Desde a fazenda ele vinha mancando. Agora reparando o rapazinho calado sem reclamar de qualquer desconforto, pensou que seja quanto for a sua dignidade, ele sabia que a tinha, mas bem sabia que era mesmo vergonha.
— Escuta José, se quiser descansar...
— André! — interrompeu o menino. O velho seguiria viagem sem ele, desconfiava. – Meu nome é André.
Depois de um tempo, ouviu o homem dizer:
— Quero chegar na cidade ainda hoje.
— Tem o dia inteiro — replicou com ruindade.
Andava por força de vontade, acompanhando o homem que ele nem sabia o nome. André tirou a poeira do rosto, era planície verde para todos os lados. Vinha uma camionete, seu rosto se iluminou de esperança.
— Vamos pedir carona — E como o velho não disse nada: — Tem um carro vindo, peça carona.
— Eu nunca peço carona.
— Minha perna está doendo! — Lamentou.
— Então peça você.
A camionete passou por eles, o motorista cumprimentou-os. André bufou de raiva.
O menino tinha ficado sozinho, o velho pensou. Há muito tempo que decidira andar sem companheiro e percebeu que o menino estava determinado a segui-lo, daquele seu modo agitado, irritado, aventureiro.
Depois de meia hora ele repetiu:
— Quero chegar lá antes que anoiteça, José.
— André!
— Que importa?
André grunhiu. Já tinha se arrependido de ter vindo, mas agora não tinha mais o que fazer. Talvez ele fosse só um andarilho mesmo. Como saber? Não sabia nem o nome.
— Como você se chama?
O velho entressorriu – era um tipo sossegado, olhar brando e despretensioso. Emudeceu por muito tempo, até sentir simpatia pelo silêncio custoso do jovem.
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Os andarilhos
Short StoryAndré é um menino de rua que se perde do bando. Quando ele vê um velho numa escadaria, corre para assaltá-lo, e sem saber para onde o velho está indo, começa a segui-lo. Ao perceber que o homem é muito estranho, André começa a se arrepender. Será qu...