— Desliga você.
— Não, desliga você primeiro.
Era como estar em um filme de comédia romântica dos anos 90. Bright sentia aquela sensação quando estava no telefone com Win. Eles passavam horas em ligação, na maioria das vezes na parte da noite, já que Bright ainda era a mesma pessoa ocupada no rancho, cuidando dos animais, das plantas da avó e ajudando com a maior boa vontade do mundo quem quer que pedisse a sua ajuda. Falar por telefone com Win não era a mesma coisa que ter ele por perto, ouvir a voz dele nem chegava perto do efeito de ter aquele garoto ao seu lado. Sentia a falta de Win. Ele tinha ido embora do rancho há três meses.
Aquela era uma das noites em que conversavam um com o outro sobre como foi o dia de cada um. Depois que foi embora era sempre Win que ligava para Bright todos os dias, até que em algum momento ele sentiu que estava incomodado e esperou que Bright ligasse para ele. E foi o que aconteceu. Bright ligou para ele e perguntou o que estava acontecendo, e depois de muita insistência, Win explicou como estava se sentindo. Bright soltou um riso em tom baixo no meio da sala escura da sua casa e sussurrou para Win que ele era a sua pessoa favorita, depois disso tudo ficou bem.
As ligações demoravam para acabar, mas agora Bright estava dormindo na casa de Mick com frequência, fazendo planos para o futuro, e ele não poderia passar toda a madrugada falando com o seu quase namorado, primeiro porque não queria chatear o melhor amigo, ainda que ele não ligasse e sorrisse em sua direção, segundo porque às vezes achava que as conversas com Win eram particulares demais.
— Tudo bem, eu vou desligar. — Disse Bright.
— É sério?
O tom decepcionado de Win fez Bright esticar o sorriso. Já estava acostumado com as dores nas bochechas quando sorria demais. Parecia algum tipo de delírio lembrar quando dizia com todas as letras que não gostava daquele garoto mimado.
— Eu tô na casa do Mick, você sabe. Quer que ele escute as nossas conversas?
— Melhor não.
— Ótimo. Então... Boa noite. — Win ficou em silêncio e Bright prendeu o riso. Ele trocou um olhar com um Mick prestes a revirar os olhos com todo aquele romance à distância, até que falou baixinho alguma coisa na direção de Bright para que ele contasse logo o que deveria dizer. — Ei.
— Sim?
— Falta pouco.
— Você sempre diz que falta pouco pra vir até a cidade. Você fala isso há meses. E cadê você?
— Confia em mim, tá?
Suspirando, Win resmungou alguma coisa como "tô tentando", então finalmente se despediu e Bright colocou o telefone no gancho. Em meio ao silêncio da sala, ele se deitou melhor no sofá e abraçou uma almofada. Mick o encarava sentado na poltrona do outro lado e Bright soube que ele estava prestes a enchê-lo de perguntas, porque não sabia disfarçar quando não estava bem.
— Então... — Mick começou. Os pais estavam dormindo e ele manteve o tom de voz baixo. Estava gostando de ver Bright mais feliz e mais aberto a uma conversa. Dormia na sua casa de vez em quando para que conversassem sobre o futuro dos dois. Eles queriam quase a mesma coisa: ir para a cidade e fazer faculdade. — É assim todo dia?
— Tá me perguntando se eu converso com ele todos os dias?
— Sim.
— É, desde que ele foi embora. Você acha que ele gosta dessas ligações? Sinto que ele pode acabar se cansando de mim.
Como Bright estava focado em algum lugar da sala, Mick aproveitou para respirar fundo e massagear a testa, pedindo mentalmente um pouco de paciência para lidar com um melhor amigo com uma autoestima nada confiante. Por outro lado, achava que ele não era a mesma pessoa desde que o primo chegou no rancho. Bright estava desabafando sem que Mick precisasse implorar por aquilo e aquilo era bom.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Porto-seguro
FanfictionPorto-seguro é a definição de um lugar onde se pode descansar ou encontrar proteção. Mudando a sua rotina glamorosa e agitada da cidade para a beleza e simplicidade do rancho, Win percebe que não encontraria o seu porto-seguro em um restaurante chiq...