Coisa Cor-de-Rosa

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Quem sou Eu? Foi a pergunta que eu fiz em toda a minha vida, e eu acho que está na hora de lidar com isso. Com o mundo real.

Adaptado. Jamais Vu, BTS.

Existia uma época em que Wong Kahei era uma face de vários nomes. Kahei. Vivi. Viian Wong Hwang Ara. No fundo, todos eles eram sempre a mesma coisa e isso a tornava ainda mais bela. Pelo menos, era o que ela acreditava. Sempre gostou de se apresentar de diversas maneiras com suas mais singelas e verdadeiras expressões para que todos percebessem o quanto era minimamente diferente.

E naquele dia em especial, ela se sentia uma pequena flor animada em apenas andar por uma simples calçada. Estava procurando um belo café para se sentar e terminar a sua leitura. Uma de suas escritoras mais memoráveis, e talvez uma das poucas com voz nesse grande mercado da destruição, havia lançado uma obra recentemente, e Kahei, encontrava-se com as emoções à flor da pele, Agatha Christie era tipo um enorme legado britânico, e mesmo nunca tendo saído de sua humilde casinha, ela se sentia nas ruas Inglaterra em meio a conflitos policiais simplesmente devido das palavras da romancista.

Kahei poderia gritar de alegria enquanto saltitava por aí com o exemplar mais recente de Passageiro para Frankfurt que conseguiu em uma dessas livrarias antiquadas de folhas amareladas. A sinopse acabou revelando poucas coisas: missão diplomática, uma mulher misteriosa, troca de identidades e extravagâncias. Porém, Kahei já se sentia investigando o que quer que fosse estar prestes a acontecer em sua mente quando estiver em um lugar confortável para embarcar em sua leitura.

Até se esqueceu de vistoriar os lugares que seus olhos repousavam. Eram praticamente iguais, e Kahei estava cansada dessa mesma monotonia. Todos os cafés pareciam ter sempre a mesma fachada com um letreiro de cor diferente, e sua leitura precisava ser bem-vinda.

Continuou seu caminhar apertando seu exemplar com os braços cruzados em seu peito, mesmo ansiosa para entender quem era o passageiro para o tal Frankfurt, deveria ser exigente com o local para a sua mais nova aventura. Foi uma das coisas que ela o deixou. E apenas a lembrança fez com o que seu caminhar se interrompesse rapidamente. Kahei até sorriu, um pouco sem jeito, em ver suas lembranças a levando bruscamente ao passado. Até poderia dizer que nada a sua volta lembrava da figura de Jo Haseul, contudo, a maior prova dessa mentira estava em seus próprios braços e coração.

Alguém trombou em seu ombro esquerdo e ela pediu desculpas, se reverenciando. A franja acastanhada caindo em seus olhos e a cascatas de seus fios castanhos banhando seus ombros. Kahei, mesmo não sendo a mesma Kahei de antigamente, ainda se sentia um pouco afetada com momentos como aquele.

É que, teoricamente, chega a ser irônico. Pois, ela já vivera tudo aquilo em um passado nem tão distante. Essa mesma corrida à procura de um café com um novo exemplar em mão era uma das rotinas que as duas mais prezavam, a diferença, que agora Kahei estava sozinha e Haseul ao lado do seu novo grande amor.

Será que ela ainda era exigente com a quantidade de açúcar no café ou se o expresso estava forte o suficiente para ser chamado de expresso? Kahei apostava que sim.

Essa era a Haseul que tanto conhecia e até se apaixonou perdidamente. Suspirou. Precisava de um lugar para se sentar imediatamente antes que começasse a chorar no meio da rua. Não se enganem, não seriam lágrimas de desespero, apenas, saudade. Essa coisa dilacerante que pega qualquer um de surpresa e o fez se esquecer de ser coerente com suas próprias emoções.

Sim, ela sentia saudades de Haseul, e que não iria depois de tudo o que viveram, seria hipocrisia de sua parte assumir uma postura que negue suas próprias origens. Da primeira vez que a vida lhe deu um belo chute na cara e mostrou que a realidade poderia ser cruel.

Nunca mais rosaOnde histórias criam vida. Descubra agora