Ainda acredito em mim

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Meu nome é Petruco, sou escritor e pintor. Meu sobrenome não posso dizer, infelizmente foi tirado de mim. Tenho tantas histórias para contar, romances e aventuras que criei e guardo comigo e que a qualquer momento irei contá-las. Mas para iniciar a minha jornada nesse mundo incrível da leitura, decidi publicar a história que me fez chegar até aqui, e dedico ela a Akin.

"Onde vosmecê estiver, jamais me esquecerei de ti."

Em 1847

Marquei um encontro com o comendador Henriques para apresentar uma das minhas histórias na única cafeteria da cidade o "café e sabor", que alias é um lugar com uma beleza impecável, além da linda paisagem que se encontra do lado de fora, a "praça das acerolas". Cheguei cedo para poder me organizar em palavras o que poderia dizer, apesar de já ter ensaiado tanto, sou muito desastrado e às vezes me embolo nas minhas próprias palavras.

Sento-me à mesa de frente a o maior pé de acerola da praça. Que sorte a minha encontrá-la vazia, é realmente deslumbrante o visual.

_ Olá o que deseja? - diz o garçom.

_ Estou no aguardo do comendador para uma reunião. Assim que ele chegar farei o pedido.

Entretenho-me com as folhas caída no chão da praça e as belas moças e senhoras bem vestidas que por ali passam. Olho então para o relógio de ponteiro de cima da porta de entrada e percebo que já se passaram doze minutos. Começo a me questionar sobre a sua ausência e me proponho a acreditar que algum imprevisto tenha acontecido. Decido então aguardar por mais um tempo.

_ O senhor deseja algo? - diz a garçonete.

_ No momento não.

Passam-se mais alguns minutos, olho novamente para o relógio e se vão mais vinte dois minutos e nada do comendador. Nesse momento minhas esperanças já se foram. O que de tão grave pode ter acontecido para que o comendador se atrasasse?

_Olá! Já faz mais de meia hora que o senhor esta nesta mesa e até então não fez um pedido se quer. A cafeteria esta bem movimentada e ainda temos pessoas aguardando alguém se levantar. Caso o senhor não faça o pedido agora, vamos ter que pedir para que se retire. - diz o primeiro garçom que me atendeu.

Com um sorriso no rosto e ao mesmo tempo desorientado, pego os meus pertences e me levanto.

_Perdão. Não sei o que houve com o comendador, provavelmente algum imprevisto. Desculpe pelo incômodo. Com licença. - E assim me encaminho em direção a saída.

Não gosto de ter pensamentos negativos, embora tenha recebido muitos nãos em relação as minhas histórias. Já faz três meses que sai de Portugal e me repouso no Brasil, para correr atrás do meu sonho que é ser escritor e ao mesmo tempo longe da família para que eu possa assim ser livre. Moro na pensão de dona Ana nesse mesmo período, mas infelizmente não tenho mais como pagar o aluguel, minhas finanças foram todas investidas em viagens e reuniões. Não tenho mais o que gastar.

