Capítulo 3

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Micaella

O doutor acabou de me dizer que tudo não passou de um susto e que não devo me preocupar, pois estou bem

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O doutor acabou de me dizer que tudo não passou de um susto e que não devo me preocupar, pois estou bem. Confesso que pensei que morreria afogada. Um final trágico. Seria uma morte horrível e dolorosa para aqueles que iriam me perder, principalmente a minha mãe. Se ela sonhar com esse pequeno acidente, é capaz de enlouquecer somente por imaginar as graves consequências que ele causaria. Pensando bem, é melhor eu não contar para ela, nem para Giulia. As duas ficariam enlouquecidas.
Respiro fundo, fazendo os exercícios de respiração que o doutor me ensinou. Estou apreensiva com Mariza. Ela vai me matar e não vai se esquecer desse acidente. Provavelmente, irá querer descontar do meu dinheiro. Isso se não descontar todo de uma vez, sem se importar com o bom serviço que apresentei até o momento em que caí na piscina.
— Qualquer coisa, basta entrar em contato comigo. Este é o meu cartão. — Muito gentilmente, o médico se levanta, indo na direção do belo homem de olhos azuis, que foi arrogante comigo. Somente agora percebi a sua presença no quarto.
Parece que estou mais sem fôlego neste instante do que quando estava na piscina, tentando não me afogar. Esse homem possui a beleza dos deuses gregos. Eu diria que é o mais bonito que já vi em toda a minha vida. Seus olhos azuis são penetrantes, de uma tonalidade profunda, escuros como o fundo do mar, misteriosos e sensuais; são de fazer cair o queixo. Estou praticamente babando com toda essa beleza exuberante. Ele é como o sol parado diante de mim e não consigo ver nada além ao seu redor, somente sua beleza, os ombros largos e os braços fortes, malhados. Oh, céus! Ele deve ter um tanquinho maravilhoso.
Observo-o apertar a mão do médico em agradecimento. É inevitável não estar presa ao seu olhar sedutor e devasso que está me fazendo ter sensações estranhas e, até então, desconhecidas. Eu já tive muitas paixões ao longo da minha vida, como o garoto do terceiro ano, que tinha uma tatuagem no braço esquerdo, outro que vi de passagem no shopping e os muitos maridos literários que conheci, mas nada se compara ao que estou sentindo agora. É possível que eu tenha me apaixonado à primeira vista por alguém que foi arrogante comigo e nada gentil? Deve ter entrado água em meu cérebro ou algo do tipo, porque não é possível que meu coração esteja batendo acelerado por causa destes olhos azuis que estão fitando os meus.
Sinto um choque, uma corrente elétrica passar pelas minhas veias, que pulsam freneticamente, queimando-me de uma maneira brutal. Engulo em seco quando o homem caminha e fica o mais próximo possível de mim. Não desviaria meu olhar do seu nem se um meteoro caísse dentro deste quarto agora. Ele está molhado, assim como eu, inclusive seus cabelos lisos, loiro-claros, e o terno caríssimo que ele fez questão de me dizer que eu nunca poderia pagar. Cretino, ousado! Será que ele pulou na piscina para me salvar? Foi ele quem fez respiração boca a boca em mim?
O doutor me disse que os primeiros socorros foram prestados com muita agilidade. Ou seja, se não fosse por esse homem, que me tirou da piscina, talvez eu teria morrido, pois nenhuma daquelas pessoas tinha notado que eu estava me debatendo e me afogando. Se ele realmente me salvou, meu coração se enche de gratidão pelo seu ato. Apesar de tudo, mostrou-se ser muito generoso. Só de imaginar que estes lábios sedutores fizeram respiração boca a boca em mim, chamas se acendem, queimando todo o meu ser.
— O doutor me disse que você está bem. — A sua voz possui um grave rouco muito sensual, que me causa arrepios.
