Capítulo 29

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HARRY POV's

Malditos sejam todos os sedativos do mundo. Eu não me lembrava de muitas coisas, lembrava apenas de chegar ao hospital, estar em uma sala branca, como todas as outras salas brancas e ouvir o Reagan, identificado depois, falar comigo e apontar uma maldita lanterna em meus olhos.

- Onde está meu pai – minha voz soava tão fraca que me dava nos nervos – Quero falar com ele...

- Acabou de sair de um estado de choque Harry, não está...

- Onde está meu pai?!

Eu não sabia que tinha poder de gritar até esse momento. Reagan ainda me olhava sem responder, não pensei duas vezes antes de me levantar e correr daquele maldito quarto ou seja lá o que fosse. Ouvi gritos atrás de mim, ouvi o Reagan pedir calma, a mim e a quem quisesse me pegar, ouvi pessoas suspirando alto enquanto se assustavam com a cena que eu estava fazendo. Gritava pelo meu pai por todos os corredores daquele maldito hospital, eu não sabia onde ele estava nem tampouco sabia como chegar até ele, meu cérebro estava apagado, eu não lembrava de quase nada, não sabia como organizar a mente, eu sabia o que queria, mas não fazia ideia de como conseguir.

- Onde está meu pai?!

Eu continuava gritando como se tivessem selecionado a repetição em mim, eu só dizia a mesma coisa enquanto em minha mente a imagem do meu irmão morto, jazido em um poço de decomposição e heroína, invadia minha mente aumentando minha raiva em duzentos por cento, eu seria capaz de acabar com qualquer um que se metesse em meu caminho.

Fui correndo até a sala dele, em um lapso que fui levado até lá, gritando e atraindo a atenção de todos. Vi que Reagan não permitia que ninguém fosse atrás de mim e mandava que todos se retirassem, eu até gostei, não precisava de uma platéia, apesar de que em meu íntimo gostaria que muitos ouvissem o que eu tinha para dizer.

A secretária dele estava na porta, parada e assustada, quando fiquei em frente a ela, sua expressão de susto, pena e dor tomaram conta de mim me fazendo enjoar, ela estava na defensiva quando ameacei entrar.

- Eu vou passar por cima.

- Eu não tenho dúvidas disso Harry – ela disse trêmula e não pude deixar de me surpreender com sua ousadia – Mas pense bem, pense muito bem no que quer fazer aqui dentro.

- Não há nada para pensar. Não mais.

Eu apenas invadi o ambiente gritando mais uma vez por ele.

- Harry, precisa pensar, olhe só para você!

A voz de Reagan corta meus pensamentos e antes de me virar para ele, me deparo com um espelho que havia na lateral esquerda da sala da secretária, eu nunca tinha reparado naquele espelho nem tampouco reparado em minha aparência desde o momento em que me vi no reflexo do carro quando ainda estava naquele maldito lugar em que... Não conseguia pensar nisso sem sentir as lágrimas marejando meus olhos e o nó em minha garganta.

Meus olhos eram tão escuros ao redor que eu poderia jurar que havia levado um soco em cada um deles. Meu rosto era pálido, meu cabelo desgrenhado, mas não do jeito costumeiro, estava desarrumado a ponto de dizer que estava horrível de se ver. Minhas roupas sujas, em alguns pontos de sangue, poeira e vômito. Minhas mãos arranhadas, meus sapatos desamarrados.

- Harry...

Vi seu reflexo antes de vê-lo com meus próprios olhos, no espelho ele estava tão destruído quanto eu, mas em seu semblante, a sua dor era diferente da minha, era carregada do que pude jurar que fosse remorso.

- Estou aqui Harry.

Quando me virei para encará-lo, meus olhos já não seguravam mais as lágrimas e elas escorriam em meu rosto com toda a liberdade que eu fosse capaz de dar a elas.

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