Encarei a capa do livro por alguns minutos antes de levantar e me servir de uma dose de uísque. Por que as pessoas reagiam com tanto orgulho e preconceito umas com as outras? Por que simplesmente não viviam de forma pacífica, sem criar empecilhos no caminho dos outros?
Apesar de julgar a atitude dos próprios personagens, eu sabia que eu mesmo havia julgado Helen, e odiava-me por isso. Por que ao contrário de Elisabeth Bennet, ela não havia me condenado, embora eu merecesse toda a reprovação que coubesse aos homens ruins desse mundo. Ela era boa demais para mim, eu sabia. Mas de qualquer forma, eu não ia ficar longe dela em hipótese alguma, como Darcy também não conseguiu ficar longe de Elisabeth.
Na biblioteca, minha força havia me abandonado, e dei lugar a emoções que eu não conhecia. Eu estava aprendendo a nomeá-las, pois tudo o que senti em minha vida violenta era ódio, raiva e uma determinação cega por pessoas podres, assassinos e criminosos. Mas com ela, entre as prateleiras de livros, meu lado irracional ficou consciente demais, alertando meu corpo em como ela estava perto, o suficiente para eu sentir seu cheiro doce e admirar em como o cabelo curto realçava seu rosto delicado. Ao sujeitar-me em oferecer o livro, encarando-a tão de perto, tive de me obrigar a tirar meu olhar possessivo sobre ela.
Helen não era minha.
Mas não era por isso que eu não poderia conversar com ela, apesar de estar ciente dos riscos e das suposições que ela poderia ter feito ao meu respeito. Será que agora ela me rejeitaria?
Dirigi com pressa em direção ao Central Park, que ficava de certo modo longe da minha casa. Minha intenção não era isolar-me do mundo, mas o silêncio do bairro era algo bem vindo, de qualquer forma.
O centro da cidade estava apinhado; pessoas vinham de todos os lugares para o Natal, e o Hotel Continental estava lotado. Por sorte, Viggo estava recluso na Rússia com seu irmão por algum tempo, e eu teria paz até que ele me mandasse cometer outra chacina em seu nome.
Estacionei na vaga mais distante, mantendo meu carro longe dos olhares, perguntando-me se Helen já havia chegado. Caminhei por entre as magnólias, automaticamente virando o olhar para o belo carro que estacionava na vaga próximo ao meu e parei, vendo Helen sair do Mustang, encarando-me e dando um pequeno sorriso em seguida.
Ela se aproximou devagar, cruzando levemente os braços por causa do vento.
- Oi - ela disse, corando - Espero que o senhor não tenha esperado por muito tempo.
- Acabei de chegar - respondi, hipnotizado. Alguma vez olhei Helen como a linda mulher que era? Ela estava com uma camisa branca de botões levemente aberta, jeans escuro e sobretudo preto, que escondia as linhas sutis do seu corpo. O cabelo estava semi-preso, e algumas mechas caiam-lhe no rosto. A visão era difícil de ignorar, e tive de me esforçar para desviar o olhar - Vamos? - perguntei, indicando o parque a nossa frente.
Ela assentiu com a cabeça e se colocou ao meu lado, com as mãos escondidas nos bolsos do casaco. Estaria ela envergonhada? Com medo de mim? Como eu poderia deixá-la confortável? Jamais confortei alguém em minha vida e o temor da rejeição tomou conta involuntariamente do meu corpo.
- Então... - ela disse, quebrando o gelo desconfortável que eu havia criado - O livro foi... cafona demais para você? - a pergunta fora feita em um tom divertido, e um sorriso tímido se formou em seus lábios.
Como alguém podia ser tão amável assim?
- É uma história admirável - respondi, sendo sincero - Mas confesso que nunca havia lido algo parecido antes.
Helen olhou-me profundamente enquanto caminhávamos devagar.
- Eu sei disso - falou, desviando o olhar para a frente - Do que gosta de ler então? - perguntou-me.
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Renascendo
RomanceHistória de como John Wick e Helen se conheceram... Era apenas para John realizar mais um serviço qualquer como tantos outros em sua vida...Mas por incrível que pareça, uma garota comum vai entrar na sua vida e lhe fazer experimentar emoções que ele...