Capítulo 2

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      Desde a fazenda ele vinha mancando. Agora reparando o rapazinho calado sem reclamar de qualquer desconforto, pensou que seja quanto for a sua dignidade, ele sabia que a tinha, mas bem sabia que era mesmo vergonha.

­­ — Escuta José, se quiser descansar...

— André! — interrompeu o menino. O velho seguiria viagem sem ele, desconfiava. – Meu nome é André.

Depois de um tempo, ouviu o homem dizer:

— Quero chegar na cidade ainda hoje.

— Tem o dia inteiro — replicou com ruindade.

Andava por força de vontade, acompanhando o homem que ele nem sabia o nome. André tirou a poeira do rosto, era planície verde para todos os lados. Vinha uma camionete, seu rosto se iluminou de esperança.

— Vamos pedir carona ­— E como o velho não disse nada: — Tem um carro vindo, peça carona.

— Eu nunca peço carona.

— Minha perna está doendo! — Lamentou.

— Então peça você.

A camionete passou por eles, o motorista cumprimentou-os. André bufou de raiva.

O menino tinha ficado sozinho, o velho pensou. Há muito tempo que decidira andar sem companheiro e percebeu que o menino estava determinado a segui-lo, daquele seu modo agitado, irritado, aventureiro.

Depois de meia hora ele repetiu:

— Quero chegar lá antes que anoiteça, José.

— André!

— Que importa?

André grunhiu. Já tinha se arrependido de ter vindo, mas agora não tinha mais o que fazer. Talvez ele fosse só um andarilho mesmo. Como saber? Não sabia nem o nome.

— Como você se chama?

O velho entressorriu – era um tipo sossegado, olhar brando e despretensioso. Emudeceu por muito tempo, até sentir simpatia pelo silêncio custoso do jovem.

Os andarilhosOnde histórias criam vida. Descubra agora