Jesus amado! Ele é realmente incrível, exala poder e soberania. Seja lá quem for, eu queria saber ao menos o seu nome. Poderia lhe stalkear em um piscar de olhos e descobrir se é casado. Se bem que não está usando aliança e não há marca ou sinal de que uma já esteve em seu dedo anelar. Contudo, os casais de hoje em dia são mais modernos e não usam alianças o tempo todo, sendo que outros nem sequer a usam. O compromisso não está nesse objeto, e sim baseado no amor e no respeito.
Um leve grau de esperança me invade. Se ele não é casado, é mais um homem bonito dando o ar da graça por onde passa. Tem cara de pegador. Posso estar enganada, mas algo me diz que ele tem um beijo vagabundo, daqueles de tirar o fôlego, uma pegada sensual e envolvente. É tão bonito, que aposto que muitas mulheres se jogam aos seus pés, querendo estar na sua cama. E, com certeza, ele leva todas lá para fazer safadezas. Não nega ser um sedutor nato. Mesmo assim, eu adoraria passar pela sua cama também.
Droga! Que pensamentos são esses? Quem já se viu? Como se eu tivesse coragem de me envolver com alguém que não conheço e por quem não sinto nada. Oh, céus! Estou ficando doidinha. Para estar com um homem, entregue de corpo e alma, eu tenho que estar muito apaixonada e confiar plenamente nesse parceiro. O meu cérebro congelou, por isso estou pensando em tantas besteiras.
— Sim, eu me sinto bem. Tão bem, que preciso voltar para o trabalho. — Fico sentada sobre a cama com os pés tocando no chão, que está gelado.
— Trabalhar? Não, você vai para casa descansar.
— Não posso. Eu preciso terminar de servir na festa.
— Como você quer trabalhar, se nem consegue tocar no chão direito? Espere. Está com frio. Pedi uma roupa fresca para você, pois não quero que fique doente.
— Como se você se importasse. Foi tão grosseiro comigo, que não sei por que está aqui, e ainda pediu uma roupa seca para mim. Não precisa. — Não perdi a chance de lhe dizer tudo que estava entalado na minha garganta. Ele foi grosso, então mereceu ouvir isso, por mais lindo e sexy que seja.
Não consigo controlar a minha língua.
— Pois saiba que eu me importo. — Ele me deixou completamente sem resposta. Tenho certeza de que não sou a única que ele deixa assim. — Eu estou responsável por garantir que nada de errado aconteça nesta festa, ou os meus superiores poderão me jogar no olho da rua. Você me entende?
— Essa parte de ser demitido, sim. Digamos que minha superior vive sonhando com o dia em que eu falhe, para me demitir por justa causa. Por isso devo voltar às minhas funções logo. — Minhas sapatilhas estão molhadas, mas, mesmo assim, calço-as e me coloco de pé.
— Peço desculpa se fui grosseiro.
Tomada pela surpresa, arregalo os olhos. Estou acostumada com as pessoas sempre pisando em mim, mas nunca se desculpando pelas grosserias.
— Tem água demais no meu ouvido? Ou eu escutei um pedido de desculpa? — Cruzo os braços.
Ele esboça um sorriso modesto, porém muito lindo e safado.
— Escutou bem. Estou pedindo desculpa. Como eu disse, fui grosseiro devido à tensão que estava à minha volta. Meus superiores são muito exigentes.
— Entendo. E, desculpa aceita.
Ele conseguiu derrubar minhas estruturas. Não posso evitar o tremor que estou sentindo agora. Alerta vermelho! Minha mãe sempre me alertou sobre homens, para que eu nunca me deixasse levar por sorrisos bonitos e olhos azuis. E agora estou hipnotizada por um par de olhos azuis. Ele é muito bonito, como um fogo que se espalha pelo meu corpo. Minha querida mãe é marcada pela dor do abandono, porque o meu pai a abandonou grávida. Nunca o perdoamos. Essa é uma traição dolorosa.
— Se eu puder fazer algo para a compensar por esse imprevisto... — Vendo que não estou compreendendo aonde ele quer chegar, ele sorri de lado mais uma vez. Que tentação, meu Deus! — Os meus chefes querem evitar qualquer escândalo pelo incidente da piscina.
