Corte De Fogo E Sombra

Capítulo 1

A vida é feita de escolhas, e sofrer não foi uma decisão minha, porém, continuo sofrendo.

          ~Lucien

Escolher é algo que todos tem o direito na vida, eu não escolhi estar no escuro, fui jogado nele e hoje ainda permaneço nele porque é o que eu mereço.

~Azriel

Lucien

Eu havia cansado de tentar, o último dia fora hoje, ela me renegou, mais de uma vez, como em todos estes quinze anos em que tento, e sinceramente, não me resta mais forças para continuar isso.

"Eu espero que você seja feliz, porque eu não serei" foi o que eu disse para ela "Mas te desejo toda a felicidade do mundo".

Me juntar a Vassa e Jurian parece uma alternativa bem convidativa, se eu quiser servir de vela para o casal.  Mesmo eles tendo insistido que eu poderia ficar com eles, que juntos seríamos um bando.

Os exilados nunca foram tão exilados como isso.

Eu inspiro fundo, encarando o céu estrelado de Velaris, se aqui é a tão falada cidade dos sonhos, por que eu ainda continuo nos pesadelos?

Porque eu ainda estou no pesadelo? Esse é o meu fardo para carregar até o fim de minha vida, que pode chegar cedo ou tarde, não posso prever quando me atravessarão com uma espada no peito e eu partirei.

Pois apenas algo assim poderia me matar, até lá, a imortalidade fará o seu trabalho de eu ver a felicidade dos outros em um loop eterno, enquanto eu continuo afundado no mar da tristeza, o qual agora se torna tempestuoso porque enfim eu me rendi ao laço que não teria futuro.

Me pergunto, fora esse o destino que a mãe guardou para mim? Vejo que me fazer infeliz seja o seu jogo preferido, ela acha divertido demais me ver na ponta do abismo, prestes a cair, e agora, ela enfim me viu cair por completo.

Estou caindo, e prestes a me chocar contra as rochas da escuridão do fundo do oceano, meu corpo prestes a ser atravessando pelas estacas negras do sofrer.

Minha mente, a minha pior inimiga, que cicia palavras que são ruins mas que parecem ser o melhor caminho a se tomar.

Se vê que não faz diferença na vida de ninguém, por que ainda está aqui? Por que não se vá?

Minha mente cicia como uma cobra, esperando que o ratinho indefeso cambaleie até sua armadilha e lhe dê o fatal bote.

Jesminda te espera no paraíso, ela está cansada de te esperar.

É um golpe de facadas, até mais doloroso do que se fosse uma fisicamente sendo cravada no peito.

Ela morreu por sua culpa, é justo que você vá até ela, que a recompense com sua presença no outro lado.

Talvez fosse, talvez fosse isso mesmo, me juntar a jesminda, a única que eu amei de verdade e sei que ela me amou de volta intensamente.

A única que soube ver cada cicatriz em minha alma e não recuou com medo, que não teve medo do que eu era na Outonal, e com toda a certeza não teria medo do que eu sou aqui, agora.