Meu pai é coronel, ganha bem. Nunca precisei trabalhar para ajudar no sustento da casa. Ele queria que eu seguisse o mesmo caminho que ele, eu até tentei, mas logo percebi que não era aquilo que eu queria. Já minha mãe é dona de casa, mas não sabe muito sobre a vida. Assim que conheceu meu pai aos quinze anos, logo engravidou, e para não envergonhar a família, seus pais os obrigaram a casar. O que ela sabe sobre a vida, é o que ela viveu até ali, pois foi impedida de fazer muitas coisas por esse "erro". Minha mãe é um poço de sonhos, ela me conta tudo que gostaria de fazer e ser. Sempre me incentivou a fazer o que gosto e correr atrás. Quando eu disse que decidi vir para o Brasil e viver esse sonho, ela me disse que lhe veio um misto de sentimentos e que embora quisesse estar ao meu lado, deveria me deixar partir e viver o que eu almejava.
Juntei todo meu dinheiro de mesada que havia guardado e me preparei para partir. Contaria ao meu pai minutos antes de ir, pois sei que ele não me apoiaria e caso conta-se antes, eu ouviria muitas coisas negativas dele. Mas infelizmente não pude me despedir, aconteceu um imprevisto em seu trabalho e ele não apareceu em casa.
Assim que cheguei no Brasil mandei uma carta para minha mãe avisando que eu já havia conseguido me hospedar em dona Ana e que estava tudo bem. Dias depois ela me retornou dizendo que meu pai estava bravo e envergonhado por eu ter feito "essa loucura e ter jogado todo meu futuro no lixo" palavras dele. E que não enviaria dinheiro algum para que eu pudesse me sustentar, pois ele não apoiava essa minha decisão. No fim da carta minha mãe diz me apoiar e que estava torcendo para que desse tudo certo. "Já sinto muitas saudades e sei que você vai conseguir. Quero que saiba que dependente de qualquer coisa, de qualquer escolha. Saiba que sempre vou te apoiar." - Toda vez quando me sinto mal e desesperançoso, essas palavras me erguem a continuar de pé.

E não foi diferente, assim que li novamente a carta, me senti encorajado e forte. Deitado em minha cama, com a carta apoiada no peito, me propus a buscar alternativas para continuar indo em busca desse sonho. Levanto-me da cama e me encaminho até a prateleira para guardar a carta, assim que a guardo, sinto um vento leve, que invade a janela ao lado, fecho os olhos para o sentir em cada parte do corpo. Ouço um barulho estranho vindo do meu guarda roupa, abro os olhos assustado e espero novamente o som.

_Tem alguém aqui. - Falo em voz baixa.

O som parecia como se alguém quisesse sair dali. A porta estava sendo empurrada como se quisesse quebrá-la. Mas quem poderia ser? Imediatamente uma das empregadas entra no quarto e se assusta ao me ver.

_Senhor Petruco! O senhor já chegou? - diz Ayana completamente assustada.

_Ayana. Tem ágüem neste guarda roupa? - digo convencido que sim.

Ela demora a me responder. E pelo seu silencio desconfio de que estou certo. Decido então virar as chaves para saber quem ousou a invadir meu quarto. Assim que abro a porta, um vulto sai e vai para trás de mim pressionando os braços e apertando em meu pescoço.

_Akin não! Akin não! Esse é o senhor Petruco que eu havia te dito. - diz Ayana desesperada.

Ele então me solta, vai até minha frente, se abaixa, olha em meus olhos e diz.

_Perdão senhor Petruco. Não quis lhe machucar.

Eu estava ofegante buscando ar, não havia reparado ainda nele. Mas assim que ouvi sua voz e olhei em seus olhos verdes, não pude me conter e reparar em cada detalhe em seu rosto. Nariz pequeno, boca carnuda, rosto hexagonal (quadrado), pele preta como a escuridão da noite e aquele profundo olhar verde cor de oceano. Não soube o que responder, não conseguia encontrar palavras, estava perdido mediante a beleza daquele rapaz.

_O senhor havia me dito que eu poderia lhe pedir um favor quando lhe ajudei a encontrar um dos seus cadernos de historias. _ diz Ayana

_ Por favor senhor - Ayana se ajoelha implorando.

_Esse rapaz esta fugindo do capitão do mato que o maltrata muito. Acolhe ele aqui com o senhor, até ele conseguir sua liberdade.

_E como ele conseguira sua liberdade? - pergunto

_Eu ainda não sei. Mas o senhor também é pintor, o senhor poderia pintar a minha pele igual a de homem branco? Farei o que o senhor quiser e serei eternamente grato. Por favor, me faça um homem livre? - diz Akin.

Continua....

Beleza PretaOnde histórias criam vida. Descubra agora