— Por acaso eles pensam que eu vou armar um barraco e pedir uma indenização porque tropecei e caí em uma piscina? — acabei sendo debochada. Essa gente pensa que todo pobre é interesseiro.
— Sabe como é esse pessoal que vive de mídia.
— Posso imaginar. Mas diga aos seus chefes, seja lá quantos forem, que não precisam se preocupar comigo. Agradeço por terem me trazido um médico, mas caí porque tropecei sozinha. Então, não foi culpa de ninguém além de mim. Eu me responsabilizo pelos meus atos. Eles podem dormir tranquilos, porque não vai haver nenhum escândalo.
O homem parece surpreso com o que acabei de dizer e insiste, ainda preocupado:
— Um bônus será acrescentado ao seu pagamento.
— Olha, cara, eu estou muito a fim de ganhar uma boa grana, mas não do jeito errado. Já falei para não se preocuparem, não vai haver escândalos.
Que irritante. Por que eles pensam que sempre há alguém querendo chamar a atenção? Será que foi por causa do que a acompanhante dele disse de mim sobre isso?
— Se foi pelo que sua acompanhante, namorada, ou esposa disse sobre eu estar querendo chamar a atenção, não tem nada a ver com um escândalo, eu apenas não levo desaforo para casa, principalmente de pessoas que são arrogantes. — mais uma vez dei uma patada nele. Nunca perco a chance.
Sei que nunca mais o verei, por isso quero deixar minha marca. Se ele conseguir se lembrar de mim algum dia, que seja por eu ter lhe dito tudo que estou pensando em relação a ele.
— Você não vai me perdoar, nunca, pelo que eu disse, não é mesmo?
— Eu disse que aceitei suas desculpas.
— Por favor, ignore o que Paola falou sobre você. Ela só estava assustada. E, a propósito, ela não é minha esposa, nem minha namorada, é a minha irmã.
— Irmã? — acabei falando mais alto do que pensei. Droga! — Longe de mim ser preconceituosa, eu só quero dizer que vocês são diferentes. Mas isso não significa que não possam ser irmãos.
— Mães diferentes. A mãe dela era baiana e meu pai se apaixonou por ela. Sabe como é. Paola é minha única irmã. — Agora ele está me falando sobre sua família.
— Interessante. Deve ser legal ter uma irmã.
— Filha única? — mostrou-se interessado.
— Filha única. Somos apenas eu e minha mãe.
— Sinto muito pelo seu pai.
— Não sinta. Ele não está morto, é só um sem-vergonha que abandonou a minha mãe grávida e nunca mais apareceu. O que é ótimo, pois ele poderia vir coberto de ouro, implorando pelo meu perdão, que eu não aceitaria. — expressei todo o meu ódio.
É errado odiar o próprio pai? Se você fizer essa pergunta a algum religioso, ele vai dizer que sim e que devemos perdoar; mas se a fizer para mim, direi que não é errado. Errado é um pai abandonar um filho e o desprezar como se ele fosse algo descartável.
— Olha eu te enchendo com meus problemas. Desculpa.
— Pode expressar tudo que está sentindo. De alguma forma, estou lhe devendo, por ter sido arrogante com uma menina tão linda.
Essa foi a segunda vez que ele disse que sou linda. Meu coração acelera como nunca antes e eu tento salivar, porém não consigo. Minha garganta secou de repente. Se o seu propósito era me deixar sem jeito, conseguiu.
— Você não está em dívida comigo. Se foi a pessoa que me tirou do fundo da piscina, eu que estou em débito com você.
— Sim, eu fui esse homem. E, a propósito, sou Kauã.
— Micaella. Mas todo mundo me chama de Mica. — Por que eu lhe disse meu apelido? Agora estou perturbada. Tenho certeza de que estou.
Meu Deus! Preciso sair daqui antes que me atire em seus braços.
— Um nome tão bonito quanto a pessoa que o carrega. Você é muito bonita, Micaella. Sabia disso?
