• Capítulo 1 •

6 1 0
                                    

Quem gosta de acordar cedo em pleno sábado?

Com certeza eu não gosto, mas infelizmente a vida não espera por ninguém, e eu já perdi 18 anos presa em um abrigo, trabalhando nos horários mais diversos, para juntar algumas economias para quando me chutassem de lá.

Na manhã do dia do meu aniversário, já me avisaram que eu deveria arrumar minhas coisas e sair até às 15h, pois o compromisso deles comigo já havia acabado.

Juntei as minhas coisas em uma mochila velha que tinha desde que cheguei aqui, aos 3 anos, colocando minhas economias no bolso da jaqueta que peguei das doações antes que as outras garotas vissem. Ninguém merece passar por uma situação como essa, mas quem disse que eles ligam?

Então lá estava eu, sozinha, com pouquíssimo dinheiro, sem casa e somente com a esperança de conseguir sobreviver a isso.

Saindo de meus devaneios, me levanto da cama e vou tomar um banho antes de ir trabalhar.

Dois dias depois de sair do abrigo, encontrei o Jonas, dono da lanchonete Pit Stop (um nome bem ruim, eu sei), vi o anúncio que precisavam de uma garçonete, e eu logo me ofereci, ele me contratou e percebendo minha situação, me deixou passar um tempo dormindo no quartinho que havia nos fundos da lanchonete.

Quando finalmente encontrei um lugar que pudesse pagar (um pequeno apartamento a algumas quadras da lanchonete), não pensei duas vezes antes de me mudar, mesmo não tendo muitas coisas, era péssimo morar nos fundos de uma lanchonete.

Prendi os cabelos recentemente pintados de roxo, e me olhei no espelho, nada de especial, um uniforme azul terrivelmente feio, calça preta e tênis.

Sempre senti que queria fazer a diferença, mas como poderia fazer algo, como poderia ter alguma coisa de especial, sendo que nem meus pais me quiseram? Não sinto falta deles, sei me virar sozinha, mas as vezes penso em como seria minha vida se eles não tivessem me deixado naquele abrigo.

Infelizmente nada disso aconteceu, fui deixada lá, por longos 15 anos, e ninguém se importou. O que me resta é tentar fazer a minha vida.

Diferente dos outros dias, os sábados são agitados, muita gente que viaja passa por aqui para fazer um lanche, já que a lanchonete é perto da rodovia.

- Vega - Yas, a outra garçonete me chama - tem cliente na mesa 15 esperando - então ela segue para a cozinha, voltando com vários pedidos.

Vou então atender a mesa e me surpreendo quando vejo um homem tão chique num lugar como a lanchonete, de terno e óculos escuros, não consigo ver a cor dos olhos, apenas reparo nos cabelos escuros cortados bem curtinhos, e na ponta da tatuagem que aparece no pescoço, não consigo reparar muito bem o que é, mas parece ser bem grande.

- Bom dia, o que deseja? - digo com um sorriso, ignorando a beleza evidente do homem.

Quando ele olha para mim, mesmo por debaixo dos óculos, consigo notar a surpresa, não entendo o motivo, obviamente não foi por me achar bonita, já que estou toda bagunçada e nada atraente com esse uniforme.

- hmm... Vou querer um café preto, por favor, e essas panquecas de chocolate - ele diz, me encarando.

Nunca tinha ouvido uma voz tão bonita, forte mas calma, e talvez um pouco familiar, não sei o motivo...

- Claro! - me viro e saio o mais rápido possível.

Isso foi estranho.

Pedi para a Yas levar o pedido do homem, não sei... Mas não gostei da sensação que senti quando estava perto dele, era uma sensação estranha, como se o conhecesse, só não sei de onde...

Depois de finalmente fechar a lanchonete, já era noite, então segui o mais rápido que pude para casa, já que não me atrevo a ficar dando bobeira por aí.

Não deixei de notar o carro azul escuro estacionado do outro lado da rua, não sei quem é, mas durante os anos no abrigo, tive que aprender a me defender, as punições para quem não cumpria as regras eram severas, então sei como escapar de enrascadas.

Pelo canto do olho observo o carro se movendo lentamente atrás de mim, é sério que essa pessoa acha que eu não estou vendo ela?

Entro em uma rua que só é possível passar a pé, e consigo ouvir quando a porta do carro bate.

Meu coração começa a acelerar com o medo. Se algo acontecer comigo, sei que nem irão sentir minha falta, exceto pelo pessoal da lanchonete, mas sei que não irão se preocupar em me procurar.

Acabo tropeçando em uma pedra, dando o tempo pra quem quer que esteja atrás de mim, me alcançar.

Quando me viro, me deparo com o homem que estava na lanchonete, agora sem os óculos, mesmo no escuro, é como se os olhos azuis dele brilhassem de tão claros, deixo um pouco o medo de lado e me perco na familiaridade daquele olhar, sentindo uma imensa sensação de conforto.

– Finalmente te encontrei, pequena estrela – ele diz com um sorriso, enquanto fico ainda mais confusa.


Deixem a estrelinha, é muito importante 🤍
Até o próximo capítulo

Vega (Stars 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora