CAPÍTULO UM

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    Eu estava exausto. Há dias que estava colocando as falas dos personagens em pequenos balões digitais. Nate, por outro lado, apenas suspirava enquanto coloria mais algumas imagens em seu iPad. Era um daqueles dias no ano em que nada parecia acontecer. Exceto, talvez, quando Marin entrou na sala de artes como um furacão.
    - Meninos! - Ela gritou assim que nos viu. - Eu estava procurando mesmo por vocês!
    Nate mal levantou os olhos, mantendo as orbes azuladas focadas em pintar por dentro das linhas. Eu, por outro lado, parei, tanto para prestar atenção na garota, quanto para descansar a visão.
    - Sabem que dia é hoje? - Perguntou, com um brilho estranho de quem estava planejando algo.
    - Hmm, natal? - Nathaniel respondeu, com uma voz entediada.
    - Estamos no início do ano, Nate. - Marin o encarou com reprovação.
    - Já sei! - Eu levantei a mão. - É Páscoa?
    Marin balançou a cabeça, ainda sorrindo.
    - Dia da baguete? - Foi a vez de Nathan.
    - Dia da república?
    - Meu aniversário?
    - Não, galera! - Ela parecia quase explodir de tanta animação. - É dia dos namorados!
    Eu olhei de relance para Nate, que corou levemente. Há dois anos, ele era completamente apaixonado por ela, o que mudou algum tempo depois que cheguei, quando ele já trabalhava no mangá no qual ela era inspiração para a personagem principal. Acabei virando seu parceiro depois de uma pequena confusão - eu escrevia enquanto ele dava vida aos meus rabiscos com seus lindos desenhos. Algo como Marc e Nate contra o mundo.
    Éramos melhores amigos desde então, e tudo seria perfeito exceto pelo fato de eu gostar dele. Aquele típico caso "friends to lovers", que estava mais para "friends to friendzoned". Nath era bem calado, e quase nunca falava sobre sentimentos. Talvez apenas com Marinette, o que me deixava um tanto enciumado. Ainda assim, eu apenas engolia as emoções e deixava as coisas acontecerem em seu tempo.
    - Esse ano... - Marinette continuou. - Vou passar meu primeiro dia dos namorados namorando!
    - Graças a nós! - Nate lembrou com um sorriso.
    Era verdade. Bolamos inúmeros planos para que Adrien notasse Marin. Isso incluiu coisas absurdas, como colocar receitas de macarons na DM do garoto, ou mesmo uma vez invadir sua casa enquanto Marin se disfarçava de garçom. De qualquer forma, atualmente os dois estavam juntos, e pareciam muito felizes.
    Ambos estudavam com Nath em uma das turmas do Liceu do Françoise Dupont. Já eu, estava em outra, apesar de saber várias fofocas por ser muito próximo da turma deles.
    - Sim... - Marin revirou os olhos como se dissesse "detalhes à parte". - E por isso, eu gostaria de dar um presente. Para os dois.
    Nate me olhou com um sorriso ladino, e eu fiz o mesmo. Ele piscou para mim e virou-se novamente para Marin.
    - Só aceito se for um iPad novo! - Disse, brincando. Marin balançou a cabeça, rindo levemente.
    - Quase. O presente... - Ela tirou um envelope branco de dentro da bolsa cor de rosa que sempre carregava consigo. - Está aqui.
     Observamos o envelope liso enquanto Marinette o estendia em nossa direção. Que tipo de presente caberia em algo tão pequeno e banal? Lá se foi meu sonho de ganhar uma cesta de café no dia dos namorados...
    - Hm... Legal? - Nate fez uma careta engraçada, e eu ri.
    - Abram! - Ela exclamou, um pouco alto demais.  Eu peguei o envelope, abrindo o lacre e tirando dele dois ingressos.
    Para o filme de super heróis mais irado de todos os tempos, sobre o qual eu e Nate estávamos falando há dias. E para aquela noite.
    - Uau! Isso é sério?
    - Muito sério! - Ela deu alguns pulinhos animados, e eu quase fiz o mesmo, de tanta alegria. Nate apenas olhava para os dois tickets com os olhos brilhando. - Mas tem uma condição! - Ela parou abruptamente ao dizer a última frase, e eu e Nathaniel suspiramos ao mesmo tempo. Tinha que ter algo por trás.
    - É uma daquelas cadeiras de casal. Vocês vão ter que dividir. E não vale levar outra pessoa. Vou me certificar de que foram juntos. - Ela cruzou os braços fazendo uma expressão determinada. Não duvidava de suas palavras.
    Olhei para Nate, como se estivesse conferindo o que ele pensava. Ele pareceu refletir alguns instantes, antes de concordar com a cabeça.
    Marinette fez um gritinho agudo, o que me fez perguntar o que ela estava pensando. Estava na cara que tentava me juntar com Nathaniel, e ela nem sequer disfarçava.
    Ainda assim, o ruivo não parecia ter percebido. Sorri levemente com a crença de que nossa amizade permaneceria segura, não importava o que pudesse acontecer durante a noite.

Miraculous Tales #1: Yours Onde histórias criam vida. Descubra agora