capitulo sete

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  Gabriela Menezes

  Já achei, mas iria falar pessoalmente e quando fosse da sua vontade. Terminei com o Eduardo e sai do mato, me passa o endereço do seus pais, vou passar o natal com vocês.
  Gelei. Meus lábios formigaram e desaprendi a respirar, a Gabi achou o pai do bebê. O famoso ditado: a água bate na bunda, nunca teve tanto sentido pra mim.
  - Ei. - Marco abriu a porta delicadamente. Bloqueei a tela após passar o endereço e escondi o celular.
  Não sei porque não queria dizer a ele, seus olhos amorosos me cobriam de esperança, nós podíamos dar certo.
  - Descu...
  - Por favor - Interrompeu balançando a cabeça - As luzes foram acesas na praça, está muito cansada para ir até lá?
  **
  O clima nunca esteve tão agradável as nove horas da noite. Mesmo estando escuro, as ruas estavam claras e coloridas, pelas janelas dava para ver as famílias conversando e as árvores acesas.
Marco caminhava ao meu lado com as duas mãos nos bolsos, inquieto. Queria perguntar a ele o que foi conversado, talvez ele queira desabafar ou pedir conselhos, mas sinto que não deveria me colocar nessa situação.
  - A Gabi vem para o Natal. - Avisei animada, após lembrar da mensagem.
  - Jura? Que legal. Ela vai estragar o natal. - Ironizou e deu uma gargalhada gostosa.
  - Não diga isso!
  - Não? - As mãos saem do bolso e eu agradeço internamente por ele estar se sentindo mais confortável - Ela já te contou metade das histórias dela? O do dia que ela acidentalmente colocou fogo na árvore de natal?
  - Você tá brincando! - Indaguei desacreditada.
  - O sonho dela era ser o Grinch. Sabe? O filme? Então, ele coloca fogo na árvore, porém o fogo sobe rapidamente e logo se apaga, na vida real não é bem assim. Foi gritaria, correria, fogo e fumaça.
  Nossas risadas foram interrompidas quando chegamos na praça. Difícil descrever o quanto ela estava natalina e bonita, todas as árvores com luzes brancas entre os galhos, os bancos enfeitados, as grades com pisca pisca e um lugar reservado para os músicos com diversos enfeites.
  - Encantador. - Suspirei encantada.
  - Acho que nunca vi um lugar tão bonito e harmonioso igual essa cidade, igual aos seus pais, você e tudo o que você me trouxe e três dias. - Desabafou grato.
  Levantei o pescoço para olhá-lo e ele já me encarava com o de praxe meio sorriso no rosto. Meu coração bate forte contra a minha caixa torácica e tenho vontade de gritar o quanto ele é incrível.
  - Você tornou isso tudo bem mais fácil - Disse a ele - Não sei como seria esse natal, não imagino ele diferente do que esta sendo.
  Gosto da forma que ele me olha, mesmo quando desvio o olhar e sinto seus olhos em mim. É atencioso e gentil, o Marco é como um abraço quentinho e acolhedor em um dia frio.
  - Hum - Lembrou-se fuçando no bolso - Será que posso dar o seu presente agora?
  - Mas não é Natal. E quando você comprou? Ficamos juntos o tempo todo.
  - Seu pai. - Os lábios esticaram em um sorriso travesso - Eu vi enquanto sua mãe nos levou para caminhar, e disse a ele. Bom, quis ser prestativo e buscou pra mim. Pra você. - Esticou a pequena caixinha de veludo azul marinho.
  Em cima, a assinatura da joalheria que tinha na cidade. Uma das mais caras e procuradas, uma franquia que acidentalmente deu certo em uma cidade pequena com poucos habitantes.
  Ele pegou na minha mão, provavelmente por perceber que eu estava intacta e surpresa, esticou meu braço e colocou a caixinha na minha palma, fechou a minha mão com a sua por cima. Transferi meu olhar para os castanhos que novamente já me olhavam curiosos.
  - Abre. - Pediu baixinho.
  Suas mãos soltam das minhas e eu lamento internamente por isso. Abro a caixinha e minha vista embaça no mesmo instante.
