Ela se enturmou fácil, o grupinho maravilha logo ganhou mais uma integrante. Todos os dias admirava aquele ser de luz (parece presunção mas garanto que nem esse adjetivo é o suficiente pra dizer o quanto ela é incrível) de uma distância segura e essa era a minha nova rotina.
Os dias se passavam as vezes lentos e as vezes rápido demais, todos interagiam (muito inclusive). De acordo com alguns professores, a nossa turma era impossível como se isso fosse fazer os alunos mudarem, até que convocaram a coordenadora para fazer um mapa de sala (vocês tão ligados que essa porcaria não funciona né?) e lá estava eu fingindo naturalidade, fui pro meu novo lugar abaixo a cabeça na mesa e fechei os olhos, quando tudo aquilo acabou e o professor começou a dar continuidade a aula levantei a cabeça e fiquei uns minutos olhando para um ponto fixo na minha frente até me situar, pessoas aleatórias nas cadeiras da minha frente. Abaixei pra pegar meu caderno na mochila, coloco sobre a mesa e começo a folear o mesmo, quando ouvi aquela voz carregada com o sotaque perfeito (perto demais), as batidas do meu coração se alinharam com o timbre da voz dela
- Me empresta uma caneta? - estremeci, entreguei a caneta que estava entre meus dedos, ela me agradeceu com um sorriso no rosto, nessa hora tudo que eu queria era ser o motivo daquele sorriso.
Costumo dizer que coleciono sorrisos, se fossem figurinhas, o dela com certeza seria a premiada. Depois desse dia eu chegava, ia pro meu lugar, ultima cadeira da ultima fileira (ou primeira, depende do ponto de vista) pelo menos eu tinha a janela. Mochila no chão do lado da cadeira, musicas estrondando nos fones, caderno de pensamentos aberto, olhar perdido na janela, mente viajando...
Sou puxada de volta pra realidade quando sinto um dos meus fones ser tirado do meu ouvido, estremeci, ela tinha trago a cadeira dela pra mais perto da minha e ainda meio embriagado pelo perfume dela, ofereci um sorriso contido, me ajeitei na cadeira enquanto ela se concentrava no que estava ouvindo. Ela me estendeu a mão e eu não entendi e alternei o olhar entre a mão e os olhos dela (fiquei tipo: an? ela tá me cobrando? nem pedi nada) ela pareceu entender minha confusão e com aquela voz incrivelmente perfeita disse "o celular" sorri e entreguei.
Ela começou a ver minhas músicas, talvez não tenha encontrado o que procurava, escreveu nomes no bloco de notas
- Gosto dessas músicas, são muito boas, você vai gostar - disse com um meio sorriso de lado, entendi como um pedido "melhore seu repertorio por favor" então coloquei isso no topo da lista de coisas a fazer.
De resto o dia foi igual , ela voltou a cadeira pra lugar e a aula seguiu. Todos os dias eu fazia meu "ritual": ultima fila, ultima cadeira, mochila no chão, caderno de pensamentos, fones estrondando (mas depois daquele dia eu aprendi muito sobre o gosto musical dela) e sempre depois de duas músicas ela chegava (tinha seu próprio ritual) mas depois da quarta música ela sempre roubava um dos meus fones e deixava aquele perfume em mim, as vezes a preguiça falava mais alto e ao invés de puxar a cadeira, nós dividíamos a mesma cadeira, o que fazia com que o cheiro dela empreguinasse em mim (não estou reclamando, longe disso, era a melhor parte do meu dia), por breves momentos eu podia dizer que tinha um pedaço do paraíso mesmo sem entender o que significava.
Os dias passavam, os sentimentos cada vez mais confusos, as férias chegaram e confesso que a saudade era sufocante, posso dizer que contava os minutos pra voltar, acho que foram as semanas mais longas da minha vida. Quando finalmente acabou e eu voltei ao meu ritual pude sentir a ansiedade me consumir, em silencio meu peito parecia que ia rasgar. Como pode uma única pessoa causar todos esses efeitos em alguém?!
Percorri o trajeto até minha sala á passos largos, ultima fila, ultima cadeira, mochila no chão, caderno sobre a mesa...
As músicas ecoando pelos fones, 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª música e nada dela chegar; a aula começou, acabou e ela não apareceu, uma semana angustiante se passou sem aquele sorriso.
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Uma história de verdade sobre um amor de mentira
RomanceQualquer semelhança é mera coincidência... Ou talvez não