Capítulo 40 - Uma carta de adeus.

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Hannah
2 semanas antes

Há quanto tempo estou aqui? Há quanto tempo eu não como? Há quanto eu não tomo um banho?

Eu estava deitada naquele chão úmido, vestindo somente uma camisa velha, com fome e ouvindo o barulho dos ratos comendo restos de comida no chão. Desde o meu sequestro, sou tratada como um animal. Como pouquíssimo e se eu quiser fazer minhas necessidades fisiológicas, tenho que me arrastar até o vaso sanitário imundo que tem nesse quarto.

Meu sequestrador é impiedoso, me trata com frieza, nunca disse sequer uma palavra e não perdia uma oportunidade de me agredir. Desde que fui jogada nesse lugar, eu nunca saí daqui, não sei o que está acontecendo do lado de fora, mas tenho certeza que as pessoas já devem ter desistido de mim e aceitado o meu desaparecimento. Amo os meus amigos e meu namorado, mas sei que eles não fariam tanto esforço por mim, já que nem a polícia está agindo.

No começo eu tentei fugir, tentei lutar contra ele várias vezes e correr até não aguentar mais, porém todas as tentativas foram inúteis. Ele é muito mais forte do que eu, nunca vou sair daqui. Escuto os passos dele descendo as escadas, vejo a porta sendo destrancada e ele entra com um saco plástico. Ele tira alguns alimentos de lá e joga tudo no chão, em cima de uma poça de água que se formou com a goteira no teto.

Meu estômago roncou de fome e eu corri até os alimentos, coloco tudo apressadamente na minha boca sem me importar com a sujeira. Depois de comer tudo que ele me deu, vejo que a porta está aberta e tento correr. Obviamente foi uma tentativa falha que só resultou em um chute na minha costela. Caí no chão sentindo aquela dor insuportável e lágrimas começam a descer pelo meu rosto.

— Você é nojenta e patética — o homem diz e sai de lá.

Meu coração acelera e não consigo controlar a minha respiração, eu senti que já havia escutado aquela voz, tentei me lembrar e não obtive sucesso. Eu esqueci de grande parte da minha vida, todas as minhas lembranças são do horror que passei dentro desse quarto. Mesmo assim, aquelas foram as primeiras palavras que o homem disse pra mim e eu tenho certeza que já ouvi essa voz antes.

Semana seguinte

Permaneci nesse buraco, comendo pouco e sendo agredida. Nesses dias, meu sequestrador apareceu menos, como não tenho noção de tempo, diria que ele não aparece há dias. Depois de muito tempo, escuto os passos dele vindo e abrindo a porta. Ele entra com duas sacolas e joga toda a comida no chão. Ele permanece me olhando enquanto como, quando termino, me sento com a cabeça apoiada no joelho e começo a falar com ele.

— Me deixa sair, sou favor. Eu juro que não...

Recebo um tapa na cara antes de terminar de falar, o lado esquerdo do meu rosto começa a arder e levo a minha mão até o local. O homem se sentou na porta e ficou olhando pra mim.

— Você nunca vai sair daqui com vida, entendeu? Nunca.

O homem se levanta e sai do quarto. Me deito novamente e fico olhando para o teto. Será que um dia vou ter a minha de volta? Isso é um castigo para tudo que eu fiz?

Tudo isso deve ser uma punição para o que eu fiz há dez anos atrás, de certa forma, eu mereço tudo isso. Então esse é o preço que estou pagando? Eu queria que as pessoas soubessem o quanto eu me arrependo de tudo. Me arrependo de ter ignorado, de não ter chamado ajuda... eu faria tudo diferente se pudesse voltar no tempo. O medo e a culpa já tinham me dominado, as dores físicas que sinto não se comparam com a dor predominante na minha mente. Eu jamais imaginei carregar tanto peso na consciência, espero que um dia o mundo perdoe a péssima pessoa que fui e pela dor que eu causei para aquela família.

A Verdade Oculta (DUSKWOOD)Onde histórias criam vida. Descubra agora