Abro a boca por uns instantes. Ele só pode estar zombando da minha pessoa. Não é possível que eu esteja passando por isso. É inacreditável o dom que as pessoas têm de ferir as outras sem se importar com os sentimentos delas. Nunca tinham ido tão longe, como ele está indo agora. Desta vez não tem perdão. Eu não admito ser motivo de chacota para ele, nem para ninguém. E eu acreditando na sua boa educação repentina. Iludida.
— Meu Deus! Agora você está tirando onda com minha cara. Diga-me o que eu fiz para merecer primeiro sua arrogância e, agora, ouvir seus deboches. — Uma lágrima solitária escorre pela minha face.
Nem ele, nem ninguém tem o direito de debochar de mim. Não mereço tamanha ofensa. Ora! Como se ele fosse encontrar beleza em mim, vestida como garçonete, diante de tantas mulheres lindas, cobertas por joias, na festa.
— O quê? Micaella, eu não estou ridicularizando você. Pelo contrário. Estou enaltecendo a sua beleza. Perdão se falei algo que não gostou, apenas não pude me conter diante de tanta beleza. Eu não quero ser arrogante, só estou hipnotizado pelos seus olhos azuis.
Kauã não parece estar mentindo. Não há ar de deboche em sua face. Como eu pude ser tão tonta, a ponto de ele estar precisando me dar explicações? Ou ele é muito bom com as palavras e em me convencer de que está sempre certo ou eu sou muito tola e burra para cair no seu joguinho. Se é que há um jogo por trás disso. Quisera eu poder saber de tudo. Mas, infelizmente, nós, mortais, nunca sabemos de nada.
— Por favor, pare de brincadeiras. — agora ele me fez gaguejar.
Ninguém nunca me fez isso antes, nenhum dos garotos de quem já gostei.
— Eu não sou homem para brincadeiras, Mica. — chamou-me pelo meu apelido, deixando meu coração derretido com o seu modo de falar. — Quando digo que estou hipnotizado pelos seus olhos azuis, não estou mentindo. E não é somente eles que estou apreciando. — O que mais ele está apreciando? A resposta vem em seguida. — Eu gostaria de poder beijar os seus lábios rosados.
Kauã quer me beijar? Como ele quer me beijar? Acabamos de nos conhecer.
Engulo em seco pela milésima vez somente depois de ter passado alguns minutos em sua companhia. Minha respiração está fora do ritmo, descompassada. Mais uma vez, ele me deixou sem resposta, paralisada diante de sua exuberância e do vigor de sua postura, exalando uma beleza fascinante, a qual estou tendo o privilégio de estar controlando.
Tenho a sensação de que ele se aproximou mais de mim com o intuito de me beijar. E agora? O que farei?
— E, então, Micaella... Eu posso beijar você? — perguntou, ficando a poucos centímetros de mim. Arregalo os olhos, que já são grandes, agora assustados. — Você quer ser beijada? — Sua mão grande e macia toca em minha bochecha.
Engulo em seco. Nunca me tocaram com tanta intensidade, como ele.
— Eu...
— Acho que sua resposta é "sim". — ele disse, convencido, diante do meu silêncio. Não estou conseguindo falar devido ao nervosismo que se apodera de mim.
Seus lábios sedutores parecem possuir alguma espécie de ímã, que puxam os meus para junto deles. Ao menos essa é a sensação que tenho. Primeiro sinto como se estivesse em um sonho, depois sinto que estou despertando aos poucos. Não sei dizer o que mudou. Como posso permitir que sua boca tome a minha? Um beijo avassalador aniquila todas as minhas defesas e eu me mantenho segura do que estou fazendo. Sua língua é bastante habilidosa, invadindo toda a minha boca. Eu nem sei o que estou fazendo ao certo, no começo fico meio perdida. Como eu disse, já beijei garotos, mas nunca com a volúpia de agora.
Solto um gemido abafado pelos seus lábios. Caramba! Como ele tem um hálito gostoso, com cheiro de menta e whisky. Seu perfume é amadeirado, no entanto não é forte; tudo é na medida certa. Kauã me deixa sem ar, e suas mãos em volta da minha cintura apertam meus quadris com muito desejo. É um menino levado, que sabe onde me tocar e consegue me fazer gostar disso, permitindo que ele me tome nesse beijo arrebatador e gostoso.