Era um colar fino de ouro, acompanhado de um pingente de bebezinho e ao lado um relicário. Ver aquele pingente mexeu emocionalmente comigo, ver que ele pensava no bebê também.
  - Marco. - Uma lágrima solitária escorre pelo meu rosto enquanto olhava o seu presente delicado.
  - Aqui dentro - Abriu o relicário. - Você perguntou onde eu estava na noite em que tudo aconteceu, então peguei uma foto minha e a Gabi me mandou uma sua, um amigo meu é um gênio do Photoshop e conseguiu juntar nós dois em um abraço. - Sorrio com mais lágrimas no rosto ao ver a montagem de nós dois dentro do relicário.
  Sua mão cobre parte do meu rosto e nós nos olhamos.
  - Não estávamos juntos aquela noite - Começou, próximo o suficiente para sussurrar e eu ouvir perfeitamente - Mas eu queria estar. E no dia que você se sentir sozinha, ou arrependida daquele dia, abra o relicário. - Beijou a minha testa demoradamente. Sinto a sua respiração pesada no alto da minha cabeça.
  Me senti confortável e com o coração aquecido, seus lábios ainda estavam próximos a minha testa, mas ele apenas apoiava seu rosto aspirando o cheiro do meu cabelo. Fecho os olhos sentindo cada milésimo desse momento, imaginando que aquela foto era real e que tudo o que estava acontecendo era verdade. Me permiti mergulhar nessa loucura e levantei um pouco o meu rosto.
  Seus olhos encontraram os meus e seu polegar acariciou o meu rosto.
  - Você não tem noção do quanto eu quero isso. - Confessou, como se tirasse um peso das costas. Mas uma careta triste em seu rosto me fez entender que aquele beijo não aconteceria.
  - Por quê? - Perguntei, questionando os meus pensamentos. Porém ele entendeu.
  - Eu estava lá... Eu estava na festa, Amélia. Nós nos conhecemos lá. - Afastei o rosto dele e dei alguns passos pra trás - A Gabi me chamou para ajudar, você estava dormindo praticamente desmaiada e ela não conseguia te carregar.
  Minha cabeça doeu ao tentar lembrar daquela noite, tudo era um borrão preto e a voz do Marco começou a ser distante. Na minha mente tentava imaginar toda a cena que ele descrevia.
  - Coloquei você no carro e levei vocês pra casa. - Continuou, tentou se aproximar e eu evitei. Seus ombros caem desapontados - Eu sei quem ele é, Amélia. Eu vi ele saindo do quarto umas horas antes. Eu disse a Gabi, e ela me pediu para deixar que ela contasse quando achasse que era a hora certa. Amélia, por favor... - Segurou no meu pulso e eu puxei pra trás, evitando o toque.
  A raiva misturada com frustração tomavam conta do meu corpo. Ele sempre soube. Ele já me conhecia, sabia quem era o pai. Talvez tenha feito isso por dó, a minha cara de desgosto foi nítida, já que ele fez uma careta triste. Seus olhos ficaram molhados e eu tive vontade de dar um soco na sua cara.
  - Você mentiu esse tempo todo... - Foi a única coisa que consegui falar dentre tantas que eu tinha vontade.
  - Não! - Falou prontamente, levantou as mãos para me tocar porém recuou. - Não menti, eu omiti ter te conhecido lá.
  - Você ficou com pena? Por isso está sendo tão prestativo? Ora! Coitada da menina que foi usada e o cara saiu de fininho, além de tudo engravidou ela. Não é, Marco!? - Meu tom de voz aumentou.
  - Claro que não, Amélia. - Respondeu incrédulo - Gabriela só estava preocupada com você, óbvio que eu faria isso. Você não é nenhuma coitada, nenhuma menininha indefesa e abandonada. Olha só pra você, colocou tudo nas costas sozinha e está disposta a dar a mão para o bebê e seguir sozinha. Você é auto-suficiente para ser uma ótima mãe. Eu nunca senti pena de você, em nenhum segundo dessa viagem ou daquela noite. Eu estou apaixonado por você. - Gesticulou nervoso. - E não quero que você procure o pai, ele é um idiota. É o maior babaca existente no mundo inteiro.
