ela tinha um corpo invejável, um rosto impecável, eu poderia passar horas olhando os cabelos castanhos e levemente ondulados dela, um par perfeito com seus olhos, que na noite passada estavam escuros, mas brilhavam quando ela me olhou através do reflexo do espelho daquele velho armário.

Além de um físico caprichado pela natureza, Anne tinha algo dentro dela que me deixava literalmente louco, ela despertava em mim algo que eu não estava habituado a sentir, era forte, mais do que pensei que fosse, e eu precisava tirar isso de mim, ainda mais agora que ela me disse que não poderia, que não poderíamos. Droga.

O som de uma buzina corta meus pensamentos e eu finalmente noto o semáforo verde, canto com os pneus quando saio do cruzamento, não podia deixar de fazer isso, mesmo errado eu não queria perder a pose. Alex tinha passado o final de semana inteiro me mandando mensagens, queria me ver, eu ignorei as primeiras, mas quando aquilo se tornou periódico eu resolvi lhe responder e quase pude ouvir seu canto de vitória quando o fiz.

"Onde você está?"

Eu mando a mensagem para ele quando paro o carro próximo de um estacionamento de um velho supermercado a beira da falência. Tive que esperar dez minutos intermináveis até que ele finalmente me respondeu.

"No lugar de sempre"

O lugar de sempre era a parte de trás do depósito praticamente vazio desse velho supermercado, desci do carro impaciente e fui caminhando em direção ao "lugar de sempre". O depósito ainda tinha caixas, soltas em lugares quaisquer, algumas estavam destruídas pela ação da natureza, outras fediam, devia ter alimentos estragados ali, o dono do maldito supermercado gastava tudo o que ainda lhe sobrava apostando em bares locais, enquanto o local entrava em ruínas, era um verdadeiro desperdício de dinheiro e isso me deixava nos nervos.

- Quem é você?

A voz corta meus pensamentos mais uma vez e eu ergo meus braços em sinal de rendição e me viro para olhar para o indivíduo atrás de mim.

- Sou eu Jorge — ele era bem mais alto que eu e que o Alex, porém bem mais magro — Alex me chamou aqui.

- Uhum, vem comigo.

Eu sigo o Jorge até uma parte dentro do depósito, quanto mais eu entrava no local, mais náusea eu sentia, tive que tampar a boca por um momento para não vomitar.

- O Alex ta ali esperando você — ele aponta para um local atrás de algumas caixas empilhadas — Tem dez minutos.

- Não vou usar nem cinco.

Eu digo e me afasto até o local indicado, quando chego lá, é um velho escritório praticamente esquecido assim como todo o resto do depósito. Alex está sentado atrás do balcão em uma velha cadeira, com as pernas em cima da mesa a sua frente.

- Até que enfim você me apareceu — ele diz soltando a fumaça de um cigarro devagar — Achei que não viesse mais, não tenho todo o tempo do mundo.

- Nem eu.

Era difícil acreditar que nós éramos irmãos. Gêmeos. Alex tinha sim o mesmo formato de rosto que o meu, nossa boca, olhos e nariz eram idênticos, ele tinha apenas um cabelo mais comprido, estava encostando no pescoço, mais um pouco e chegava aos ombros. Suas olheiras pareciam não desaparecer nunca, sua pele era pálida e ele era da minha altura, porém mais magro do que eu.

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