27| Insônia

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Era véspera da Grande Final do The Voice Brasil e eu dormia tranquilamente quando o toque do meu celular me acordou às... duas e dezesseis da manhã? 

Olhei com dificuldade para a tela e minha vista doeu com o brilho forte que eu tinha esquecido de diminuir antes de ir dormir. 

— Chan? — resmungo sonolenta — Aconteceu alguma coisa? 

— Desculpa ligar tão tarde, Maya. Não queria te acordar... 

— Tá tudo bem? — pergunto, já ficando preocupada pelo tom desanimado em sua voz — Por que tá acordado a essa hora? 

— Não consigo dormir — ele disse manhoso e eu percebi que aquela conversa duraria muito mais que alguns minutos. 

— Chan, a Maria tá dormindo — sussurro, olhando para a cama ao lado, e vejo que a garota ainda dormia profundamente. — Eu vou até aí e conversamos melhor, ok?

O garoto assente e eu deixo uma mensagem para Maria dizendo a ela que não se preocupasse com a minha ausência. Calço meus chinelos, saio pela porta com cuidado para não fazer barulho e entro no elevador do final do corredor. 

Cantarolo uma música da igreja quando meu medo por estar ali sozinha começa a crescer. Estava tudo tão vazio e silencioso, apesar das luzes dos corredores estarem acesas e nada parecer, de fato, assustador. 

Chego no andar de Christopher e caminho a passos largos para chegar o mais rápido que consigo em seu quarto. Bato levemente na porta e ele abre rapidamente.

Graças a Deus. 

Me surpreendo ao ver o cabelo do garoto envolto por uma pasta azulada que, com certeza, era descolorante. Não fazia nem um mês que ele tinha tingido os fios de um tom escuro e agora já estava clareando de novo?

Passo pela porta e entro, olhando confusa para ele. 

— Seu pijama é fofo — ele diz assim que me vê. 

— Você tá descolorindo o cabelo às duas da manhã? 

— É, acho que sim — tentei me segurar, mas não pude evitar julgá-lo por um instante, e acho que ele percebeu o jeito que eu o encarei. — Eu tava meio inquieto e resolvi pintar. E você tinha dito aquela vez que eu fico melhor loiro, então... 

— Chan, eu tava brincando naquele dia — rio alto, vendo ele arregalar os olhos depois de ouvir minha fala. 

— EU VOU TIRAR! — o garoto correu em direção ao banheiro. Eu o segui depressa.

— Tá doido? Se tirar agora vai ficar laranja! — paro em sua frente, o impedindo de passar — Deixe o tempo certo! 

— Não! Eu vou tirar! — ele tenta passar por mim de novo, mas eu fortaleço ainda mais a parede que tinha feito com o corpo. 

— Chan, você tá pirando! — o levo até a poltrona e me agacho ao lado dele — Senta e respira.

— Eu... — pego sua mão, o encorajando a desabafar — Tô surtando com a final tão perto. 

— Tá muito nervoso? — pergunto e o vejo confirmar com a cabeça — Ei, sabe que não precisa se sentir assim. Você é a pessoa mais talentosa que eu conheço. 

Chan estava cabisbaixo e eu levantei seu queixo para vê-lo melhor. 

— A música é parte de você, Chan. Só precisa deixar que todos vejam isso, como você sempre faz — acaricio sua perna. — Vou estar lá pra te apoiar e segurar a sua mão, ok?! Agora vai lavar esse cabelo antes que te dê um corte químico! 

O garoto ergueu as sobrancelhas, finalmente lembrando que ainda estava com o produto no cabelo e se apressou em lavar. Me peguei admirando seus fios molhados quando ele saiu do banheiro com a toalha pendurada ao redor do pescoço. Droga. Ele realmente tem um poder enorme sobre mim. 

— Eu pensei que você gostasse de loiro então não comprei nenhuma tinta... só esse matizador idiota — Chan falou emburrado, jogando o produto em cima da cama. 

Não consigo evitar e rio de sua ação, buscando o pote que ele havia jogado. 

— Vai ficar ótimo! Vem, eu te ajudo a passar. 

Aplico o produto no cabelo do garoto que estava sentado de um jeito fofo em um banquinho no banheiro. Nunca pensei que teríamos esse nível de intimidade e conexão, mas aqui estou eu, de madrugada, passando matizador no cabelo de Christopher. 

— Nunca mais faço isso! — resmunga, se mexendo no banco — Tá ardendo muito, Maya! 

— Isso que dá ser surtado — zombei rindo e ouvi ele reclamar com um "Ya". — E para de se mexer, ou vou acabar pintando mais seu rosto do que seu cabelo! 

Christopher lavou mais uma vez os fios que ficaram perfeitamente loiros e saiu de dentro do box em minha direção. Peguei a toalha e enxuguei os cabelos do garoto que estava parado em minha frente com os olhos fechados. 

— Pronto! Tá lindo! — termino, ajeitando seus fios com os dedos. 

— Ficou bom? — ele me pergunta antes de ir até o espelho para olhar. 

— Ficou ótimo. Eu adorei — o acompanho, parando atrás dele. 

— Obrigado — ele se vira para mim, me olhando fixamente. Céus, eu nunca vou me acostumar com esse olhar. 

— Me agradeça indo dormir, Chan. Você precisa descansar, amanhã é um grande dia. 

— Fica aqui hoje? — ele me encara com um rosto pidão, segurando minhas mãos e as balançando pra lá e pra cá — Você pode dormir na minha cama, eu fico no sofá. 

Penso no pedido do garoto e pondero uma, duas, até três vezes antes de decidir. Não sei se algum dia serei capaz de negar o que quer que seja para Chan, ainda mais quando ele me olha desse jeito. 

— Tudo bem, mas eu fico no sofá — imponho minha condição. — Você tem uma final pra ganhar amanhã, precisa dormir bem. 

Depois de muita insistência por parte do garoto, ele acabou cedendo e me deixou ficar no sofá. Christopher me deu todos os travesseiros e cobertores possíveis para que eu ficasse confortável e em seguida se deitou em sua cama, ainda me olhando. 

— Desculpa por fazer você vir aqui essa hora. Eu meio que sofro de insônia há um tempo, mas nunca tinha ficado mais de um dia sem conseguir dormir...

— Espera, você não dormiu ontem também?! — ergo as sobrancelhas chocada e ele assente com um ruído — Chan, você precisa dormir. 

Me levanto do sofá e caminho até ele num gesto quase involuntário. Ele me observa enquanto me aproximo e eu percebo o quanto ele fica adorável enrolado no edredom branco. 

— Vou ficar aqui até você dormir — me sento cuidadosamente ao lado do garoto e pego sua mão por baixo da coberta. — Só fica tranquilo e descansa um pouco.

Ele agradece e concorda, me desejando boa noite antes de fechar os olhos. Com a mão livre, acaricio seus cabelos e percebo que ele sorri com o meu toque. 

Por um bom tempo fiquei ali, apreciando a beleza e a inocência que aquela visão me trazia. Chan finalmente parecia calmo e despreocupado e sua respiração pesada me fez perceber que ele havia pegado no sono. Era como se ele só precisasse se sentir seguro para descansar tranquilo. 

Me preparo para levantar dali, me movendo com cautela para não acordá-lo quando sinto ele segurar minha mão com força. 

— Não vai. Por favor — ele sibila baixo, ainda apertando minha mão. — Fica aqui comigo. 

Suspiro, vendo que Chan realmente precisava que eu ficasse ali e sussurro: 

— Eu não vou sair do seu lado.

I Want You ☆ Bang ChanOnde histórias criam vida. Descubra agora