Artwork H.S

1º "I want to paint you. Naked."

Passeava pelas gélidas ruas de Brighton, com os meus delineados dentes brancos a embaterem em pequenos choques de arrepios gelados que percorriam o meu corpo, e o meu gorro que com algum cuidado posicionei num ato desajeitado nos meus aloirados cabelos brancos também numa oportunidade de disfarçar o facto do meu cabelo não estar nos seus dias. Também nunca está.

Observei as pessoas ao meu redor á medida que passeava em passos acelerados pelas ruas movimentadas que exigiam a minha maior concentração para que não fosse contra algum ser. Esta não era definitivamente a minha casa. Estava aqui apenas a um dia, e já me sentia como um peixe fora de água. Apesar de Seattle ter as ruas movimentadas tal como se presenciava aqui, Brighton tinha o cheiro a praia, e vento, muito vento e não estava habituada. Não me queria habituar.

“Vais arrepender-te, e quando quiseres voltar não irás ter aqui uma casa. Essas coisas a que chamas arte que fazes, não vão sustentar-te nem por um dia” Lembrei-me das palavras da minha mãe e involuntariamente gargalhadas sarcásticas preencheram a minha voz, à medida que abanava a minha cabeça negativamente. Ela nunca irá compreender. Nem ela, nem o meu pai, nem o meu irmão.

Um sorriso rapidamente se esboçou nos meus lábios ao reparar no grande edifício que se encontrava à minha frente, elegante e moderno, com a mais alta arquitetura contemporânea e gravado a exoberantes letras, sobre a entrada: Styles Art Company. Tinha chegado ao local onde com alguma sorte, iria estagiar durante os próximos meses como arquiteta, a fazer o que sempre sonhei, e o que os meus pais nunca desejaram para o meu futuro. Por eles, estaria a estudar em Harvard, para ser a melhor médica do estado de Washington, porém em vez disso tiveram que levar com uma rapariga que pinta os seus sonhos, os seus medos e a sua própria realidade. Acho que ficaram com um trauma, talvez seja por isso que preferem o meu irmão. O futuro médico com as melhores notas, os melhores estudos, e que com apenas 21 anos já viajou quase por todo o mundo. Afinal, como consigo competir com isso? Prefiro limitar-me a um lápis e a papel.

Soltei um longo suspiro entre os meus rosados lábios enquanto lentamente entrava no edifício vidrado que ainda minutos anteriores estava a admirar com toda a sua luxúria. Dirigi-me até à receção, onde me estaria à espera uma jovem rapariga com um elegante fato preto e o cabelo preso, provavelmente a que falei ao telemóvel para agendar esta entrevista, presumi.

“Bom dia, Styles Art Company, Qual é o seu nome?” Perguntou a doce rapariga cujo tom de voz soava como uma bela harmonia de Beethoven. O quê, Bella? Tu nem gostas de Beethoven. Deixei escapar uma ligeira gargalhada com o pensamento que percorreu a minha mente.

“Bella, Bella Lee Knight.” Disse rapidamente agora com um certo nervosismo a consumir o meu organismo, pelo facto de que não sei se estaria preparada, nem sabia se era isto mesmo que queria. Observei atentamente os movimentos da jovem funcionária que fazia um telefonema assim que pronunciei o meu nome, e ouvi a sua pequena conversa com o que devia ser o suposto diretor desta enorme empresa, franzindo a minha testa com as gargalhadas que a Lia, o nome gravado na sua farda, trocava com o Mr.Styles, tal como ela lhe chamou. Revirei os meus olhos discretamente com o flirt amador que estava a ter o privilégio de presenciar, cruzando os meus braços à altura do meu peito.

Assim que terminou a chamada, a bonita rapariga encaminhou-me até ao elevador e indicou-me o piso para qual deveria ir, o único piso que continha um único escritório, o do Mr.Styles. Aposto que deve ser um egocêntrico que compra todas as raparigas com dinheiro. Nunca gostei de elevadores, sempre foram uma pequena fobia mas mesmo assim dirigi o meu corpo até ao vidrado elevador que me dava a vista para todos os pisos que subia enquanto o memso fazia o seu trajeto. Ajeitei o meu blazer que vestira hoje de manhã para que tentasse parecer profissional, descartando a ideia de usar as minhas típicas All Star com uma simples T-Shirt, engolindo em seco ao ouvir o som do elevador indicar que chegara ao piso pretendido, saindo assim do mesmo lentamente.

