John

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Havia uma hora que eu esperava pela ligação de Viggo.

Não que eu não pudesse esperar; eu sabia ser paciente. Mas preferia fazer isso em algum lugar mais silencioso. No momento, ouvindo tantas vozes no bar apertado, no subsolo do Hotel Continental, só podia suspirar impaciente para me ver livre do barulho e de Addy.

-Gostaria de mais uma dose, John? - ela perguntou, erguendo a garrafa para mim, ligeiramente apoiada no balcão, onde sabia que eu poderia ver seu decote.

Suspirei e olhei para ela.

Addy era bonita; tinha olhos verdes, cabelos pretos e um sorriso malicioso que conquistava quase todos os homens perdidos que vinham aqui, fazendo-os beber e relaxarem. Era esperta também e sempre que eu aparecia, me cobria de cortesias, esperando uma retribuição. Mas eu jamais faria isso.

-Não, obrigado - disse, num tom que encerrava a oferta. Ela arregalou os olhos e saiu em silêncio.

Finalmente o telefone vibra baixinho, e Viggo está furioso no outro lado da linha.

-Diego, John! Diego é o nome dele! Pegue-o e dê um fim a minha dor de cabeça por favor.

-Tem o paradeiro dele?

-Foi visto em direção ao complexo do metrô, no subsolo. Provavelmente está desesperado e sabe que morrerá antes da noite cair.

-Garantirei isso - eu disse, desligando.

Diego era apenas um parasita agora para Viggo. Tentou roubar uma grande quantia de dinheiro, ao que parecia.  Mas os detalhes não me importavam; só me importava em fazer o trabalho rápido e com discrição.

O metrô estava parcialmente cheio, com pessoas voltando de um dia de trabalho, cansadas demais para darem atenção a uma perseguição. Coitado...Ele era péssimo para fugir de mim.  Foi em direção a multidão, achando que eu o perderia de vista, mas ele não fazia ideia das incontáveis vezes que cacei homens assim; em meio a multidões.

Eu o segui indiferente até que o fim da plataforma chegou. Só havia umas poucas pessoas, e assim que eu as assustasse, fugiriam dali desesperadas. Mas no momento que eu pensei em avançar, ele fez uma pobre garota de refém, me fazendo parar.

-Droga - praguejei. Odiava quando tinha reféns envolvidos, por que em parte, só atrasaria meu trabalho. 

Uma mão se fechou no pescoço dela, enquanto a outra segurava uma faca. Ela ficou apenas parada, enquanto lágrimas escorriam pelas bochechas. Devia ter uns vinte anos, tinha os olhos e os cabelos castanhos e um jaleco enfeitado de corujas coloridas cobria seu corpo pequeno. O olhar dela pedia proteção, mas desde quando eu protegia alguém?

-Largue-a, Diego! Não é ela que você quer.

-Tens razão, hombre! Ela de nada serve para mim. - e nesse momento, enquanto eu avançava sobre ele, com pressa em silencia-lo, a garota caiu gritando no chão. 

Pessoas que ainda restavam no metrô, corriam para se salvarem, desesperadas com a cena, mas nenhuma parou para ajudar a garota que se desfalecia no chão. 

Diego não merecia morrer de imediato. Seria rápido demais para um verme que tira a vida de alguém que nada fez para merecer. O alcancei num piscar de olhos, imobilizando seus movimentos e enfiando a sua própria faca em seu pescoço. Sussurrei baixinho para ele, um último recado de Baba Yaga.

-A faca está em sua veia aorta, é melhor não tira-la, ou irá morrer afogado em seu próprio sangue - ele me olhou com ódio, como todos olhavam.

Ocupado como estava em terminar o trabalho e ligar para Charlie, para que viesse recolher o corpo de Diego, nem me passou pela cabeça a possibilidade da garota ainda estar viva, tamanho foi o ferimento que tinha.

- Me ajuda... - disse uma voz fraca e soluçante, do chão.

O jaleco branco dela estava tingido de vermelho e seus olhos castanhos lutando para se manterem abertos. Fiquei comovido por ela; como eu poderia ir embora e deixa-la ali, para morrer? 

Nunca na minha vida eu ajudei pessoas a viverem, mas ao olhar para ela, com seu sangue fazendo uma pequena poça no chão, vi meu ódio por Diego se dissipar, lembrando a mim mesmo que ela não tinha culpa de nada. Estava apenas no lugar errado e na hora errada.

 Me ajoelhei ao seu lado, liguei para emergência e me apressei para estancar seu ferimento. 

Percebi, inesperadamente, que no fundo esperava que ela vivesse.






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