Beananza, O Barril e um caderno

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Heejin levantou os olhos das suas notas, incomodada. Ao fundo da biblioteca, um grupo de garotas conversava tão alto que ninguém se conseguia concentrar. Uma gargalhada ecoou pela sala e a autora imediatamente cobriu a boca com a mão, tendo a decência de parecer culpada. Heejin suspirou. Claro que tinha de ser Jungeun e companhia. Por que é que pessoas assim tinham de ser tão assim? Existiam salas de estudo em grupo por alguma razão.

— Queres ir para outro lado? — perguntou Yerim, sentindo a desconcentração da amiga. Heejin lançou-lhe um olhar agradecido, suspirando. Rapidamente arrumou as suas coisas e ambas saíram da biblioteca sem precisar de trocar mais palavras.

Beananza? — perguntou Heejin, quando ambas estava fora do edifício. Recebeu um aceno e um sorriso em resposta. O café favorito delas era sempre uma alternativa segura. Ficava fora do campus e era mais frequentado por empresários do que por estudantes.

— Eu não entendo estas pessoas. — suspirou Yerim — Para que é que vêm para a biblioteca se só vão incomodar as outras pessoas?

— Chama-se privilégio. — retrucou Heejin — Ninguém as vai repreender, porque são elas.

— Não entendo o que há de tão especial nelas.

Heejin entendia. Jungeun era bonita. E as suas amigas também. Hyejoo, uma delas, estudava o mesmo que Heejin — enfermagem —, apesar de estar um ano acima. Jungeun, contudo, estudava artes dramáticas. Aquele grupo era bastante eclético, incluindo também uma estudante de contabilidade — Kim Jiwoo — e uma de engenharia civil — Kim Hyunjin. Não eram apenas bonitas, como também eram alunas exemplares, do tipo com imensas atividades extracurriculares e que no primeiro ano de faculdade já tinham um currículo maior do que o de Heejin em três anos.

— Pois, nem eu. — suspirou. Yerim tinha os seus problemas com aquele grupo de garotas. Era prima de Jiwoo e a relação entre as suas era bastante amarga. Acima de tudo, porque toda a gente idolatrava Jiwoo e a família delas fazia questão de comparar as duas em qualquer oportunidade. Não era saudável, mas também não era culpa de Jiwoo. Heejin, contudo, jamais iria verbalizar esses pensamentos. Yerim não iria receber bem essa opinião.

O que não significava que também não guardasse algum tipo de ressentimento. Especialmente por causa de situações como aquela, em que tinham de se retirar da biblioteca porque ninguém tinha coragem de mandar calar a boca de Hyejoo.

Apanharam o autocarro, trocando impressões sobre o trabalho de Anatomia II. Yerim estudava Fisioterapia e era frequente terem as mesmas disciplinas. Fora assim que se tinham conhecido, há dois anos. Yerim confessou que iria começar a procurar um estágio — "para apimentar um pouco o meu CV" — e Heejin voltou a sentir aquela sensação desgastante de que nada era suficiente. Toda a sua vida, tinha vivido um passo atrás dos seus objetivos e cinco passos atrás de toda a gente. Sim, tinha as notas mais altas da turma e os professores adoravam-na, mas sabia que isso não era suficiente. Não se queria trabalhar num bom hospital, em Seoul.

[...]

Estava a ser um dia estranho. Encontrar Jungeun e companhia na universidade era comum, corriqueiro, parte do dia a dia de Heejin. Mas até isso acontecia duas a três vezes por semana, não mais que isso. Duas vezes no mesmo dia, contudo? E uma delas, fora do campus? Bizarro.

Já tinha anoitecido e os jovens que se viam na rua dividiam-se essencialmente em duas categorias: os que se preparavam para se ir divertir, e os que se preparavam para ir dormir. Heejin era nenhum dos dois, mas gostava de se encaixar nos últimos, depois do dia cansativo que tivera. E estranho, há que realçar novamente.

Devia atravessar a estrada, se queria seguir pelo atalho lá ao fundo, mas ver Hyejoo fê-la mudar de ideias. Hyunjin e Jungeun estavam com ela, junto a uma porta de madeira grossa e barris grandes. Heejin conhecia o sítio, mas nunca tinha lá entrado. Era aquele bar estúpido onde os homens bêbados tentavam engatar as mulheres igualmente bêbadas e que os estudantes da universidade normalmente evitavam. Havia tantos bares naquela zona, que não era exatamente um sacrifício evitar aquele.

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