- Quero deixar bem claro que só estou fazendo esse trabalho com você porque a professora mandou. Caso contrário, eu nunca me juntaria a você, você é meio - Ela me olhou de cima pra baixo como se eu fosse algo nojento - Meio você. Você entendeu, né?
E essas foram as palavras de Rachel Crowley, uma loira extremamente magra, com olhos azuis e que faria qualquer menino perder o ar. E é por esse motivo que ela é conhecida como "Barbie" entre os alunos da escola toda. Todo esse discurso (desnecessário) que ela deu, foi porquê a professora obrigou-a a fazer o trabalho de ciências comigo. Eu não respondi nada, apenas abaixei minha cabeça e comecei a fazer a minha parte do trabalho, e logo em seguida, a dela também. E enquanto escrevia, não consegui parar de pensar no quão triste e irritante é a minha vida na escola. Se as professoras não obrigarem os alunos a fazerem os trabalhos comigo, eu não tenho par quando se trata de atividade em pares. Eu basicamente não tenho amigos nessa escola, apenas converso com algumas poucas pessoas que se demonstram legais comigo, como a Chloe, a Leyla ou o Andrew. Porém, eles não estão em todas as mesmas classes que eu, apenas em Inglês e Matemática, o que significa que nas outras matérias, eu não falo e não tenho amizade com ninguém das turmas. E o porquê disso? Eu sinceramente não sei. Me mudei para a Inglaterra faz apenas um ano, meu inglês não é totalmente fluente quando se trata de conversar, porém eu consigo me virar. O problema é que as pessoas simplesmente não parecem estar interessadas em fazer amizade comigo. Me acham estranha.
Trabalho terminado faltando cinco minutos para bater o sinal do break time, intervalo. Eu fiz o trabalho todo sozinha, Rachel apenas decorou a cartolina, o que me deixou irritada e com vontade de dedurar ela para a Mrs Green, mas resolvi que isso só iria causar mais confusão entre mim e a menina, e eu estou cansada de confusão. Sinal bateu. Fui a primeira a sair da sala, porque ao contrario deles, não tenho amigos para ficar andando lentamente enquanto converso, ando tão rápido que quando paro percebo que estou ofegante.
Primeira parada do break time: Banheiro. Segunda: Biblioteca da escola. Ou como costumo chamar "Minha segunda casa", considerando o fato de que passo todo o meu tempo de intervalo lá. A biblioteca é grande e possui diversas prateleiras lotadas de livros organizados em números e letras. Um dos cantos da sala é cercado por duas prateleiras e uma parede, na qual se encontra um sofá encostado. No outro canto há cerca de quinze computadores e uma enorme impressora. Há também um balcão, onde a Mrs. Alves, senhora de cabelos brancos responsável pela biblioteca fica. Entrei e fui direto para o sofá no cantinho da biblioteca, que por sinal é muito confortável, peguei um livro que comecei a ler faz uma semana, cujo o tema principal é amor e romance. Eu tinha parado de ler ontem na página 138, então retomo a leitura mas sou interrompida. Interrompida pelos meus próprios pensamentos. Não consegui me concentrar na leitura, mesmo me esforçando, porque meu sonho, ou melhor, pesadelo de ontem a noite não parou de perseguir minha mente. O ruim é saber que tudo aquilo não foi apenas um pesadelo criado da minha mera imaginação inconsciente, e sim a mais pura realidade que insiste em me atormentar enquanto durmo. Lembranças nunca realmente vão embora, o que me faz por muitas vezes desejar ter amnésia e esquecer quem sou, e o que vivi. Fecho o livro, encaro a prateleira enorme de livros á minha frente e lembro da continuação desse pesadelo.
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Meu pai me deu um leve empurrão nas costas em direção aos degraus que levavam até as grandes portas de entrada de madeira, estilo castelo medieval. Eu olhei pra trás e vi minha mãe segurando o choro, cabelos aos ventos e mão no coração. Meu pai já havia virado as costas - Talvez porque estava chorando e não queria ser visto assim ou talvez porque ele seja simplesmente muito frio de coração - E caminhava em direção ao carro, uma Audi TT 2004, modelo mais novo da época e motivo de orgulho dele.
- Seguimi per favore. - Disse a mulher segurança, em um tom rígido.