Tu consegues Bella, tu consegues este estágio. Observei mais uma vez a enorme porta de madeira à minha frente, respirei pesadamente e sem hesitar, num mero impulso, bati algumas repetidas vezes na tal madeira.

“Entre.” Disse uma voz firme e aparentemente rouca que esperava eu que fosse a do meu chefe assim que conseguisse este estágio. Abri a porta com cautela, entrando ao mesmo tempo revelando o enorme escritório repleto de modernos móveis, e quadros nas suas paredes, porém o meu olhar foi desviado para a robusta postura do homem posicionado à minha frente: o Mr.Styles.

“Está aqui para o estágio como arquiteta, certo?” O meu olhar encontrava-se distraído nos múltiplos quadros que cativaram a minha atenção assim que entrei neste escritório, tentando de algum modo decifrar o que tais obras de arte escondiam. Entreabri ligeiramente os meus lábios ao reparar num quadro especialmente bonito, como se fosse uma ilusão dos espetos das rosas, que só os mais atentos conseguiriam captar.

“Ouviu-me ou está mais interessada em observar?” Disse agora numa voz ainda mais firme o homem que se aproximara de mim, com os seus braços cruzados numa postura elegante, fazendo-me acordar da minha imaginação demasiado curiosa e fértil, mordiscando o interior da minha bochecha num ato nervoso.

“Desculpe, estava apenas a obser…” Tentei acabar a frase como minha própria defesa mas fui interrompida por ele rapidamente.

“Eu sei o que estava a tentar fazer. O seu nome é Bella, certo?” Pronunciou com rouquidão presente na sua voz e um sotaque britânico, assentindo com a minha cabeça como resposta, murmurando um pequeno “certo” que com certeza ele não teria ouvido. Como poderia ter ouvido? Falei demasiado baixo. O meu tom de voz não consegue submeter-se ao dele, eu consigo cheirar o poder dele com os metros de distância entre nós.

“O que vê naquele quadro? Diga-me.” Exigiu o diretor da empresa em que ambicionava trabalhar, apontando para o quadro que anteriormente me tinha perdido em pensamentos.

“Hm, vejo alguém que não quer ser magoado por os espetos de uma rosa que andam à solta. Uma rosa como se fosse uma mulher.” Falei calmamente porém sem hipótese de evitar o meu nervosismo, de facto ele intimidava-me, e muito.

“Porque quer este estágio então?” Disse o alto corpo no campo da minha visão que tentou obviamente desviar o assunto, franzindo a minha testa em dúvida.

“Porque desviou o assunto?” Ergui a minha sobrancelha, franzindo também os meus lábios enquanto os meus braços eram mais uma vez cruzados. Sabia que não estava em posição de fazer perguntas, mas a minha curiosidade era mais forte do que eu.

“Porque não se limita a fazer o que lhe compete e responder às minhas questões?” Uma voz sarcástica soou na grande divisão onde só os nossos corpos se encontravam, humedecendo os meus lábios com o tom arrogante que ele tivera usado comigo. Não que não estivesse habituada, mas foi apenas uma pergunta pela qual acho que exige uma explicação.

“Quero este estágio porque tem tudo haver comigo, desde o desenho ao criar algo que mostre arte às pessoas.” Respondi-lhe com suavidade, para tentar esconder o meu comportamento. Ele tem razão, eu não estou em posição de lhe impor perguntas.

“Eu quero pintar um quadro seu. Nua.” O homem, o diretor de uma das melhores empresas de arquitetura e de arte acabara de me pedir para ser a sua modelo nua para um quadro? Como assim? Quem pensa ele que é? Não me vou expor assim. Não vou. E não me pode comprar com o seu dinheiro falso. Que vontade de lhe dar um estalo.

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Gostava de saber o que acham do 1º capítulo! Realmente espero conseguir fazer com que esta fic seja fantástica e vos divirta, e vou colocar capítulos regulares conforme os leitores que conseguir obter! Votem e deixem comentários, por favor. É bastante importante para saber as vossas reações e se não gostam de alguma coisa!

Stay classy,xo