Laços - 10 anos depois (A História De Sam e Grizz)

Capítulo 4 - Através do Para-brisa

O que de mais irônico há em nosso mundo, é vermos pessoas que afirmam procurar a felicidade, que a buscam em livros e reflexões e perdem tempo aprendendo filosofias tolas, quando deveriam começar por uma análise ao seu próprio coração. É impossível encontrarmos a felicidade em algum lugar, se nós mesmos não estamos preparados para a recebermos e não dermos os passos certos em nosso interior. Eu, por exemplo, pensava um pouco em como encarava o meu dia a dia... Eu lamentava e resmungava sempre que acordava de manhã, ao invés de agradecer pela oportunidade de estar vivo, de ter aquelas pessoas na minha vida. Tentava fugir e me abater perante problemas, ao invés de os encarar como oportunidade de sentir o gosto de mais uma vitória. As coisas que vivia a cada momento não iriam mudar perante minha perspectiva, mas se eu sempre cultivar a atitude correta, elas me poderiam trazer os melhores resultados.

Por ser uma pessoa extremamente sincera e transparente, eu precisava falar sobre tudo que estava sentido para Grizz. Sua ausência me afetava de uma forma avassaladora e Josef estava começando a perceber que seus pais não estavam mais unidos como antes. Eu amava o homem com que eu me casei a cada partícula de próton do meu átomo, amava a família que ele me proporcionou. Contudo, até onde a felicidade era certeira? Será que era necessário perder tudo poder me encontrar novamente? Sentimentos de paixão são, na minha inevitável humilde opinião, nossa principal arma contra o ódio, mas até que ponto isso era palatável? As pessoas amam bem mais a expectativa do amor possível que o amor propriamente dito. Daí a intensidade dos impulsos bloqueados, os que estão impedidos de expansão e movimento na direção do objeto amado. Os "grandes amores" da literatura são grandes, não por serem amores, mas por serem impossíveis. Já os grandes amores da vida real só quem sente é que sabe. A impossibilidade de dimensionar um impulso afetivo carrega de energia a fantasia. E esta se encarrega de dar dimensão ao que o exercício da relação, talvez, tirasse. Na paixão impossível só estão as projeções do que idealizamos, pretendemos ou não conseguimos viver em nosso cotidiano. Daí ser fácil entender sua força, sua obsessiva presença na cabeça dos enamorados. É por isso, aliás, que só é musa quem é inatingível. Case-se com a sua musa e acordará com uma jararaca... Case-se com quem ama e será feliz. Quer se ver livre de uma paixão colossal? Vá viver com a pessoa objeto da paixão (observem, por favor, que não estou usando a palavra amor). Aliás, já está nos clássicos e, mesmo, antes destes, nos antigos: "A conquista enobrece e a posse avilta". Ou, como dizia Goethe: "Nas batalhas da paixão, ganha aquele que foge". Quantas vezes as relações humanas terminam ou se interrompem sem terem esgotado o potencial de possibilidades adivinhadas, intuídas, sentidas. Aí, o que não se esgotou clama por vir à tona e, muitas vezes, ameaça ocupar (e às vezes ocupa, efetivamente) todo o "ego". Não é por outra razão que o apaixonado é o maior dos egoístas. Ao dedicar tudo ao objeto da paixão, está é alimentando a própria necessidade, seja de sofrimento, de idealização, de felicidade ou fantasia. Entupido de impossibilidades, ele clama. E a isso muitos chamam amor. Mas amor é coisa muito diversa... Amor não clama nem reclama: amor dá.

Perdidos em minhas inertes fontes de pensamentos reflexivos, eu lembrava a todo o vapor, o quanto eu sentia saudades de Becca. Ela, por ser capricorniana e não monogâmica, com certeza me daria o conselho certo em relação a possível desistência de Grizz. Achava que nós três veríamos juntos para Nova York, mas ela desistiu da Nyada, casou-se com Gordie e ambos se mudaram para Ohio, onde vivem felizes junto com Luke, seu filhinho. Faz exatamente umas duas semanas desde que conversamos pela última vez, ela estava fazendo uma festa de aniversário para comemorar os 10 anos de Luke, entretanto, todavia, eu não pude ir pois tinha que cuidar de Josef, mas eu estava tão feliz por ela, pela família que construíra.