Me segura, Ace

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- Me segura, Ace!

- Pode pular, Luffy!

A criança de 7 anos de idade deu um sorriso antes de saltar do pequeno muro de 1 metro de altura, direto para os braços do irmão mais velho. Com um afagar carinhoso nos seus cabelos e um abraço do maior, o menor se viu em volta de um aperto reconfortante nos braços do outro, como á muito sentia falta de ter.

- Você me segurou! - celebrou o garotinho de cabelos negros com um sorriso de canto a canto que ressaltavam perfeitamente as covinhas bem marcadas na sua bochecha, assim como a pequena cicatriz marcada debaixo do seu olho esquerdo, originaria de alguma queda que ele havia esquecido em pouco tempo.

- Eu sempre vou segurar você, idiota - o mais velho levantou o irmão mais novo, apoiando-o carinhosamente sobre os seus ombros para o levar às cavalitas, caminhando pelo caminho de terra batida entre a erva alta do pasto local, em direção á pequena casa de campo do avô com quem viviam. - Sempre, Luffy...

* * * * *


A rodovia parecia ainda mais movimentada do que o habitual naquele final de tarde. O frio de inverno que predominava naquela zona fazia-se bem presente no vento gélido que soprava em direção a norte, batendo diretamente nos braços descobertos de Luffy e arrepiando cada pêlo do garoto de pele morena e olhos escuros tapados pela franja que lhe cobria parte do rosto. Sentado sobre a ponte logo acima da rua movimentada, ao longe, as luzes da cidade que se destacavam na visão escura do quase anoitecer, não eram o que chamava a atenção do menor naquela paisagem. Na verdade, tal pormenor se escapava facilmente por entre a sua concentração comparado ao ponto fixo inexistente no céu escuro e nublado que a sua mente insistia em encarar.

Algo em si pesava mais do que o habitual. Havia um motivo para o seu sorriso, antes sempre presente na sua vida, que agora não se fazia mais presente ali. Luffy podia nem sempre saber em que ponto a sua inocente criança interior começara a desabar, mas se recuasse um pouco, talvez conseguisse se lembrar.

Não chovia. No entanto, a melancolia bem presente naquele momento o levava atrás no tempo até ao dia em que o seu avô morreu. Não era essa memória que o afetava ao ponto de lhe desligar as emoções. Vendo bem, aquele foi apenas mais um dia turbulento da sua vida, com os mesmos tons cinza que não pareciam querer trazer cor á sua vida. No entanto, talvez tenha sido o início do pequeno buraquinho chamado "solidão" que se instalara no seu peito e que agora o consumia por completo.

Naquele dia, a metrologia estava igual a hoje. Triste... Nublada... Melancolica... Numa noite, todos conviviam e jantavam juntos sobre a pequena mesa de cozinha da casa rural que pertencia ao seu avô. Na manhã seguinte, a natureza decidiu que a idade do velhote que o criara já se estendera de mais e o levou a dar um último suspiro por entre o sono da madrugada.

Não foi Luffy a encontra-lo naquela manhã, mas definitivamente, foi o menor quem mais chorou no funeral, entre os poucos parentes distantes, vizinhos e amigos que se reuniram cobertos por ternos pretos, em respeito e consideração aos dois netos que Garp deixara para trás.

*


- Me segura, Ace! - o menor pediu choroso, vendo Ace desabar em lágrimas enquanto o envolvia num caloroso abraço de irmão mais velho, tão reconfortante aos olhos do menor, naquele momento tão duro para os dois.

- Tudo bem, Luffy... Eu estou aqui. Vou estar sempre aqui.

- Porque o vovô morreu? Porque a gente ficou sozinho? Eu quero ele de volta!

- Ele não vai voltar, Luffy. Mas eu ainda estou vivo. Eu nunca vou morrer! Eu vou tomar conta de você! É uma promessa.

*

Me segura, AceOnde histórias criam vida. Descubra agora