Eu nunca tinha sido beijada assim. É delicioso e me faz sentir um calor na minha intimidade. Nenhum homem jamais tinha me feito sentir calor lá. Mérito para Kauã. Ele é safado e vai descendo suas mãos grandes, querendo apertar meu bumbum. O beijo até permito, mas ele pegar na minha bunda assim, logo de cara? Quem pensa que eu sou? Uma vadia? Sem afastar nossos lábios, faço-o subir as mãos novamente e pegar apenas na minha cintura.
— Que beijo gostoso, linda. — sussurrou antes de morder meus lábios.
"Linda". Esse é meu novo apelido?
Sua língua continua enlaçando a minha. Como ele pode ser tão gostoso assim e me levar à loucura a ponto de me fazer imaginar nós dois sem roupas sobre esta cama, amando-nos com nossos corpos molhados. Isso está começando a ficar insano demais, devo me afastar.
Tento me afastar dele, porém ele me segura com mais firmeza.
— Não pare, está delicioso demais. — ele sussurrou e engoliu minha língua.
O calor do seu corpo aquece o meu e eu posso sentir algo duro na altura do meu umbigo, querendo me rasgar. É seu pênis rígido tomando forma? Caralho! Ele está excitado! Eu o deixei assim! Esta é a primeira vez que deixo um homem duro.
O som da porta sendo aberta nos faz parar o beijo. Olho, envergonhada, para a entrada. É a irmã dele. Como ele disse que era o nome dela? Paola, lembrei-me. Minhas bochechas estão coradas e meu rosto deve estar igual a um tomate vermelho por eu ter sido tomada pela vergonha dela nos flagrando. Posso encontrar um misto de raiva e indignação em sua face. Ela é muito bonita. Observando-a, noto que ambos não têm nada parecido. Kauã possui olhos azuis e cabelos loiro-claros, já Paola é morena, de olhos castanho-mel. São diferentes.
— Irmã, trouxe a roupa que pedi?
Ela olha para Kauã de uma maneira estranha, sorrindo sem graça.
— Sim, eu trouxe a roupa, meu irmão. — Ambos estão agindo de forma diferente. Talvez seja a forma de eles se tratarem. — Será que você pode sair, para a moça se trocar?
— Não há necessidade, eu já estou de saída. — respondi.
— Não, querida. Eu trouxe a roupa. Vista-se. Meu irmãozinho vai sair por alguns instantes.
Kauã olha para mim e eu quero enfiar a cabeça em um buraco para esconder a timidez. Se sua irmã não tivesse entrado neste quarto, eu nem sei o que teria acontecido entre nós dois. Provavelmente, eu já não seria mais virgem.
— Com licença. — Ele sai naturalmente, como se nada tivesse acontecido.
A mulher permanece no quarto, a irmã dele. Ela cruza os braços depois de colocar a sacola com a vestimenta sobre a cama.
— Meu irmão é rápido. — disse baixinho.
Eu não compreendi o que ela falou.
— O que disse?
— Nada, querida. Eu estava pensando alto. Pode se vestir. Eu já falei com sua superior, e você está dispensada. Irá receber pela noite trabalhada e também irá ganhar um bônus a mais.
— Eu disse ao seu irmão que não é necessário.
— É sim. Agora, troque-se. E não precisa devolver o que eu trouxe, cunhada. — Pisca para mim.
Não sei dizer se ela está feliz ou debochando de mim. A segunda opção parece ser a mais relevante.
Só aceitei a vestimenta porque estou tremendo de frio. Depois peço para a minha colega pegar minhas coisas e me entregar na saída. Quero sair deste lugar e não ter que ver esses irmãos, nunca mais. Mesmo que o irmão seja um gato que beija super gostoso, não quero me encontrar com eles novamente. Algo neles me deixa receosa. Posso estar ficando maluca, não sei dizer.
