capítulo doze

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Encaro os meus pés e entre eles os pisca-pisca embaraçados, alguns enfeites natalinos que vão na árvore, observo por alguns segundos até sentir uma mão ser apoiada no meu ombro direito.

- Filha. - Meu pai sussurra para não me assustar. - Está tudo bem?

- Só estou pensativa, pai. - Busco em seus olhos o consolo, deito minha cabeça no ombro dele e volto a olhar para os enfeites.

- Sabe que não precisa voltar pra lá, não é? Que aqui sempre vai ter lugar para você e o Pedrinho.

Eu sabia disso, sempre tive certeza, desde o dia em que apareci na porta deles pedindo abrigo e explicando o que houve. Já faz quase um ano, mas lembro-me como se fosse ontem.

De início meu pai quis ir atrás do Henry e lhe dar uma bela surra, mas depois percebeu que ficaríamos melhor sem eles.

Eliza no entanto cumpriu o que disse, até hoje mandava quantidade exorbitantes, porém eu devolvia todas. Não queria um real deles, criaria o meu filho sozinha.

Ser mãe de um menino nunca foi uma coisa que passou pela minha cabeça, sempre me imaginei no mundo rosa com laços e pompons, mas o Pedro fez com que eu me apaixonasse pelo mundo azul.

O dia do seu nascimento ainda me arranca sorrisos quando me lembro:

- Mãe! - Abro a porta desesperadamente sentindo um líquido escorrer entre as minhas pernas. Eu sabia exatamente o que era, e isso me apavorou.

- Meu Deus! Meu Deus! - Meu pai repetia diversas vezes enquanto jogava as bolsas no ombro e descia as escadas correndo.

- Calma minha filha, vai dar tudo certo, tá bom? - A mão da minha mãe passava nas minhas costas para aliviar a dor que começava a se espalhar. - Avisei a Gabi, ela está a caminho.

Gabriela se tornou presente na nossa família, o suficiente para ser chamada de filha pelos meus pais que são absurdamente apaixonados por ela. Milagrosamente ela está namorando o Eduardo mas as vezes brigam por gostos diferentes, nada que separe os dois, chega a ser engraçado as discussões.

Estava ansiosa para conhecer meu filho, mas a dor se estendendo das minhas costas, pé da barriga e quadril, me deixavam zonza e mal conseguia raciocinar o que estava acontecendo.

Seu choro mudou completamente a minha vida. Senti meu mundo virando de cabeça pra baixo e percebi que era o meu lado certo. Todo o amor que eu imaginava que sentiria no parto multiplicou por números infinitos. Foi inexplicável.

Os cabelos tão loiros que chegavam a ser brancos, nem em sonhos conseguiria imaginar essa perfeição.

Seu rosto encostou no meu, o choro diminuiu com pequenas suspiradas e ali eu tive a certeza de que eu faria tudo por ele.

Quando acordei senti alguns aparelhos me pinicando, no nariz, peito, e o acesso na mão. Me mexi desconfortável tendo como a última lembrança o cheiro e toque do meu filho.

- Amélia? - A voz masculina saiu rouca e nitidamente preocupada. Reconheceria essa voz em qualquer lugar. Marco.

- O que houve? Cadê o...

- Está tudo bem, calma! - Pediu carinhosamente e pousou a sua mão acima da minha. Como sempre, quente. - Você desmaiou depois do parto, sua mãe está vendo ele no berçário e a Gabi foi comprar um calmante para o seu pai.

Só assim reparei no Marco que vestia uma camisa social amassada, rosto cansado e cabelos bagunçados. Ele está mais bonito, como isso é possível?

Nos últimos meses só nos comunicamos por mensagens do WhatsApp e fotos, ele vivia pedindo vídeos e fotos da minha barriga e perguntando como eu e o bebê estávamos.

Procura-se um paiOnde histórias criam vida. Descubra agora