starry night ˒ sakuatsu

Capítulo único.

Sakusa já estava farto de tudo aquilo, não aguentava mais ter que passar por tantas coisas e ser obrigado a ouvir em silêncio, sua casa já estava lhe tirando completamente a sanidade e o fazia se sentir pequeno, um ninguém.

E talvez realmente fosse.

Em seus vinte e dois anos todas as coisas continuavam a dar errado e ele simplesmente não sabia mais como resolver os problemas que lhe perseguem.

Sempre que seus sentimentos estavam flor da pele e lhe causando uma angústia pior que o normal do dia a dia, suas manias de extrema organização e limpeza surgiam com intensidade, esse fato incomodava sua família e ele não se sentia confortável mais naquele lugar. Precisava respirar, precisava genuinamente de um refúgio de tudo aquilo e apenas por esse motivo, quando os pensamentos errados entorpeciam sua mente, ele decide vestir um moletom por cima do torço anteriormente nu, calçar os chinelos velhos que encontrou e sair por ai. Talvez fosse um idiota de andar pelas ruas desertas as três da madrugada, mas ainda assim era o que ele precisava.

Sentiu que o turbilhão de sentimentos se acumulando em suas costas sumiu por um momento enquanto andava pela estrada, as mãos no bolso para se proteger do frio e apenas o silêncio da noite o acompanhando.

A luz da lua pode parecer nula na pele da maioria das pessoas, mas Kiyoomi sempre sentiu a calmaria lhe atingir enquanto as estrelas brilhavam na madrugada, sua pele ardia em excitação ao luar com a possibilidade de fazer alguma loucura, algo que nunca fez em toda sua vida. Sentia uma fagulha se acender na madrugada e esquecia todos os seus problemas. Entretanto, naquela noite, tudo parecia pior em sua mente, o peso ainda estava ali e a angústia também. Ao perceber que nem mesmo sua terapia natural e lunar estava adiantando, se questionou o que devia fazer. Estava a beira do desespero e sua mente lhe dizia péssimas sugestões do que fazer para resolver tudo aquilo. Era uma possibilidade, ele pensou. Acabaria com a agonia.

"Mas e se não acabar nem mesmo assim?"

Sakusa respirou fundo e passou as mãos pelos cabelos, nem mesmo o frio incomodava naquele ponto.

— Você podia me dizer o que fazer, não é? – Sakusa sorriu de si mesmo, estava a falar com a lua como se ela fosse lhe responder.

— A lua eu não sei, mas eu gostaria de lhe ajudar.

Kiyoomi se assustou, olhou para trás imediatamente a procura do dono daquela voz que surgiu em meio a escuridão e silêncio. Era apenas um homem.

Ele era loiro, com um corte de cabelo um tanto jovial, tinha uma postura que Sakusa julgou ser descolada e uma expressão como se estivesse deslumbrado, os lábios estavam entreabertos enquanto encarava Sakusa e ele manteve as mãos nos bolsos da jaqueta de couro preto, a calça jeans combinava perfeitamente com o coturno e as camisa branca escondida pelo agasalho. Kiyoomi sabia que aquelas vestes eram caras, tinha um certo conhecimento sobre moda e marcas e aquilo definitivamente era de grife, mesmo que simples. O loiro dono de olhos caramelos deu alguns passos até se aproximar de Kiyoomi e de perto parecia ainda mais encantado.

Sakusa não sabia como reagir ao homem que o encarava como se pudesse lhe ver nu de corpo e alma, como se soubesse de tudo em sua vida e estivesse pronto para lhe arrancar o resto de sanidade que ainda tinha.

— Quem é você? – o outro permaneceu em silêncio – Está me assustando.

— Peço perdão, não foi minha intenção – O homem misterioso pareceu se esforçar para sair de um transe, piscando algumas vezes e mudando completamente a postura para algo respeitável. – Eu estava me apaixonando.

— O que? Não entendi.

— Sou Miya Atsumu, a seu dispor!

O loiro agora nomeado fez uma reverência que deixou Sakusa intimidado, parecia uma realeza fazendo seus cumprimentos enquanto sorria. E uau, que sorriso.