  - Você está se escutando, Marco? - Franzi o cenho, acalmando o coração e ignorando o fato dele ter dito que está apaixonado. Estava nervosa demais para falar sobre isso, e dizer que eu também estava.

  - Tá bom. - Balançou a cabeça diversas vezes, magoado. Já não lutava para esconder o quanto estava arrependido. - Você vai procurá-lo, ou acha que eu sou idiota? A Gabriela está vindo para te apoiar, eu disse a ela que contaria tudo e ela gritou tanto comigo ao telefone que quase fiquei surdo. Não era a Larissa ligando, era a Gabriela depois de receber a mensagem dizendo que eu estava apaixonado por você. E se ela está vindo, é porque acha que você precisa dela, ela te conhece e sabe que você faria isso....
  - Vai embora, Marco. - Pedi entre as lágrimas.
  - Exatamente isso! - Riu nervoso, seus olhos marejaram mais ainda. - Ela esta a caminho para te consolar sobre nós dois, e não sobre o pai do seu filho. Ela sabe que eu estraguei tudo. E sabe de uma coisa - Deu os ombros irritado - Te contei a verdade, você tem tudo em suas mãos e a única coisa que eu te peço é para não procurar esse idiota. Ele largou uma mulher sozinha bêbada depois de...
  - Marco! Some daqui! - Gritei, sabia que muitas pessoas iriam ouvir. Mas eu estava envergonhada demais para não expulsa-lo.
  - Me escuta! - Segurou nos meus braços com força. Aproximou os nossos rostos e pude ver dentro dos seus olhos a mágoa - Eu odeio ele por ter feito isso. Odeio qualquer um que tente magoar vocês! Mas eu preciso de uma resposta para seguir a minha vida e voltar para a minha namorada. Você quer ficar comigo? Esquece esse cara, podemos ser nós dois, podemos fazer disso tudo realidade...
  - Some...da...minha...vida! - Disse entredentes.
  - Tá bom. - Soltou meus braços irritado e pareceu pensar no que eu disse - Você vai ser uma ótima mãe, Amélia. Esse bebê não precisa do homem do qual você nem se lembra, confie em mim.
  - Quem você pensa que é para dizer quem é o homem que meu filho precisa ou não.
  - Porque eu estou aqui cobrindo o lugar dele. - Apontou para algum lugar indignado - Porque esse idiota não está aqui com você.... Eu o conheço, e o odeio mais ainda por ter sido um completo imbecil. - Respirou fundo, se recompondo. Algumas pessoas já olhavam pelas janelas. Ele também percebeu.
  Dei as costas e limpei as lágrimas, voltando para a minha casa. Sabia que ele estava vindo logo atrás, ouvia os seus passos fundos e a respiração pesada.
  Sabia que ele tinha razão no que estava falando, eu apenas estava envergonhada e frustrada com tudo isso. Acho que não esperava a verdade sobre ter sido usada como uma qualquer, ser jogada na minha cara pelo homem que eu estava me apaixonando.
  A vergonha foi tanta que eu não conseguia encarar os seus olhos, por saber que ele estava la... ele me carregou até o carro e me levou pra casa.
  Será que a Gabi merecia a minha raiva? Acredito que não, ela respeitou o meu momento e minha decisão de não querer saber sobre o pai. Sabia que essas coisas me destruíram e se rebelou quando Marco ameaçou contar. Na realidade o que eu mais queria era ela aqui, a única pessoa no mundo que entendia o que eu estava passando.
  **
  Enquanto estava deitada com os olhos fechados, ouvia Marco arrumar as suas coisas. Cada barulho do zíper destruía parte do meu coração. Cada passo pelo quarto recolhendo as suas coisas me atormentava.
  - Me desculpa. - Sussurrou e saiu.
  Deixou eu com lágrimas no travesseiro após ele se declarar. Deixou todos os meus desejos morrerem na minha garganta ao evitar de dizer o que eu sentia. Deixou parte dele comigo e voltou para a mulher dele.
  Eu preciso acreditar nisso, porque a hora que eu assumir que quem deixou fui eu, vou me auto destruir.
 

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