* will *
O inverno finalmente acabou. Nos últimos dias o clima estava mais ameno, mas quando amanheceu Will teve a certeza: a primavera havia chegado.
Quase não dormiu depois daquela situação com Dorothy. Havia um aperto em seu peito que indicava que ele tinha passado dos limites. Não deveria ter sido tão grosso com ela, afinal, ele também queria um recomeço para sua amizade, certo?
Prometeu a si mesmo que iria se desculpar.
10 anos era muito tempo pra se guardar rancor, disse a si mesmo. Muita coisa havia acontecido nesse tempo. Agora eles eram adultos, resolveriam as coisas como adultos.
Afinal, por que ele havia recusado tão prontamente assistir um filme com ela? Era só um filme. Na verdade seria bom pois eles não teriam que conversar e Will não queria ter que tocar naquele assunto, assim como também não queria que ela tocasse.
Okay, essa última parte era mentira.
Nunca iria admitir mas estava esperando que ela tocasse. Que ela pedisse desculpas. Que ela se explicasse. 10 anos se passaram e ele ainda esperava que ela tivesse a consideração de dar explicações.
A verdade é que Will não havia pensado muito nela nos últimos anos. Toda vez que sua mente dava indicações de voltar ao assunto "dorothy" ele fazia algo extremamente exaustivo até que ficasse caindo de cansaço e só acordasse no outro dia. É claro que havia coisas que o lembravam dela. Sempre houveram. A maldita tatuagem. Sua forma de lidar com isso foi fingir que não significavam nada.
A pequena parte de seu coração que ainda não tinha se recuperado estava enterrada. Bem fundo.
Como se nem existisse. Nem Dorothy nem qualquer outra pessoa chegaria até lá.Exatamente por esse motivo era melhor que o passado ficasse onde deveria estar: no passado.
* dorothy *
Ela estava na cozinha, fazendo o café da manhã quando ele saiu do quarto. A noite passada havia sido.. confusa. Desde que chegou na cidade, Dorothy estava pensando sobre como faria para voltar a conviver com Will depois de tudo. No dia anterior chegou a conclusão de que ela deveria dar o primeiro passo, achou que demonstrar que gostaria de viver em harmonia com ele seria o incentivo de que ele precisava para poderem seguir em frente.
Mas havia calculado mal a situação. Pelo jeito, Will a odiava muito mais do que ela imaginava.
__ bom dia. __ disse ele, a trazendo de volta para a realidade.
Dorothy fez o melhor que pôde para esboçar seu melhor sorriso sem parecer falsa, e passou os ovos mexidos da frigideira para um dos pratos.
__ quer um também? __ perguntou, o olhando.
Viu a hesitação em seus olhos, mas para sua surpresa ele disse que sim.
Ela fez o dele, e só quando foi colocar em seu prato viu que ele encarava seu pescoço. Automaticamente levou a mão ao local, mas isso não fez os olhos dele saírem de lá.
A maldita tatuagem.
Dorothy engoliu em seco. A culpa apertou seu coração e não aguentou segurar. Abriu a boca para se explicar, mas Will negou com a cabeça. O estrago ja havia sido feito. Ele ja havia visto seu pescoço em branco. O lugar onde a tatuagem que haviam feito juntos deveria estar não tinha vestígio algum de ter sido tatuado alguma vez.
Desde que chegou, era inverno, e havia conseguido cobrir o pescoço com todo tipo de coisa. Nesta manhã estava mais quente, e acordou com tanta coisa na cabeça que nem prestou atenção no que deveria ter coberto. Agora estava arrependida. Não queria que ele visse aquilo.
Will, ao contrário dela, usava uma camiseta branca que não fazia nada para cobrir o início da tatuagem gêmea um pouco abaixo da mandíbula.
A fez se sentir mais culpada ainda.
Os dois comeram em silêncio. Dorothy conseguia escutar seu coração batendo forte no peito, na esperança de que ele dissesse alguma coisa. Qualquer coisa.
E ele disse.
__ você ja arrumou um emprego? __ perguntou.
Ela ficou atônita. Pelo visto William havia tirado o dia para a surpreender.
__ bom.. não exatamente. Fui chamada para uma entrevista em um lugar, mas com todo o caos da mudança nem consegui ir ver ainda.
As sobrancelhas de Will se arquearam. Ele ainda encarava seu pescoço em alguns momentos, mas era discreto com as olhadas.
__ uau. __ disse ele, pegando alguns pedaços de ovo com a colher__ praticamente acabou de chegar e já foi chamada? que otimo.
Dorothy sorriu. Ele estava abaixando a guarda. E estava feliz por ela. Mesmo depois de ver o espaço em branco em seu pescoço.
__ alguém da sua antiga cidade te recomendou? __ continuou ele.
Dorothy percebeu que mesmo ele sabendo onde ela morava antes, não falou o nome da cidade.
__ na verdade, uma amiga de infância minha trabalha nesse lugar. Nós mantínhamos contato, e ela me ofereceu o empreg..
Antes mesmo de terminar a frase ela soube que tinha falado demais. William não era bobo. Se era uma amiga de infância, significa que era do orfanato. O mesmo orfanato que ele também morou.
E ela havia mantido contato com a amiga. Mas não com ele.
Will estava parado olhando para o próprio prato. Dorothy estava procurando algo para dizer, mas não podia dizer a verdade.. e nada mais seria um motivo plausível. Então ficou quieta e aceitou a derrota.
De repente, ele se levantou. Não olhou nos olhos dela, mas segurou a costa da cadeira ao falar:
__ eu estava certo afinal.. não posso fazer isso.
O jeito que ele disse a última parte fez o coração de Dorothy apertar. Pensou em pedir desculpas, mas ele foi até a porta da sala e saiu.
Bom, o dia estava sendo uma maravilha.
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Flores, Cafés E Corações Partidos
RomanceWillian Anderson estava irritado. Seu colega de apartamento não o ajudava com as contas havia dois meses e logo os dois seriam expulsos do lugar. Tudo estava desabando. Trabalhando em dois empregos ele fazia de tudo para continuar tendo um teto para...