Único

597 41 33
                                    

31/10 do ano de 851.

Era Halloween novamente.

Levi certamente não estava numa das suas noites incomuns de bom sono, a insônia o corroía. Fixando seu olhar no teto, ele pensava sobre o maldito acontecido, quase não escaparam vivos daquela merda de situação, perderam uma centena de soldados, com seu comandante incluso. Erwin havia sido um grande amigo para Levi, uma pessoa que continuaria viva em sua memória eternamente. Parecia assustador que os únicos veteranos restantes fossem ele e Hange, por falar nesta, ela deveria estar tão péssima quanto ele, era até perceptível, apesar da sua tentativa falha em disfarçar. Levi conhecia aquela mulher bem o bastante para notar a diferença do seu sorriso, que antes era tão alegre que o contagiava, levando borboletas ao seu coração. O brilho que tinha nos olhos, se foi junto com um deles.

Hange parecia distante, mesmo por perto. Imagine só quanta responsabilidade sobre suas costas, seu trabalho mais que dobrou após assumir seu novo cargo. O rosto da atual Comandante era pintado pela mais profunda olheira, o que só não ocupou destaque em sua face, graças ao tapa olho que ofuscava. Mas Levi percebia tudo, cada marca de expressão evidenciada em seu rosto graças ao terrível estresse em que a mulher sofria. Essa condição de Hange estilhaça o coração do homem mais forte da humanidade.

As coisas só se tornaram mais nebulosas quando uma memória floresceu na cabeça de Levi. No mesmo dia, há dois anos, Hange estava completamente diferente e isso era doloroso.

XX

31/10 do ano de 849.

Hora do diabo.

Um pequeno chuvisco guardava o QG da tropa de exploração, a maioria dos soldados já estariam no quinto ciclo do sono por terem chegado das festividades noturnas e estarem demasiadamente exaustos.

Com Levi não era diferente, ele estava dormindo profundamente, um evento raro e tanto. Porém, isso não se devia em virtude das festas, na verdade o soldado não compareceu ou sequer deixou o QG, devido uma dor de barriga terrível. Isso ao menos o ajudou, cansado de correr para o sanitário ele se deitou, apagando-se.

Seu sono era tão pesado, que não sentiu a brisa gelada, acompanhada por pingos de chuva caindo sobre seu corpo. O frio não o despertou, mas o quente sim.

Lábios sobre seu pescoço, e dentes afundando na carne, isso foi o suficiente para que Levi acordasse num sobressalto, agarrando o pulso do ser responsável por interromper seu descanso, puxando-o rudemente para a cama. Enquanto imobilizou o impostor usando seu próprio corpo, uma de suas mãos agarrou a faca em que mantinha debaixo do colchão, sendo mirada na jugular do sujeito. Sujeito esse... Tão perplexo quanto o Levi assim que o viu. Era Hange, um sorriso doloroso se formou na curva dos seus lábios.

— Hange? — ele pergunta, ainda confuso sobre estar em algum tipo de sonho maluco ou não. Já a mulher faz uma careta de dor, enfatizando que não poderia sequer abrir a boca com a superfície fria da lâmina contatando sua pele.

Levi retira a lâmina, se levantando, sem tirar os olhos da mulher estirada em sua cama. Hange se sentou apalpando o pescoço como se tivesse sido enforcada.

— O que diabos está fazendo aqui, óculos de merda? — questionou Levi, guardando a faca em cima da cômoda e cruzando os braços sobre o peito, em seguida. Ele se contraiu quando sentiu uma leve pontada de dor no seu pescoço, colocando a mão sobre, franzindo as sobrancelhas.

''O que essa maluca fez?''

Hange sorri diabolicamente ao ver ele tocando o lugar em que mordeu.

— Que merda você fez comigo? — ele voltou a fixar-se na figura dela. — E como entrou aqui? — neste momento, uma brisa mais forte invadiu o cômodo, jogando alguns pingos grossos sob os dois, as janelas balançavam, com um ranger. Levi, prontamente, afundou um dos joelhos na cama apoiando-se, reunindo as folhas da janela, unindo-as e travando.

Uma doce travessura - LevihanOnde histórias criam vida. Descubra agora