Troco-me rápido, rezando para eles não estarem no corredor. Deus atendeu as minhas preces. Estou no quinto andar. Pego o elevador até a recepção, por onde passo despercebida até a saída, e encontro minha colega, que me entrega minhas coisas, minha mochila, que estava no armário. Agradeço-a e vou embora o mais depressa que consigo.
Saber que nunca mais o verei me deixa desanimada sem motivos. Preciso parar de pensar nele.
Estou passando pelo calçadão, pela orla mais bela de João Pessoa. Os coqueiros balançam suas folhas por conta da friagem. Estou usando um vestido até a altura dos joelhos. Achei que ele ficou um pouco apertado, entretanto é melhor do que minhas roupas molhadas.
Caminho depressa, quando ouço alguém chamar pelo meu nome.
— Micaella!
Será que é assalto? Ando quase correndo. Um bandido não chamaria pelo meu nome. A menos que fosse uma assombração. Contudo, eu não acredito nessas coisas. Mas, ainda assim, estou quase correndo. Quando escuto meu nome pela segunda vez, um anjo se coloca na minha frente, fazendo-me parar de caminhar. É Kauã, lindo e imponente. O que ele veio fazer atrás de mim?
— Espera, espera! — Encaro seus olhos azuis. Ele correu para me alcançar. — Por que saiu assim, apressada, sem se despedir?
— Oi? Acabamos de nos conhecer. O que você quer que eu faça? Que saia por aí te procurando para dar tchau?
— Calma. Não precisa ser grosseira. Eu fiz algo que a irritou?
— Não, cara, você não fez nada. Olha... Já é tarde, eu preciso ir para casa.
— Eu te levo para casa. — ofereceu.
— Você tá louco? Eu não vou chegar em casa com um homem. Você pode ser perigoso, um assassino, um maníaco.
Eu não havia pensado nisso até agora. E se ele estiver querendo me machucar? Não há ninguém por quem eu possa gritar.
— Se eu fosse alguém perigoso, já teria obrigado você a vir comigo. Estamos somente nós dois, sozinhos. Estou sendo apenas gentil. Quero te levar para casa.
— Não, obrigada. Eu já estou quase chegando ao ponto de ônibus.
Se ele fosse perigoso, já teria me machucado.
— Deixe-me te acompanhar até o ponto.
— Não. — falei na defensiva.
— Está fugindo de mim? Não gostou do nosso beijo?
— Gostei. Digo... Eu... — Nervosa, pigarreio. — Está tarde. Tchau.
— Eu vou encontrá-la, Micaella, nem adianta fugir. Você ainda será minha namorada. — gritou a última parte.
Já estou longe o suficiente para sorrir como uma boba. Ele quer namorar comigo?
Estava tão no mundo da lua, que não notei quando ele me alcançou, apenas notei quando se colocou em minha frente, deixando-me sem reação, e me tomou em um beijo quente e provocador. Desta vez Kauã me faz imaginar nós dois transando sobre a areia do mar, no silêncio da noite. Ele me deixa embriagada com seu perfume e está me ganhando somente no beijo. E que beijo, Brasil. Rendo-me em seus braços. Essa batalha já está perdida.
Esse homem sabe como me levar para o céu. Não posso permitir que me tome assim.
Eu me afasto dele, e o seu sorriso é safado ao me encarar. É um devasso.
— Eu preciso ir, ou perderei o ônibus.
— Me passa o seu número.
— Você não disse que me encontraria? Boa sorte.
Posso estar cometendo a maior loucura deste mundo, mas se ele realmente tiver boas intenções comigo, fará de tudo para me encontrar. Olho para trás mais uma vez antes de subir no ônibus. Ele fica parado, de longe, observando-me. O sabor da sua boca ainda está na minha e levará algum tempo para sair dela, principalmente da minha cabeça. Kauã me deixou marcada de um jeito que não sei se serei capaz de esquecê-lo.
O homem está mesmo a fim de mim? Nós nos vimos uma única vez para bastar que os nossos corações queiram um ao outro? Espero não me arrepender disso.

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