Caminho ao lado de Maria pelos corredores do estúdio, tagarelando sobre a apresentação. Minha irmã não é do tipo falante, então nós fazemos o par perfeito, eu falo sem parar e ela só escuta.
Eu acho, pelo menos.
Provavelmente ela esteja pensando em como arrumar o código para fazer seu programa finalmente rodar no computador, mas tudo bem, eu não me importo. Só dela fingir que está me escutando é válido para mim.
— Vou procurar um banheiro, já venho — diz, já se afastando.
— Certo! Vou estar na sala de espera! — elevo a voz, acenando um tchauzinho rápido com a mão.
Ando em direção à sala de espera, passando por várias pessoas pelo caminho. Os bastidores do programa são bem movimentados. Tiro meu celular do bolso para olhar as horas e o guardo de volta em seguida.
São...?
Espera, eu esqueci de ver que horas são. Suspiro, irritada com minha própria burrice, e pego o aparelho novamente em meu bolso traseiro, me certificando de olhar bem para o horário marcado no visor dessa vez.
— Ai! — deixo o celular cair com o impacto da batida — Me desculp-
— Woah! Me desculpa! — o garoto diz apressadamente, sua fala soando um tanto desesperada — Você tá bem?!
Levanto as sobrancelhas, surpresa com sua reação. Reparo no garoto, ele é mais alto que eu e tem olhos bem puxadinhos, imagino que seja descentente de asiáticos. Seus cabelos loiros se encontram um pouco bagunçados pelo esbarrão e uma expressão exasperada toma conta de seu rosto.
— Não se preocupa, eu tô bem — respondo gentilmente. — Me desculpa também, tava olhando pro celular e não te vi. Você se machucou?
— Ah, não, eu estou bem — ele se agacha, pegando meu telefone do chão e me entregando-o em seguida. — Mas não sei se posso dizer o mesmo do seu celular...
— Ah... — olho para a tela do aparelho, estava completamente arruinada. — Acidentes acontecem, tá tudo bem.
— Eu vou pagar — diz rapidamente. — Digo, o conserto. Vou pagar por ele.
— Se eu fosse uma pessoa má eu te deixaria pagar — brinco. — Mas sério, não precisa, meu celular tem seguro.
Sorrio amistosamente para o garoto.
Ele ficou tão assustado quando viu o celular quebrado no chão, parecia até uma criança que fez algo errado e estava só esperando sua mãe chegar do trabalho para ficar de castigo.— Tem certeza? — pergunta, e eu aceno com a cabeça.
— Christopher Bang? Você é o próximo — um dos produtores do programa se aproxima. — Vamos?
O loiro me olha, antes de seguir o rapaz.
— Então me deixa retribuir de outra forma — estende seu celular, pedindo que eu anote o meu número e eu assinto.
Já que ele quer tanto retribuir, eu que não vou ser a chata que recusa gentilezas.
— Certo — entrego o telefone de volta para ele. — Se eu demorar pra responder suas mensagens, você sabe o motivo — rio, mostrando a tela toda espatifada novamente. — Ah, quase esqueci. Boa sorte na sua apresentação!
Ele se afasta enquanto ri da minha "piada", caminhando de costas, sem desviar o olhar de mim. Aceno com a mão, sorrindo amigável.
— Hey, Maya! — diz, elevando a voz, me fazendo olhar surpresa por ele saber meu nome — Vi sua apresentação na TV da sala de espera, você foi incrível!
Agradeço, um pouco envergonhada, sentindo minhas bochechas esquentarem com o elogio, enquanto Christopher some por entre os corredores.
Caminho apressada para chegar na sala de espera. Confesso que estou curiosa para ver a apresentação do garoto que esbarrou em mim.
O cômodo estava relativamente vazio, fui uma das últimas do dia a cantar, então não havia mais muitos competidores ou acompanhantes por ali. Sento no sofá branco, acompanhando a gravação do programa transmitida na grande TV. Alguns segundos depois, o loiro aparece na imagem, subindo os degraus do palco, o microfone bem seguro em sua mão direita. Diferente de mim, ele não parecia nada nervoso. Imagino que esteja confiante sobre seu próprio talento.
Queria me sentir confiante em relação a algo na minha vida.
A música começa a tocar. De cara reconheço a melodia mais que familiar da canção. É I'm Yours do Jason Mraz.
A voz do garoto surge e, na primeira nota cantada por ele, sinto meu corpo inteiro se arrepiar. Sua voz é linda e doce, quase como um carinho para os ouvidos, o timbre suave e encantador me fazendo imaginar que, se anjos existem, certamente têm uma voz igual a dele.
Ouço o som particular do botão da primeira cadeira sendo pressionado. Logo após ele, os outros três igualmente. Não tinha nem como ser diferente, a voz de Christopher é simplesmente maravilhosa.
Sinto uma pontinha de ciúmes ao ver que a Ivete virou para ele.
Aprecio o restante da apresentação, observando o semblante alegre do garoto na tela. Sorrio involuntariamente, me sentindo feliz por ele ter virado todas as cadeiras.
— Por que todos os corredores daqui são iguais? — Maria diz, se esparramando no sofá ao meu lado — Quase não consigo voltar.
— Não me diga que esqueceu de fazer o rastro de migalha de pão?! - zombo.
— Sério? João e Maria? Suas piadas já foram melhores — ela revira os olhos, rindo sarcástica.
Maria detesta seu nome, mas eu adoro. É ótimo provocá-la com piadas idiotas sobre isso e vê-la revirar os olhos todas as vezes. Tenho certeza que no fundo ela acha pelo menos um pouquinho engraçado.
Me ajeito no sofá, passando a mão pelos cabelos.
— Maya! O que foi isso?! — pergunta alterada, olhando para minhas pernas.
Me assusto, olhando para baixo instantaneamente.
— Ah, isso...? Você me assustou — olho para o celular que estava em cima de minhas pernas. — É, meu celular novinho, parece que já era.
— O que aconteceu?
— Aquele garoto ali — aponto para a televisão, onde Christopher conversava com os técnicos. — Nos esbarramos e eu deixei cair.
— E agora? — questiona, pegando o telefone nas mãos para ver o estrago mais de perto — Você acabou de comprar!
— Eu sei... péssima hora pra eu ter me demitido — comento baixo. — Todo dinheiro que guardei vai embora no conserto.
— O coreano devia pagar — aponta com a cabeça para a TV.
— Não. E eu disse a ele que o celular tem seguro — cruzo as pernas. — Mas espera, como sabe que ele é coreano?
— Não é tão difícil identificar — ela me lança um olhar de desprezo.
— Esqueci que nerd sabe tudo — retruco.
Volto minha atenção para a televisão, Christopher já desceu do palco e eu não vi o Time que ele escolheu.
Droga.
Agora vou ter que aguentar a curiosidade martelando na minha cabeça até o próximo dia de gravação.
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I Want You ☆ Bang Chan
FanfictionQuanto vale um sonho? Para Maya, que decidiu se demitir da cozinha de um dos restaurantes mais famosos do país depois de sofrer nas mãos de um chefe abusivo, responder essa pergunta não era mais tão simples assim. Mas ela precisava seguir em frente...