Introdução

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   Já faz muito tempo que sou um anjo da guarda. Bastante tempo mesmo e, é a primeira vez que passo por tal situação. Nunca aconteceu de alguém sob minha tutela, sob minhas asas cometer tal absurdo, se perder a tal ponto que já nem sei se é reversível.
    Tudo isso é novo pra mim e agora estou eu aqui, um anjo tendo que ser advogado. Advogado da acusada, que também é vítima. E eu advogado, testemunha ou réu? Confesso que não sei. Não fui treinado para isso. Já disse. Sou apenas um anjo. Não fui treinado para nada disso. Meu Deus! O que estou fazendo? Não é minha atribuição. Mas eu preciso fazer isso. Ficar aqui acuado no canto escuro desse quarto segurando uma pena é ridículo. Queria mesmo me poupar dessa situação ridícula. Porém, quando a vejo aí nessa cama com todas essas coisas colocadas nela, penso que realmente preciso pois só eu conheço a história.
  Na verdade isto é um prenúncio de meu próprio julgamento. Eu falhei e não posso permitir que uma pobre alma pague por meu descuido. E foi descuido porque afinal, eu não sou um assassino. Repito, sou anjo.
  A cena que narrarei a seguir retrata o início de tudo e pode até parecer clichê, mas é a verdade. Perdoe-me se parecer uma cena ruim de telenovela de gosto duvidável. Essa não é minha intenção. Eu não tenho estou habituado a criar histórias e, de qualquer forma isso implicaria em mentir, e não sei se vocês sabem, mas nós os anjos não temos livre arbítrio, não consigo mentir. Pecados humanos não estão ao meu alcance.
  Ah! Perdão. Não me apresentei. Meu nome é Muriel, sou anjo da guarda, mas eu já disse isso… deve ser o nervosismo. Agora você deve estar se perguntando qual a minha aparência. Se sou homem, mulher, ou um menininho gordinho de bochechas rosadas e cabelinho loiro encaracolado, se sou um homem forte com armadura e espada na mão. Há até quem pense que sei canto gregoriano… mas não há nada disso. Ser homem ou mulher é algo que só se aplica a vocês seres humanos. Nós somos apenas anjos.
  Quanto à minha aparência preciso ressaltar que está além da sua imaginação. Mas como o ser humano é narcisista a tal ponto que só é capaz de imaginar um ser celestial que se pareça com sua própria espécie, e eu preciso da sua empatia para que você pare com essas perguntas e preste atenção na história, assuma que me pareço com um rapaz de mais ou menos vinte e cinco anos. E um belo rapaz. Quanta mediocridade! Eu sei que belo é muito vago, mas como beleza é relativa e minha forma é simbólica pode escolher o  que é bonito para você.

O julgamento do anjoOnde histórias criam vida. Descubra agora