Eu à segui pelo grande salão da escola, que realmente parecia como uma recepção de uma escola medieval comum, com um enorme balcão e pisos de madeira, um lustre de vidro gigante pendurado no teto e dois sofás de veludo roxo encostados no lado oposto ao balcão. O lugar era extremamente enorme, e por ser pouco mobiliado, cada passo gerava um eco gigante, e isso me causava medo. No balcão havia uma senhora muito simpática, cabelos brancos e olhos azuis cristalinos, ela acenou com a cabeça e deu um sorriso para mim quando eu e a segurança passamos por lá. Passamos por um corredor enorme e escuro, o chão de madeira agora substituído por um carpete vermelho. Segui ela até chegarmos na porta de um elevador dentro de uma sala que estava totalmente vazia, nem sequer um móvel, apenas aquela porta de elevador de metal na parede, dando um toque estranho ao visual da escola, considerando que tudo lá era medieval, exceto por essa tecnologia do mundo atual. A segurança apertou um botão prateado na parede e as portas do elevador se abriram, entramos e o que aconteceu em seguida me surpreendeu bastante. A mulher apenas falou em alto e bom tom alguns números em italiano, e um holograma apareceu nas grandes paredes de metal do elevador, me fazendo arregalar os olhos e dar um pulo para trás, na defensiva. Assim como fazemos com celulares touchscreen hoje em dia, a segurança usou seu dedo para clicar no holograma, fazendo diversas janelas surgirem, com infinitas opções e botões de todas as cores. Ela foi muito ágil e foi escolhendo opção atrás de opção até que o holograma simplesmente desapareceu e ela se virou em minha direção, fazendo com que eu desse mais um pulo pra trás, ainda chocada com tamanha tecnologia. Fiquei esperando que ela percebesse minha expressão confusa e me desse alguma explicação, ou pelo menos se apresentasse, mas nada disso aconteceu. O elevador começou a descer, o que me intrigou, considerando o fato de já estarmos no primeiro andar da escola, mas não questionei, eu estava assustada demais para falar qualquer coisa ou até mesmo respirar normalmente. As portas se abriram, e saímos dentro de um salão gigante, com paredes e chão completamente brancos, e assim como a outra sala, sem nenhum móvel, apenas o elevador. Ela me guiou até a porta de saída, que levava á outro salão com estilo medieval, exceto por cinco grande portas de metal no fundo da sala. O lugar era escuro e sombrio, paredes de veludo marrom avermelhado e piso com um carpete cor de caramelo. Assim como na entrada do colégio, havia apenas um lustre de vidro no teto, causa da má iluminação, considerando que o lugar era grande demais para ser iluminado por apenas uma lâmpada. Bloqueando a passagem até as cinco grande portas de metal, numeradas de 1 até 5 com pinturas na parede, estava um enorme balcão de madeira exatamente como o da recepção, porém maior. Caminhamos até la, onde uma mulher loira de cabelos até o ombro, e que aparentava ter por volta dos 40 anos, nos aguardava do outro lado do balcão.
- Benvenuti a scuola privata di Lamon! - Disse a mulher loira com todo entusiasmo do mundo - Bem vindas á Escola Privada de Lamon!
Ela me lançou um sorriso tão grande, como se fosse uma felicidade de outro mundo me receber na escola, que eu até estranhei, me assustei e evacuei para trás.
- Paloma! Essa é a tão esperada Silena?
"Paloma, então esse é o nome da segurança" pensei, finalmente descobrindo o nome da mulher ruiva que eu vinha seguindo nos últimos dez minutos. "Tão esperada Silena" O que ela quis dizer com isso? O que me faz ser assim "tão esperada"? Medo e confusão começaram a crescer em minha mente, então eu simplesmente foquei em outra coisa, nas grandes portas. Enquanto Paloma e a mulher loira conversavam, eu comecei a realmente prestar atenção naquelas enormes portas de metal. A parede onde elas se encontravam era a única sem veludo, apenas uma pintura branca, e um número pintado de preto em cima de cada porta: 1,2,3,4 e 5.
- Silena, será que você poderia colocar seu dedo indicador aqui em cima por um momento por favor? - Falou Paloma para mim, então eu me aproximei do balcão e fiquei nas pontas do pé para alcançar o topo, coloquei meu dedo indicador da mão direita em uma pequena maquininha, uma luz vermelha foi emitida dela e então me disseram que eu poderia tirar o dedo de lá.
- Porta número 4, quarto número 2609 - Disse a loira enquanto abria um pequeno portãozinho embutido no balcão - Podem passar!
Paloma passou e eu à segui, até estarmos cara a cara com a enorme porta de metal número 4.
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O Planeta Secreto
Teen FictionUma pequena história dedicada especialmente aos curiosos. Conheça Silena Garcia, uma menina de 15 anos com uma história onde você vai encontrar um pouco de mistério, amor e alguns amigos de outro planeta.